2011-08-13 11:08:17

SANTUÁRIOS SÃO ESPAÇO PARA A NOVA EVANGELIZAÇÃO


Cidade do Vaticano, 13 ago (RV) - “Mesmo na sociedade secularizada de nossos dias, os santuários continuam sendo um lugar privilegiado em que o homem, peregrino na terra, experimenta a presença amorosa e salvífica de Deus”. É o que afirma a Carta da Congregação para o Clero enviada a todos os reitores de santuários do mundo. O Prefeito da Congregação, Dom Mauro Piacenza, explica à RV:

“O principal objetivo desta carta aos santuários é inserir-se no grande movimento de nova evangelização ao redor do qual a Igreja está se unindo. Queremos concentrar a atenção nestes lugares que Paulo VI chamava ‘clínicas do espírito’, propiciar o encontro com o Senhor, a revisão de nossas vidas. Por isso, pedimos aos reitores dos santuários e a seus agentes de pastoral que valorizem os elementos de catequese e tudo o que possa facilitar a sua aproximação. Como exemplos, cito: uma missa bem feita, na qual se veja realmente a fé; os detalhes que favoreçam o recolhimento: cantos, silêncio, pregação atenta. Outro fator é o zelo com o local onde se encontra o Santíssimo Sacramento. O Tabernáculo deve estar numa posição confortável para o fiel que se aproxima. Ele deve se sentir bem para instaurar um diálogo fecundo, que pode oferecer conforto se está sofrendo ou até mesmo transformar sua vida”.

O Cardeal Piacenza recorda também o papel do confessionário, onde o fiel deve sentir o desejo de se abrir com Deus e receber sua misericórdia.

A carta prossegue dissertando sobre o ato da benção, o contato com os fiéis e suas famílias, o encontro... e a piedade popular, que há alguns anos, tem sido ‘estudada’ com respeito. Para o prefeito, seria um erro pastoral imenso subestimá-la ou ‘desvalorizá-la’.

Publicamos abaixo a íntegra da Carta da Congregação para o Clero, publicada em várias línguas, inclusive português e enviada aos ordinários das dioceses onde existem santuários.
(CM)


"Eminência / Excelência Reverendíssima,

No grande horizonte da nova evangelização, esta Congregação, competente in materia,
reserva-se o cuidado de transmitir, através da cortês mediação de Vossa
Eminência/Excelência, uma carta de encorajamento aos Reitores dos Santuários presentes
nessa circunscrição (cf. Anexo).

No decurso da história, os Santuários demonstraram-se como lugares maravilhosos,
usados pela Providência para a conversão, o sustento e o conforto de muitos. Ainda hoje,
estes podem continuar iluminando a muitos com a alegria da fé cristã e podem contribuir
para a sensibilização na escuta da chamada universal à santidade. Com tais recursos,
poderemos auxiliar humildemente a conter o secularismo e a incrementar a prática religiosa.

Auspiciamos, portanto, um renovado zelo aos sacerdotes encarregados da cura pastoral
dos Santuários, uma mais ampla compreensão da importância de se valorizar cada ocasião
para cuidar da liturgia, da catequese, da pregação, do atendimento às confissões, das
celebrações dos sacramentais e da própria arte sacra, para, assim, através de tantos detalhes,
oferecerem um auxílio a quem entra num Santuário, mesmo que só ocasionalmente.
Agradecendo-lhe por tudo o que fará para a difusão e valorização da referida carta,
aproveito a circunstância para reafirmar meus sentimentos de intenso afeto colegial
de Vossa Eminência/Excelência Reverendíssima dev.mo no Senhor
Mauro Card. Piacenza
Prefeito
Celso Morga Iruzubieta
Arc. tit. de Alba Marittima
Secretário
__________________________
Reverendos Reitores,
desejo dirigir a cada uma de V. Rev.mas minha mais cordial saudação, que extendo de
muito bom grado a todos que vos acompanham na cura pastoral dos Santuários, juntamente
com a expressão de minha mais sincera gratidão pela premurosa dedicação com a qual
quotidianamente atendeis às necessidades pastorais dos peregrinos que, de todas as partes
do mundo, acorrem sempre mais numerosamente aos lugares de Culto confiados à vossa
assistência.

Através desta Carta, faço-me antes de tudo intérprete dos sentimentos do Santo Padre
Bento XVI, que considera a presença dos Santuários como algo de grande importância,
sendo preciosos para a vida da Igreja, porque, enquanto meta de peregrinação, são,
sobretudo, lugares «de atração, que congregam um crescente número de peregrinos e
turistas religiosos, alguns dos quais se encontram em situações humanas e espirituais
complexas, um tanto distantes da vivência da fé e com uma débil pertença eclesial» (Carta
por ocasião do II Congresso Mundial de Pastoral de Peregrinações e Santuários – Santiago
de Compostela, 27-30 de setembro de 2010). O Beato Papa João Paulo II afirmava: «sempre
e em toda a parte, os santuários cristãos foram ou quiseram ser sinais visíveis de Deus, da
sua entrada na história humana» (Discurso aos Reitores de Santuários – 22 de janeiro de
1981). Os santuários, por isso, são «sinal de Cristo vivo no meio de nós, e os cristãos
reconheceram neste sinal a iniciativa do amor de Deus vivo pelos homens» (Pontifício
Conselho para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes, O Santuário. Memória, presença e
profecia do Deus vivo. 08.05.1999, n. 5)

Consciente, então, do valor peculiar que os santuários têm na experiência de fé de
cada cristão, a Congregação para o Clero, competente in materia (cf. João Paulo II,
Constituição Apostólica Pastor bonus – 28.06.1988, art. 97, 1º), intende propor à vossa
atenção algumas considerações destinadas a dar um impulso mais renovado e eficaz às
atividades ordinárias da pastoral que neles se realiza. Num clima de difuso secularismo, o
santuário continua, de fato, ainda em nossos dias, a representar um lugar privilegiado, no
qual o homem, peregrino nesta terra, faz a experiência da presença amorosa e salvífica de
Deus. Nesse, encontra um espaço fecundo, distante dos afãs quotidianos, onde possa
recolher-se e reabastecer-se de vigor espiritual para retomar o caminho de fé com maior
ardor, e procurar, encontrar e amar Cristo na vida ordinária, no meio do mundo.

Qual é o coração das atividades pastorais em um Santuário? A normativa canônica a
respeito destes lugares de culto, com profunda sabedoria teológica e experiência eclesial,
prevê que, nesses, «ofereçam-se aos fiéis meios de salvação mais abundantes, anunciando
com diligência a palavra de Deus, incentivando adequadamente a vida litúrgica,
principalmente com a Eucaristia e a celebração da penitência, e cultivando as formas
aprovadas de piedade popular» (can. 1234, § 1). A norma canônica, traçando, então, uma
preciosa síntese da pastoral específica dos Santuários, fornece um interessante ensejo para
refletir brevemente acerca de alguns elementos fundamentais que caracterizam o ofício que
a Igreja vos confiou.

1. Anúncio da Palavra, oração e piedade popular
O santuário é um lugar no qual a Palavra de Deus ressoa com singular potência. O
Santo Padre Bento XVI, na Exortação Apostólica pós-sinodal Verbum Domini, de recente
publicação (30.09.2010), reafirma que a Igreja «funda-se sobre a Palavra de Deus, nasce e
vive dela» (n. 3). A Igreja é a “casa” (cf. ibidem, n. 52) na qual a Palavra divina é acolhida,
meditada, anunciada e celebrada (cf. ibidem, n. 121). Isto que o Pontífice diz sobre a Igreja
pode analogamente ser afirmado acerca do Santuário.

O anúncio da Palavra assume uma importância essencial na vida pastoral do Santuário.
Os ministros sagrados têm, portanto, a incumbência de preparar tal anúncio, na oração e na
meditação, filtrando o conteúdo do anúncio com o auxílio da Teologia espiritual, na escola
do Magistério e dos Santos. As fontes principais de sua pregação serão a Sagrada Escritura e
a Liturgia (cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Sacrosanctum Concilium,
04.12.1963, n. 35), às quais se unem o precioso Catecismo da Igreja Católica e o seu
Compêndio. O ministério da Palavra, exercido de diversas formas e de acordo com o
depósito revelação, será tanto mais eficaz e incisivo quanto mais nascer do coração, na
oração, e for expresso mediante uma linguagem acessível e bela, que saiba mostrar
corretamente a perene atualidade do Verbo eterno.

A resposta humana a um fecundo anúncio da Palavra de Deus é a oração. «Os
santuários são, para os peregrinos à procura das suas fontes vivas, lugares excepcionais para
viver “em Igreja” as formas da oração cristã» (Catecismo da Igreja Católica [CEC],
11.10.1992, n. 2691).

A vida de oração desenvolve-se de diversos modos, entre os quais encontramos várias
formas de piedade popular, que sempre devem deixar um «espaço adequado à proclamação
e escuta da Palavra de Deus; de fato, “a piedade popular encontrará nas palavras da Bíblia
uma fonte inesgotável de inspiração, modelos insuperáveis de oração e fecundas propostas
de diversos temas”» (Verbum Domini, n. 65).
O Diretório sobre a piedade popular e a liturgia (Congregação para o Culto divino e a
Disciplina dos Sacramentos, 9 de abril de 2002) dedica um capítulo aos Santuários e às
peregrinações, aspirando «uma correta relação entra as ações litúrgicas e os exercícios de
piedade» (n. 261). A piedade popular é de grande importância para a fé, a cultura e a
identidade cristã de muitos povos. Essa é expressão da fé de um povo, «verdadeiro tesouro
do povo de Deus» (ibidem, n. 9), na Igreja e para a Igreja: para compreender bem esta idéia,
basta imaginar a pobreza que seria para a história da espiritualidade cristã do Ocidente a
ausência do “Rosário” ou da “Via Sacra”, bem como das procissões. São somente dois
exemplos, mas que são suficientemente evidentes para relevar a sua imprescindibilidade.
Realizando vosso ministério num Santuário, tendes freqüentemente a oportunidade de
observar os gestos de piedade, tão peculiares quanto expressivos, com os quais os
peregrinos manifestam visivelmente a fé que lhes anima. As múltiplas e variadas formas de
devoção, amiúde derivadas de tantas outras sensibilidades e tradições culturais,
testemunham o fervor intenso de uma vida espiritual alimentada por uma constante oração e
pelo íntimo desejo de aderir sempre mais estritamente a Cristo.

A Igreja, consciente da significativa incidência de tais manifestações religiosas na vida
espiritual dos fiéis, sempre reconheceu o valor delas e sempre respeitou suas genuínas
expressões. Antes, também mediante os ensinamentos dos Romanos Pontífices e dos
Concílios, as recomendou e favoreceu. Ao mesmo tempo, lá onde a Igreja reconheceu
atitudes ou mentalidades incongruentes com um senso religioso sadio, advertiu a
necessidade de intervir, purificando tais atos de elementos desviantes ou oferecendo
meditações, cursos, formações, etc. A piedade popular, de fato, somente se estiver radicada
numa originária tradição católica, poderá ser locus fidei, fecundo instrumento de
evangelização, no qual também os elementos da cultura ambiental indígena poderão
sinergicamente encontrar acolhimento e dignidade.

Como responsáveis pela pastoral dos Santuários, então, é vosso dever instruir os
peregrinos sobre o caráter absolutamente premente que a celebração litúrgica deve assumir
na vida de cada fiel. A prática pessoal de formas de piedade popular não deve
absolutamente ser dificultada ou rejeitada, antes, deve ser favorecida, mas não pode
substituir a participação no culto litúrgico. Tais expressões, de fato, ao invés de se
contraporem à centralidade da Liturgia, devem aproximar-se desta e serem sempre
orientadas a esta. É, de fato, na celebração litúrgica dos Sacros Mistérios que se exprime a
oração comum de toda a Igreja.

2. Misericórdia de Deus no sacramento da Penitência
A memória do amor de Deus, que se faz presente de modo eminente no santuário,
conduz ao pedido de perdão pelos pecados e ao desejo de implorar o dom da fidelidade ao
depósito da fé. O Santuário é, igualmente, um lugar da permanente atualização da
misericórdia de Deus. É um lugar hospitaleiro no qual o homem pode ter um encontro real
com Cristo, experimentando a Verdade do seu ensinamento e do seu perdão para aproximarse
dignamente e, portanto, frutuosamente, da Eucaristia.
Para tal finalidade, convém favorecer e, onde for possível, intensificar a presença
constante de sacerdotes que, com ânimo humilde e acolhedor, dediquem-se generosamente à
escuta das confissões sacramentais. Na administração do sacramento do Perdão e da
Reconciliação, os confessores, que agem como «sinal e instrumento do amor misericordioso
de Deus para com o pecador» (CEC, n. 1465), ajudem os penitentes a experimentarem a
ternura de Deus, a perceberem a beleza e a grandeza de Sua bondade e a redescobrirem nos
próprios corações o desejo último da santidade, vocação universal e meta última para cada
fiel (cf. Congregação para o Clero, O Sacerdote ministro da misericórdia divina,
09.03.2011, n. 22).

Os confessores, iluminando a consciência dos penitentes, ponham também em
evidência o vínculo estreito que liga a Confissão sacramental a uma nova existência,
orientada a uma decidida conversão. Por isso, exortem os fiéis a aproximarem-se deste
sacramento com regular freqüência e ardente devoção, afim de que, sustidos pela graça que
nele é doada, possam alimentar constantemente os seus fiéis propósitos de adesão a Cristo,
progredindo na perfeição evangélica.

Os ministros da Penitência sejam disponíveis e acessíveis, cultivando uma atitude
compreensiva, acolhedora e encorajadora (cf. Congregação para o Clero, O Sacerdote
ministro da misericórdia divina, nn. 51-57). Para respeitar a liberdade de cada fiel e também
para favorecer a plena sinceridade pessoal em foro sacramental, é oportuno que estejam
disponíveis, em locais apropriados (por exemplo, possivelmente, numa Capela da
Reconciliação), alguns confessionários providos de grade fixa. Como ensina o Beato Papa
João Paulo II na Carta Apostólica Misericordia Dei (07.04.2002): «a sede para as confissões
é disciplinada com normas estabelecidas pelas respectivas Conferências Episcopais, as quais
deverão garantir que aquela esteja colocada “em lugar patente” e seja também “munida de
grade fixa”, permitindo assim aos fiéis, e aos mesmos confessores, que o desejem, seu livre
uso» (n. 9, b – cf. Can. 964, § 2; Pontifício Conselho para a Interpretação dos textos
Legislativos, Responsa ad propositum dubium: de loco excipiendi sacramentales
confessiones [7 de julho de 1998]: AAS 90 [1998] 711; cf. O Sacerdote ministro da
misericórdia divina, n. 41).

Os ministros, ademais, ocupem-se de inculcar a compreensão dos frutos espirituais
derivados da remissão dos pecados. O sacramento da Penitência, de fato, «leva a uma
verdadeira “ressurreição espiritual”, à restituição da dignidade e dos bens próprios da vida
dos filhos de Deus, o mais precioso dos quais é a amizade do mesmo Deus» (CEC, n. 1468).
Considerando-se o fato de que os Santuários são locais de verdadeira conversão, pode
ser oportuno que se reforce a formação dos confessores para a atenção pastoral daqueles que
não respeitaram a vida humana desde a concepção até o seu término natural.
Os sacerdotes, além disso, ao dispensarem a misericórdia divina, cumpram
devidamente este peculiar ministério aderindo fielmente ao genuíno ensinamento da Igreja.
Sejam bem formados na doutrina e não transcurem a atualização periódica a respeito das
questões atinentes, sobretudo, ao âmbito moral e bioético (cf. CEC, n. 1466). Também no
campo matrimonial, respeitem tudo o que o Magistério da Igreja ensina autorizadamente.
Evitem, portanto, em sede sacramental, manifestar doutrinas privadas, opiniões pessoais ou
avaliações arbitrárias que não estejam em conformidade com aquilo que a Igreja crê e
ensina. Para sua formação permanente, será útil encorajar-lhes a participar de cursos
especializados, tais como aqueles que, por exemplo, são organizados pela Penitenciaria
Apostólica e por algumas Universidades Pontifícias (cf. O Sacerdote ministro da
misericórdia divina, n. 63).

3. A Eucaristia, fonte e cume da vida cristã
A Palavra de Deus e a celebração da Penitência estão intimamente unidas à Santa
Eucaristia, mistério central no qual «está contido todo o tesouro espiritual da Igreja, isto é, o
próprio Cristo, a nossa Páscoa» (Concílio Ecumênico Vaticano II, Decreto Presbyterorum
ordinis, 07.12.1965, n. 5). A celebração Eucarística constitui o coração da vida sacramental
do Santuário. Nessa, o Senhor se doa a nós. Os peregrinos que visitam os santuários sejam,
então, conscientizados de que, se acolherem confiantemente o Cristo eucarístico no próprio
íntimo, Ele oferece-lhes a possibilidade de uma real transformação da existência.
A dignidade da celebração Eucarística seja também posta em evidência mediante o
canto gregoriano, polifônico ou popular (cf. Sacrosanctum Concilium, nn. 116 e 118); mas
também selecionando adequadamente, tanto os instrumentos musicais mais nobres (órgão
de tubos e afins – cf. ibidem, n. 120), como as vestes que são usadas pelos ministros,
juntamente com as alfaias utilizadas na Liturgia. Estas devem corresponder aos cânones de
nobreza e sacralidade. No caso das concelebrações, cuide-se de que haja um Mestre de
cerimônias, que não concelebre, e faça-se o possível para que cada concelebrante use a
casula ou a planeta, como paramento próprio do sacerdote que celebra os divinos mistérios.

O Santo Padre Bento XVI escrevera, na Exortação Apostólica pós-sinodal
Sacramentum Caritatis (22.02.2007) que «a melhor catequese sobre a Eucaristia é a própria
Eucaristia bem celebrada» (n. 64). Na Santa Missa, então, os ministros repitam fielmente o
que foi estabelecido pelas normas dos Livros litúrgicos. As rubricas, de fato, não
representam indicações facultativas para o celebrante, são, antes, prescrições obrigatórias
que ele deve observar cuidadosamente e com fidelidade em cada gesto ou sinal. Em cada
norma, de fato, subjaz um sentido teológico profundo, que não pode ser diminuído ou de
qualquer modo ignorado. Um estilo celebrativo que introduza inovações litúrgicas
arbitrárias, além de gerar confusão e divisão entre os fiéis, lesiona a veneranda Tradição e a
própria autoridade da Igreja, além de ferir a unidade eclesial.

O sacerdote que preside a Eucaristia não é, porém, um mero executor de rubricas
rituais. Antes, a intensa e devota participação interior com a qual celebrará os divinos
mistérios, acompanhada de uma oportuna valorização dos sinais e gestos litúrgicos
estabelecidos, plasmará não somente o seu espírito orante, mas se revelará fecunda também
para a fé eucarística dos fiéis, que tomam parte na celebração com a sua actuosa
partecipatio (cf. Sacrosanctum Concilium, n.14).

Como fruto de Seu dom na Eucaristia, Jesus Cristo permanece sob as espécies do pão.
As celebrações como a Adoração eucarística fora da Santa Missa, com a exposição e a
bênção com o Santíssimo Sacramento, manifestam aquilo que está no coração da
celebração: a Adoração, ou seja, a união com Jesus Hóstia.
A tal respeito, o Papa Bento XVI ensina que «na Eucaristia, o Filho de Deus vem ao
nosso encontro e deseja unir-Se conosco; a adoração eucarística é apenas o prolongamento
visível da celebração eucarística, a qual, em si mesma, é o maior ato de adoração da Igreja»
(Sacramentum Caritatis, n. 66), ao que acrescenta: «O ato de adoração fora da Santa Missa
prolonga e intensifica aquilo que se fez na própria celebração litúrgica» (ibidem).
Deste modo, seja dada notável importância ao lugar do Sacrário no Santuário (ou
também de uma capela destinada exclusivamente à adoração do Santíssimo) porque é, em si
mesmo, um “ímã”, convite e estímulo à oração, a adoração e a meditação, a intimidade com
o Senhor. O Sumo Pontífice, na mencionada Exortação, sublinha que a «correta localização
do mesmo ajuda a reconhecer a presença real de Cristo no Santíssimo Sacramento; por isso,
é necessário que o lugar onde são conservadas as espécies eucarísticas seja fácil de
individuar por qualquer pessoa que entre na igreja» (ibidem, n. 69).

O Sacrário, custódia eucarística, ocupe um lugar proeminente nos Santuários, assim
como também, ao recordar a relação entre arte, fé e celebração, faça-se atenção à «coerência
entre os elementos próprios do presbitério: altar, crucifixo, sacrário, ambão, cadeira»
(ibidem, n. 41). A reta colocação dos sinais eloqüentes de nossa fé, na arquitetura dos locais
de culto, favorece indubitavelmente, de modo particular nos santuários, a justa prioridade de
Cristo, pedra viva, antes da saudação à Virgem ou aos Santos justamente venerados naquele
lugar, dando, deste modo, uma ocasião a que a piedade popular possa manifestar as suas
raízes verdadeiramente eucarísticas e cristãs.

4. Um novo dinamismo para a evangelização
Enfim, apraz-me notar que os Santuários conservam ainda hoje um extraordinário
fascínio, testemunhado pelo número crescente de peregrinos que a eles se dirigem. Trata-se
não raramente de homens e mulheres de todas as idades e condições, com situações
humanas e espirituais complexas, um tanto distantes de uma sólida vida de fé, ou com um
frágil sentido de pertença eclesial. Visitar um Santuário pode ser para estes uma preciosa
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oportunidade de encontrar Cristo e redescobrir o sentido profundo da própria vocação
batismal ou para sentir o seu chamado salutar.
Por isso, exorto cada um de vós a dirigir um olhar particularmente acolhedor e
cuidadoso para com estas pessoas. Também a este respeito, não se faça nada
improvisamente. Com sabedoria evangélica e com ampla sensibilidade, seria altamente
educativo fazer-se companheiro de viagem destes peregrinos e visitantes, particularizando
as razões do coração e as expectativas do espírito. Em tal serviço, a colaboração de pessoas
com serviços específicos, dotadas de humanidade acolhedora, de perspicácia espiritual, de
inteligência teologal, será de proveito para que se introduzam os peregrinos no Santuário
como num evento da graça, lugar de experiência religiosa, de alegria reencontrada. A este
respeito, será conveniente considerar a possibilidade de criar encontros espirituais também
no período vespertino ou noturno (adorações noturnas ou vigílias de oração), lá onde a
afluência dos peregrinos seja de quantidade considerável e de fluxo permanente.
A vossa caridade pastoral poderá ser uma providente oportunidade e um forte estímulo
para que flua em seu coração o desejo de assumir um caminho de fé sério e intenso.
Mediante as várias formas de catequese, podereis dar a compreender que a fé, longe de ser
um vago e abstrato sentimento religioso, é concretamente tangível e exprime-se sempre no
amor e na justiça de uns para com os outros.

Deste modo, nos Santuários, o ensino da Palavra de Deus e da doutrina da Igreja, por
meio da pregação, da catequese, da direção espiritual, dos retiros, constitui uma ótima
preparação para acolher o perdão de Deus no sacramento da Penitência e para a participação
ativa e frutuosa na celebração do Sacrifício do altar.
A Adoração eucarística, a prática piedosa da Via Sacra e a oração cristológica e
mariana do Santo Rosário serão, com os sacramentos e as bênçãos votivas, testemunhas da
piedade humana e caminho com Jesus em direção ao amor misericordioso do Pai no
Espírito. Assim, a pastoral da família será revigorada e a oração ao “Senhor da messe afim
de que mande operários para a messe” (Mt 9,38) será providencialmente fecunda: santas e
numerosas vocações sacerdotais e de especial consagração!
Os Santuários, além disso, na fidelidade à sua gloriosa tradição, não esqueçam de
estarem comprometidos com as obras de caridade e com o serviço assistencial, na promoção
humana, na salvaguarda dos direitos da pessoa, no empenho pela justiça, segundo a doutrina
social da Igreja. Em torno destes, é conveniente que floresçam também iniciativas culturais,
tais como congressos, seminários, exposições, festivais, concursos e eventos artísticos sobre
temas religiosos. Deste modo, os Santuários se tornarão também promotores de cultura,
tanto erudita como popular, contribuindo, por sua parte, com o projeto cultural orientado em
sentido cristão pela Igreja.

Sendo assim, a Igreja, sob a orientação da Virgem Maria, Estrela da nova
evangelização, mediante a qual a própria Graça se comunica à humanidade necessitada de
redenção, se prepara, em todas as partes do mundo, para a vinda do Salvador. Os Santuários,
lugares aos quais se vai para buscar, para ouvir, para rezar, se tornarão misteriosamente os
lugares nos quais o homem poderá ser tocado por Deus através da Sua Palavra, do
sacramento da Reconciliação, da Eucaristia, da intercessão da Mãe de Deus e dos Santos.
Somente deste modo, entre as ondas e as tempestades da história, desafiando o pertinaz
sentido do relativismo imperante, estes serão fautores de um renovado dinamismo, em vista
da tão desejada nova evangelização.
Agradecendo ainda a cada Reitor pela dedicação e caridade pastoral, afim de que cada
Santuário seja sempre mais sinal da amorosa presença do Verbo Encarnado, asseguramovos
a mais cordial proximidade no Senhor, sob o olhar da Bem-aventurada Virgem Maria.

Vaticano, 15 de agosto de 2011
Assunção da Bem-Aventurada Virgem Maria

Mauro Card. Piacenza
Prefeito
Celso Morga Iruzubieta
Arc. tit. de Alba Marittima
Secretário








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