Carta da Congregação para o Clero aos Reitores dos Santuários
Com a data de 15 de Agosto de 2011 e assinada pelos respetivos Prefeito e Secretário,
o cardeal Mauro Piacenza e D. Celso Iruzubieta, a Congregação para o Clero acaba de
enviar aos Reitores de Santuários de todo o mundo uma Carta. Após as saudações protocolares
iniciais, afirma o texto:
“(…)Através desta Carta, faço-me antes de tudo
intérprete dos sentimentos do Santo Padre Bento XVI, que considera a presença dos
Santuários como algo de grande importância, sendo preciosos para a vida da Igreja,
porque, enquanto meta de peregrinação, são, sobretudo, lugares «de atração, que congregam
um crescente número de peregrinos e turistas religiosos, alguns dos quais se encontram
em situações humanas e espirituais complexas, um tanto distantes da vivência da fé
e com uma débil pertença eclesial» (Carta por ocasião do II Congresso Mundial de Pastoral
de Peregrinações e Santuários – Santiago de Compostela, 27-30 de setembro de 2010).
O Beato Papa João Paulo II afirmava: «sempre e em toda a parte, os santuários cristãos
foram ou quiseram ser sinais visíveis de Deus, da sua entrada na história humana»
(Discurso aos Reitores de Santuários – 22 de janeiro de 1981). Os santuários, por
isso, são «sinal de Cristo vivo no meio de nós, e os cristãos reconheceram neste sinal
a iniciativa do amor de Deus vivo pelos homens» (Pontifício Conselho para a Pastoral
dos Migrantes e Itinerantes, O Santuário. Memória, presença e profecia do Deus vivo.
08.05.1999, n. 5) Consciente, então, do valor peculiar que os santuários têm na
experiência de fé de cada cristão, a Congregação para o Clero, competente in materia
(cf. João Paulo II, Constituição Apostólica Pastor bonus – 28.06.1988, art. 97, 1º),
deseja propor à vossa atenção algumas considerações destinadas a dar um impulso mais
renovado e eficaz às atividades ordinárias da pastoral que neles se realiza. Num clima
de difuso secularismo, o santuário continua, de fato, ainda em nossos dias, a representar
um lugar privilegiado, no qual o homem, peregrino nesta terra, faz a experiência da
presença amorosa e salvífica de Deus. Nesse, encontra um espaço fecundo, distante
dos afãs quotidianos, onde possa recolher-se e reabastecer-se de vigor espiritual
para retomar o caminho de fé com maior ardor, e procurar, encontrar e amar Cristo
na vida ordinária, no meio do mundo. Qual é o coração das atividades pastorais
em um Santuário? A normativa canónica a respeito destes lugares de culto, com profunda
sabedoria teológica e experiência eclesial, prevê que, nesses, «ofereçam-se aos fiéis
meios de salvação mais abundantes, anunciando com diligência a palavra de Deus, incentivando
adequadamente a vida litúrgica, principalmente com a Eucaristia e a celebração da
penitência, e cultivando as formas aprovadas de piedade popular» (can. 1234, § 1).
A norma canónica, traçando, então, uma preciosa síntese da pastoral específica
dos Santuários, fornece um interessante ensejo para refletir brevemente acerca de
alguns elementos fundamentais que caracterizam o ofício que a Igreja vos confiou.
1.
Anúncio da Palavra, oração e piedade popular O santuário é um lugar no qual a
Palavra de Deus ressoa com singular potência. O Santo Padre Bento XVI, na Exortação
Apostólica pós-sinodal Verbum Domini, de recente publicação (30.09.2010), reafirma
que a Igreja «funda-se sobre a Palavra de Deus, nasce e vive dela» (n. 3). A Igreja
é a “casa” (cf. ibidem, n. 52) na qual a Palavra divina é acolhida, meditada, anunciada
e celebrada (cf. ibidem, n. 121). Isto que o Pontífice diz sobre a Igreja pode analogamente
ser afirmado acerca do Santuário. O anúncio da Palavra assume uma importância
essencial na vida pastoral do Santuário. Os ministros sagrados têm, portanto, a incumbência
de preparar tal anúncio, na oração e na meditação, filtrando o conteúdo do anúncio
com o auxílio da Teologia espiritual, na escola do Magistério e dos Santos. As fontes
principais de sua pregação serão a Sagrada Escritura e a Liturgia (cf. Concílio Ecumênico
Vaticano II, Constituição Sacrosanctum Concilium, 04.12.1963, n. 35), às quais se
unem o precioso Catecismo da Igreja Católica e o seu Compêndio. O ministério da Palavra,
exercido de diversas formas e de acordo com o depósito revelação, será tanto mais
eficaz e incisivo quanto mais nascer do coração, na oração, e for expresso mediante
uma linguagem acessível e bela, que saiba mostrar corretamente a perene atualidade
do Verbo eterno. A resposta humana a um fecundo anúncio da Palavra de Deus é a
oração. «Os santuários são, para os peregrinos à procura das suas fontes vivas, lugares
excepcionais para viver “em Igreja” as formas da oração cristã» (Catecismo da Igreja
Católica [CEC], 11.10.1992, n. 2691). A vida de oração desenvolve-se de diversos
modos, entre os quais encontramos várias formas de piedade popular, que sempre devem
deixar um «espaço adequado à proclamação e escuta da Palavra de Deus; de fato, “a
piedade popular encontrará nas palavras da Bíblia uma fonte inesgotável de inspiração,
modelos insuperáveis de oração e fecundas propostas de diversos temas”» (Verbum Domini,
n. 65). O Diretório sobre a piedade popular e a liturgia (Congregação para o Culto
divino e a Disciplina dos Sacramentos, 9 de abril de 2002) dedica um capítulo aos
Santuários e às peregrinações, aspirando «uma correta relação entra as ações litúrgicas
e os exercícios de piedade» (n. 261). A piedade popular é de grande importância para
a fé, a cultura e a identidade cristã de muitos povos. Essa é expressão da fé de um
povo, «verdadeiro tesouro do povo de Deus» (ibidem, n. 9), na Igreja e para a Igreja:
para compreender bem esta ideia, basta imaginar a pobreza que seria para a história
da espiritualidade cristã do Ocidente a ausência do “Rosário” ou da “Via Sacra”, bem
como das procissões. São somente dois exemplos, mas que são suficientemente evidentes
para relevar a sua imprescindibilidade. Realizando vosso ministério num Santuário,
tendes frequentemente a oportunidade de observar os gestos de piedade, tão peculiares
quanto expressivos, com os quais os peregrinos manifestam visivelmente a fé que lhes
anima. As múltiplas e variadas formas de devoção, amiúde derivadas de tantas outras
sensibilidades e tradições culturais, testemunham o fervor intenso de uma vida espiritual
alimentada por uma constante oração e pelo íntimo desejo de aderir sempre mais estritamente
a Cristo. A Igreja, consciente da significativa incidência de tais manifestações
religiosas na vida espiritual dos fiéis, sempre reconheceu o valor delas e sempre
respeitou suas genuínas expressões. Antes, também mediante os ensinamentos dos Romanos
Pontífices e dos Concílios, as recomendou e favoreceu. Ao mesmo tempo, lá onde a Igreja
reconheceu atitudes ou mentalidades incongruentes com um senso religioso sadio, advertiu
a necessidade de intervir, purificando tais atos de elementos desviantes ou oferecendo
meditações, cursos, formações, etc. A piedade popular, de fato, somente se estiver
radicada numa originária tradição católica, poderá ser locus fidei, fecundo instrumento
de evangelização, no qual também os elementos da cultura ambiental indígena poderão
sinergicamente encontrar acolhimento e dignidade. Como responsáveis pela pastoral
dos Santuários, então, é vosso dever instruir os peregrinos sobre o caráter absolutamente
premente que a celebração litúrgica deve assumir na vida de cada fiel. A prática pessoal
de formas de piedade popular não deve absolutamente ser dificultada ou rejeitada,
antes, deve ser favorecida, mas não pode substituir a participação no culto litúrgico.
Tais expressões, de fato, ao invés de se contraporem à centralidade da Liturgia, devem
aproximar-se desta e serem sempre orientadas a esta. É, de fato, na celebração litúrgica
dos Sacros Mistérios que se exprime a oração comum de toda a Igreja.
2. Misericórdia
de Deus no sacramento da Penitência A memória do amor de Deus, que se faz presente
de modo eminente no santuário, conduz ao pedido de perdão pelos pecados e ao desejo
de implorar o dom da fidelidade ao depósito da fé. O Santuário é, igualmente, um lugar
da permanente atualização da misericórdia de Deus. É um lugar hospitaleiro no qual
o homem pode ter um encontro real com Cristo, experimentando a Verdade do seu ensinamento
e do seu perdão para aproximar-se dignamente e, portanto, frutuosamente, da Eucaristia.
Para tal finalidade, convém favorecer e, onde for possível, intensificar a presença
constante de sacerdotes que, com ânimo humilde e acolhedor, dediquem-se generosamente
à escuta das confissões sacramentais. Na administração do sacramento do Perdão e da
Reconciliação, os confessores, que agem como «sinal e instrumento do amor misericordioso
de Deus para com o pecador» (CEC, n. 1465), ajudem os penitentes a experimentarem
a ternura de Deus, a perceberem a beleza e a grandeza de Sua bondade e a redescobrirem
nos próprios corações o desejo último da santidade, vocação universal e meta última
para cada fiel (cf. Congregação para o Clero, O Sacerdote ministro da misericórdia
divina, 09.03.2011, n. 22). Os confessores, iluminando a consciência dos penitentes,
ponham também em evidência o vínculo estreito que liga a Confissão sacramental a uma
nova existência, orientada a uma decidida conversão. Por isso, exortem os fiéis a
aproximarem-se deste sacramento com regular frequência e ardente devoção, afim de
que, sustidos pela graça que nele é doada, possam alimentar constantemente os seus
fiéis propósitos de adesão a Cristo, progredindo na perfeição evangélica. Os ministros
da Penitência sejam disponíveis e acessíveis, cultivando uma atitude compreensiva,
acolhedora e encorajadora (cf. Congregação para o Clero, O Sacerdote ministro da misericórdia
divina, nn. 51-57). Para respeitar a liberdade de cada fiel e também para favorecer
a plena sinceridade pessoal em foro sacramental, é oportuno que estejam disponíveis,
em locais apropriados (por exemplo, possivelmente, numa Capela da Reconciliação),
alguns confessionários providos de grade fixa. Como ensina o Beato Papa João Paulo
II na Carta Apostólica Misericordia Dei (07.04.2002): «a sede para as confissões é
disciplinada com normas estabelecidas pelas respectivas Conferências Episcopais, as
quais deverão garantir que aquela esteja colocada “em lugar patente” e seja também
“munida de grade fixa”, permitindo assim aos fiéis, e aos mesmos confessores, que
o desejem, seu livre uso» (n. 9, b – cf. Can. 964, § 2; Pontifício Conselho para a
Interpretação dos textos Legislativos, Responsa ad propositum dubium: de loco excipiendi
sacramentales confessiones [7 de julho de 1998]: AAS 90 [1998] 711; cf. O Sacerdote
ministro da misericórdia divina, n. 41). Os ministros, ademais, ocupem-se de inculcar
a compreensão dos frutos espirituais derivados da remissão dos pecados. O sacramento
da Penitência, de fato, «leva a uma verdadeira “ressurreição espiritual”, à restituição
da dignidade e dos bens próprios da vida dos filhos de Deus, o mais precioso dos quais
é a amizade do mesmo Deus» (CEC, n. 1468). Considerando-se o fato de que os Santuários
são locais de verdadeira conversão, pode ser oportuno que se reforce a formação dos
confessores para a atenção pastoral daqueles que não respeitaram a vida humana desde
a concepção até o seu término natural. Os sacerdotes, além disso, ao dispensarem a
misericórdia divina, cumpram devidamente este peculiar ministério aderindo fielmente
ao genuíno ensinamento da Igreja. Sejam bem formados na doutrina e não transcurem
a atualização periódica a respeito das questões atinentes, sobretudo, ao âmbito moral
e bioético (cf. CEC, n. 1466). Também no campo matrimonial, respeitem tudo o que o
Magistério da Igreja ensina autorizadamente. Evitem, portanto, em sede sacramental,
manifestar doutrinas privadas, opiniões pessoais ou avaliações arbitrárias que não
estejam em conformidade com aquilo que a Igreja crê e ensina. Para sua formação permanente,
será útil encorajar-lhes a participar de cursos especializados, tais como aqueles
que, por exemplo, são organizados pela Penitenciaria Apostólica e por algumas Universidades
Pontifícias (cf. O Sacerdote ministro da misericórdia divina, n. 63).
3. A
Eucaristia, fonte e cume da vida cristã A Palavra de Deus e a celebração da Penitência
estão intimamente unidas à Santa Eucaristia, mistério central no qual «está contido
todo o tesouro espiritual da Igreja, isto é, o próprio Cristo, a nossa Páscoa» (Concílio
Ecumênico Vaticano II, Decreto Presbyterorum ordinis, 07.12.1965, n. 5). A celebração
Eucarística constitui o coração da vida sacramental do Santuário. Nessa, o Senhor
se doa a nós. Os peregrinos que visitam os santuários sejam, então, conscientizados
de que, se acolherem confiantemente o Cristo eucarístico no próprio íntimo, Ele oferece-lhes
a possibilidade de uma real transformação da existência. A dignidade da celebração
Eucarística seja também posta em evidência mediante o canto gregoriano, polifônico
ou popular (cf. Sacrosanctum Concilium, nn. 116 e 118); mas também selecionando adequadamente,
tanto os instrumentos musicais mais nobres (órgão de tubos e afins – cf. ibidem, n.
120), como as vestes que são usadas pelos ministros, juntamente com as alfaias utilizadas
na Liturgia. Estas devem corresponder aos cânones de nobreza e sacralidade. No caso
das concelebrações, cuide-se de que haja um Mestre de cerimónias, que não concelebre,
e faça-se o possível para que cada concelebrante use a casula ou a planeta, como
paramento próprio do sacerdote que celebra os divinos mistérios. O Santo Padre
Bento XVI escrevera, na Exortação Apostólica pós-sinodal Sacramentum Caritatis (22.02.2007)
que «a melhor catequese sobre a Eucaristia é a própria Eucaristia bem celebrada» (n.
64). Na Santa Missa, então, os ministros repitam fielmente o que foi estabelecido
pelas normas dos Livros litúrgicos. As rubricas, de fato, não representam indicações
facultativas para o celebrante, são, antes, prescrições obrigatórias que ele deve
observar cuidadosamente e com fidelidade em cada gesto ou sinal. Em cada norma,
de fato, subjaz um sentido teológico profundo, que não pode ser diminuído ou de qualquer
modo ignorado. Um estilo celebrativo que introduza inovações litúrgicas arbitrárias,
além de gerar confusão e divisão entre os fiéis, lesiona a veneranda Tradição e a
própria autoridade da Igreja, além de ferir a unidade eclesial. O sacerdote que
preside a Eucaristia não é, porém, um mero executor de rubricas rituais. Antes, a
intensa e devota participação interior com a qual celebrará os divinos mistérios,
acompanhada de uma oportuna valorização dos sinais e gestos litúrgicos estabelecidos,
plasmará não somente o seu espírito orante, mas se revelará fecunda também para a
fé eucarística dos fiéis, que tomam parte na celebração com a sua actuosa partecipatio
(cf. Sacrosanctum Concilium, n.14). Como fruto de Seu dom na Eucaristia, Jesus
Cristo permanece sob as espécies do pão. As celebrações como a Adoração eucarística
fora da Santa Missa, com a exposição e a bênção com o Santíssimo Sacramento, manifestam
aquilo que está no coração da celebração: a Adoração, ou seja, a união com Jesus Hóstia.
A tal respeito, o Papa Bento XVI ensina que «na Eucaristia, o Filho de Deus vem ao
nosso encontro e deseja unir-Se conosco; a adoração eucarística é apenas o prolongamento
visível da celebração eucarística, a qual, em si mesma, é o maior ato de adoração
da Igreja» (Sacramentum Caritatis, n. 66), ao que acrescenta: «O ato de adoração fora
da Santa Missa prolonga e intensifica aquilo que se fez na própria celebração litúrgica»
(ibidem). Deste modo, seja dada notável importância ao lugar do Sacrário no Santuário
(ou também de uma capela destinada exclusivamente à adoração do Santíssimo) porque
é, em si mesmo, um “ímã”, convite e estímulo à oração, a adoração e a meditação, a
intimidade com o Senhor. O Sumo Pontífice, na mencionada Exortação, sublinha que a
«correta localização do mesmo ajuda a reconhecer a presença real de Cristo no Santíssimo
Sacramento; por isso, é necessário que o lugar onde são conservadas as espécies eucarísticas
seja fácil de individuar por qualquer pessoa que entre na igreja» (ibidem, n. 69). O
Sacrário, custódia eucarística, ocupe um lugar proeminente nos Santuários, assim como
também, ao recordar a relação entre arte, fé e celebração, faça-se atenção à «coerência
entre os elementos próprios do presbitério: altar, crucifixo, sacrário, ambão, cadeira»
(ibidem, n. 41). A reta colocação dos sinais eloqüentes de nossa fé, na arquitetura
dos locais de culto, favorece indubitavelmente, de modo particular nos santuários,
a justa prioridade de Cristo, pedra viva, antes da saudação à Virgem ou aos Santos
justamente venerados naquele lugar, dando, deste modo, uma ocasião a que a piedade
popular possa manifestar as suas raízes verdadeiramente eucarísticas e cristãs.
4.
Um novo dinamismo para a evangelização Enfim, apraz-me notar que os Santuários
conservam ainda hoje um extraordinário fascínio, testemunhado pelo número crescente
de peregrinos que a eles se dirigem. Trata-se não raramente de homens e mulheres de
todas as idades e condições, com situações humanas e espirituais complexas, um tanto
distantes de uma sólida vida de fé, ou com um frágil sentido de pertença eclesial.
Visitar um Santuário pode ser para estes uma preciosa7 oportunidade de encontrar Cristo
e redescobrir o sentido profundo da própria vocação batismal ou para sentir o seu
chamado salutar. Por isso, exorto cada um de vós a dirigir um olhar particularmente
acolhedor e cuidadoso para com estas pessoas. Também a este respeito, não se faça
nada improvisamente. Com sabedoria evangélica e com ampla sensibilidade, seria altamente
educativo fazer-se companheiro de viagem destes peregrinos e visitantes, particularizando
as razões do coração e as expectativas do espírito. Em tal serviço, a colaboração
de pessoas com serviços específicos, dotadas de humanidade acolhedora, de perspicácia
espiritual, de inteligência teologal, será de proveito para que se introduzam os peregrinos
no Santuário como num evento da graça, lugar de experiência religiosa, de alegria
reencontrada. A este respeito, será conveniente considerar a possibilidade de criar
encontros espirituais também no período vespertino ou noturno (adorações noturnas
ou vigílias de oração), lá onde a afluência dos peregrinos seja de quantidade considerável
e de fluxo permanente. A vossa caridade pastoral poderá ser uma providente oportunidade
e um forte estímulo para que flua em seu coração o desejo de assumir um caminho de
fé sério e intenso. Mediante as várias formas de catequese, podereis dar a compreender
que a fé, longe de ser um vago e abstrato sentimento religioso, é concretamente tangível
e exprime-se sempre no amor e na justiça de uns para com os outros. Deste modo, nos
Santuários, o ensino da Palavra de Deus e da doutrina da Igreja, por meio da pregação,
da catequese, da direção espiritual, dos retiros, constitui uma ótima preparação para
acolher o perdão de Deus no sacramento da Penitência e para a participação ativa e
frutuosa na celebração do Sacrifício do altar. A Adoração eucarística, a prática piedosa
da Via Sacra e a oração cristológica e mariana do Santo Rosário serão, com os sacramentos
e as bênçãos votivas, testemunhas da piedade humana e caminho com Jesus em direção
ao amor misericordioso do Pai no Espírito. Assim, a pastoral da família será revigorada
e a oração ao “Senhor da messe afim de que mande operários para a messe” (Mt 9,38)
será providencialmente fecunda: santas e numerosas vocações sacerdotais e de especial
consagração! Os Santuários, além disso, na fidelidade à sua gloriosa tradição,
não esqueçam de estarem comprometidos com as obras de caridade e com o serviço assistencial,
na promoção humana, na salvaguarda dos direitos da pessoa, no empenho pela justiça,
segundo a doutrina social da Igreja. Em torno destes, é conveniente que floresçam
também iniciativas culturais, tais como congressos, seminários, exposições, festivais,
concursos e eventos artísticos sobre temas religiosos. Deste modo, os Santuários se
tornarão também promotores de cultura, tanto erudita como popular, contribuindo, por
sua parte, com o projeto cultural orientado em sentido cristão pela Igreja. Sendo
assim, a Igreja, sob a orientação da Virgem Maria, Estrela da nova evangelização,
mediante a qual a própria Graça se comunica à humanidade necessitada de redenção,
se prepara, em todas as partes do mundo, para a vinda do Salvador. Os Santuários,
lugares aos quais se vai para buscar, para ouvir, para rezar, se tornarão misteriosamente
os lugares nos quais o homem poderá ser tocado por Deus através da Sua Palavra, do
sacramento da Reconciliação, da Eucaristia, da intercessão da Mãe de Deus e dos Santos.
Somente deste modo, entre as ondas e as tempestades da história, desafiando o pertinaz
sentido do relativismo imperante, estes serão fautores de um renovado dinamismo, em
vista da tão desejada nova evangelização. Agradecendo ainda a cada Reitor pela dedicação
e caridade pastoral, afim de que cada Santuário seja sempre mais sinal da amorosa
presença do Verbo Encarnado, assegurando-vos a mais cordial proximidade no Senhor,
sob o olhar da Bem-aventurada Virgem Maria.