Roma, 09 ago (RV) - Em entrevista à emissora de televisão brasileira “Rede
TV”, o diretor-geral eleito da FAO, José Graziano, considerou que o problema da fome
no mundo não passa pela incapacidade de se produzir alimentos suficientes, mas sim
pelo padrão de desperdício no mundo desenvolvido.
“Este fantasma malthusiano
que renasce nas teorias do fim dos recursos alimentares já não tem razão de ser. Hoje,
felizmente, as duas mãos produzem mais alimentos do que a boca é capaz de consumir”
- afirmou o brasileiro que será o primeiro latino-americano a chefiar a Organização
das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO).
“Mas há outro tema,
que é o padrão de consumo – acrescentou. É realmente insustentável generalizar o padrão
de certos países, não apenas os EUA, mas os países desenvolvidos e das classes altas
do restante do mundo. Esse padrão do desperdício, do 'fast food', onde a embalagem
acaba por conter mais energia e valor do que os próprios alimentos, isso não pode
persistir” - declarou.
José Graziano citou dados de uma pesquisa da FAO segundo
a qual o mundo já tem hoje capacidade de produzir alimentos para sustentar até dez
bilhões de pessoas – população mundial estimada para 2050, informa a agência Lusa.
“As projeções da FAO indicam que em 2050, a população deve se estabilizar
em torno de nove, dez bilhões, mas já temos hoje capacidade de produzir alimentos
para sustentar essa quantidade de pessoas” – citou, explicando que o problema não
está na produção, mas na distribuição e melhor gestão do consumo.
O novo diretor-geral
destacou que grande parte das perdas ocorre durante o transporte e a armazenagem dos
alimentos. Para fazer frente a essa logística pouco eficiente, ele defende a diversificação
da produção, com maior produção local, além do incentivo ao consumo de alimentos das
culturas autóctones.
José Graziano assume o cargo em janeiro de 2012 para um
mandato de três anos, até 2015. Ele substitui o senegalês Jacques Diouf, que ocupa
o cargo desde 1994. (CM)