DOM CLÁUDIO HUMMES: "AMAZÔNIA, PATRIMÔNIO AMBIENTAL E HUMANO"
Cidade
do Vaticano, 02 ago (RV) - A RV dedica este espaço a uma entrevista concedida
pelo Cardeal Cláudio Hummes, recém-nomeado Presidente da Comissão Episcopal para a
Amazônia, da CNBB.
O primeiro objetivo desta Comissão é sensibilizar todos
para a questão da Amazônia. É fazer com que o Brasil todo volte o seu olhar para a
Amazônia. Que amem este pedaço do Brasil, defendam o que lhes é próprio, saibam de
suas riquezas e dos riscos que estão aí, diante da cobiça de muitos.
O segundo
objetivo é favorecer o despertar e o aprofundar da consciência missionária, atendendo
ao apelo provindo da Igreja que se encontra na Amazônia. “Dai-nos de vossa pobreza”,
com projetos de solidariedade e programas afins, através da participação co-responsável
e fraterna de todas as Dioceses.
A Missão da Igreja de Evangelizar é a razão
que perpassará toda ação missionária e gestos de solidariedade para com a Igreja que
se encontra na Amazônia, sobretudo através do Projeto de Evangelização: “Queremos
ver Jesus – Caminho, Verdade e Vida".
Na entrevista, concedida a Cristiane
Murray, o Cardeal Hummes ressalta sua preocupação com a tutela da identidade cultural
dos povos da região, no momento de evangelizá-los. Para ouvir, acesse o link acima.
"A
Amazônia não é uma região que interessa apenas ao Brasil ou é conhecida apenas pelos
brasileiros. A Amazônia é conhecida no mundo inteiro e muita gente quer dar, e dá,
sua opinião sobre a Amazônia. Discute-se sobre o grande papel da Amazônia na globalidade
do planeta e, sobretudo, todos os seus aspectos ambientais. Ela joga um papel fundamental
no clima e no ambiente planetário.
Tanta gente no mundo está olhando para
a Amazônia e se pergunta como o Brasil está administrando esta grande questão, esta
riqueza fantástica. Estive algumas vezes lá e realmente é impressionante aquele mundo:
pouca gente, poucas cidades. Já sobrevoei à altura mais baixa, de forma que em horas
de vôo, se vê apenas mata, floresta, floresta e água, muita água. É uma das maiores
reservas mundiais de água doce. O Brasil é muito privilegiado por ter o lençol subterrâneo
que é um dos maiores, senão o maior, do planeta.
A floresta é algo de gigantesco
em sua extensão e em sua forma de se apresentar: é fascinante. O mundo tem razão em
olhar para a Amazônia com interesse, amor e com preocupação também. Então, o Brasil
tem a grande responsabilidade de administrá-la, falando da floresta, e ainda mais,
das pessoas que lá vivem, dos povos indígenas que vivem dentro da mata. Muitos deles
se integraram na cultura que veio de fora, que foi trazida da Europa e de todo o mundo,
mas são eles os originários dali. Há outros povos ainda completamente distantes, preservados
de tudo isso. Estas são grandes questões, seja para a Evangelização como para a humanidade.
Em
relação à evangelização, é claro que existe o dever e o direito de evangelizar todos
os povos. Todo ser humano tem direito a escutar o Evangelho de Jesus Cristo. Mas de
que forma fazer isto? Como inculturar estes povos? Para a Igreja, está muito claro
que evangelizar uma cultura - ainda que seja uma cultura tão diferente como a dos
indígenas – não se pode destruí-la, mas apenas transformá-la naquilo que tem de negativo,
pois todas as culturas têm aspectos negativos, já que estamos todos sujeitos às fraquezas
humanas. Por outro lado, ela possui grandes riquezas. Como fazer estas riquezas se
desenvolverem e florescerem naquilo que possuem, e acrescentar o essencial, que é
a oferta de Deus, oferecida por Jesus Cristo, fazendo-as passar por esta ‘páscoa’,
digamos assim, para que possa surgir para uma ressurreição, mas sem deixar de ser
elas mesmas? É uma coisa muito difícil e certamente a maneira como é feita nunca é
perfeita. Sempre há perdas e ganhos. Portanto, mais humanamente falando, é um grande
desafio que os missionários têm, mas que também o povo brasileiro deve enfrentar,
em relação à Amazônia e principalmente a seu povo”. (CM)