Comunicado da Santa Sé sobre a controvérsia entre uma diocese croata e um mosteiro
beneditino na província italiana de Pádua
(2/8/2011) A Santa Sé manifestou hoje o seu desagrado com o que qualificou como instrumentalização
“demagógica” do conflito que opõe a Ordem Beneditina à diocese croata de Parenzo-Pola,
o qual motivou uma intervenção do Papa. Em causa está uma indemnização que a Igreja
na Croácia vai ser obrigada a pagar à abadia beneditina de Praglia, em Pádua (Itália),
pela posse dos bens do mosteiro de Dajla, junto à costa croata, abandonado pelos religiosos
italianos em 1947, aquando da perseguição pelas autoridades jugoslavas. O comunicado
oficial do Vaticano “lamenta” que esta questão “seja instrumentalizada” de forma “política
e demagógica, como se houvesse intenção de prejudicar a Croácia”, frisando que esta
é uma questão “de natureza estritamente eclesiástica”. “A decisão da Santa Sé destina-se
exclusivamente a restabelecer a justiça dentro da Igreja, ainda que com um ressarcimento
parcial”, pode ler-se. A primeira-ministra da Croácia, Jadranka Kosor, manifestou
intenção de escrever a Bento XVI para defender a diocese e evitar que a mesma tenha
de proceder ao pagamento de uma indemnização de vários milhões de euros pela posse
dos terrenos e bens do mosteiro de Dajla, na península de Istria. Em 1999, com
base na normativa sobre a desnacionalização de bens confiscados durante o regime comunista,
Zagreb entregou o mosteiro beneditino à diocese de Parenzo-Pola [Poreča i Pule]. A
Ordem de São Bento recebera uma indemnização da Itália, com base nos acordos de Osimo
(1975). O diferendo chegou às mãos do Papa, que criou uma comissão cardinalícia,
em 2008, e dois anos depois os cardeais entregaram as conclusões do seu trabalho,
que viriam a ser “aprovadas” por Bento XVI, segundo o Vaticano. A Santa Sé diz
ter existido uma “escrupulosa busca de consenso entre as duas partes” e fala em “algumas
ações unilaterais da autoridade eclesiástica de Parenzo-Pola”. A decisão final,
aprovada pelo Papa, dispõe que as “propriedades imobiliárias” em causa sejam entregues
à abadia de Praglia, retomando "na medida em que é hoje possível as condições determinadas
pela vontade testamentária do doador originário”. O terreno do mosteiro de Dajla
foi oferecido aos beneditinos de Pádua pelo conde Francesco Grisoni, no século XIX. A
Santa Sé estabelece ainda que a diocese croata seja “obrigada a indemnizar a abadia
de Praglia, como compensação pelos bens que a diocese já tinha previamente alienado
ou que não são restituíveis”. “A compensação deve ser considerada meramente como
uma taxa, porque o valor dos bens já alienados da diocese é de longe superior”, refere
a nota do Vaticano. O terreno foi vendido a uma sociedade que quer criar, no local,
um resort de luxo para a prática de golfe. Neste contexto, a Santa Sé aponta o
dedo a D. Ivan Milovan, bispo da diocese croata, que “após ter aceitado, inicialmente,
negociar com os beneditinos, a fim de chegar a uma solução intraeclesiástica para
a controvérsia, acabou, infelizmente, por retirar-se de tal posição”. A convenção
entre as duas partes, que dá “valor civil” às disposições da autoridade eclesial,
acabou por ser assinada pelo arcebispo espanhol D. Santos Abril y Castelló, vice-camerlengo
da Igreja Romana, nomeado por Bento XVI a 6 de julho como comissário ‘ad actum’ (para
o ato), dada a recusa de D. Ivan Milovan em acatar a decisão.