2011-07-31 12:21:52

A FOME NO MUNDO


Campanha, 31 jul (RV) - Deus destinou os bens da criação para todos, mas poucos se apoderaram deles, conservando os demais sob férrea dependência, incapazes de ter acesso até aos bens básicos da vida. O banquete da vida se tornou privilégio de poucos, que vivem às custas do sangue dos pobres explorados.

Deus subverte essa situação, convidando os pobres explorados a sair da dependência e a saborear o banquete da vida, na liberdade e fraternidade, onde o comércio é substituído pela partilha dos bens da criação. Dessa forma, inicia-se um novo êxodo do povo de Deus em direção ao mundo novo. Jesus deu a esse mundo novo sua forma definitiva.

No Evangelho de Mt 14,13-21, Jesus recolhe toda a provisão e ordena que o povo sente no chão para comer. Sentar para a refeição era gesto de pessoas livres. A partir desse momento, o povo não será mais um povo dependente e submisso. Jesus pega os cinco pães e os dois peixes, ergue os olhos para o céu e pronuncia a bênção. Ele agradece a Deus o pão. Com esse gesto, Jesus reconhece que o pão é dom de Deus, desvinculando-o da submissão àqueles que detêm o poder e o monopólio sobre os bens de primeira necessidade. O alimento entra, assim, na esfera da gratuidade, e partilhá-lo é prolongar a gratuidade e generosidade divinas. Com isso, o pão é libertado do egoísmo humano, deixando de ser objeto de lucro e exploração para se tornar gesto de partilha e de fraternidade, gesto gratuito. A gratuidade vem de Deus, por Jesus, e se prolonga na ação de partilha dos discípulos que põem tudo à disposição da comunidade eclesial.

O texto afirma que todos comeram e ficaram satisfeitos. Cumpre-se, assim a bem-aventurança: “Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados”. E ainda mais: as sobras, doze cestos (número simbólico que recorda as doze tribos de Israel, isto é, todo o povo), indicam que o verdadeiro milagre é a partilha, capaz de saciar um povo inteiro. O amor traduzido na partilha de tudo garante a abundância dos bens, capaz de suprimir as desigualdades de uma sociedade injusta e gananciosa.

Podemos, então, entender melhor por que Jesus rejeitou a tentação de resolver a questão da fome com um passe de mágica, um milagre. A solução para o problema da fome não está num milagre. O verdadeiro milagre é o da distribuição e partilha dos bens da criação. Esse “milagre” não é difícil nem impossível, pois os pobres e Jesus já o estão realizando!

Padre Wagner Augusto Portugal
Vigário Judicial da Diocese da Campanha, MG.
(CM)







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