Campanha, 31 jul (RV) - Deus destinou os bens da criação para todos, mas poucos
se apoderaram deles, conservando os demais sob férrea dependência, incapazes de ter
acesso até aos bens básicos da vida. O banquete da vida se tornou privilégio de poucos,
que vivem às custas do sangue dos pobres explorados.
Deus subverte essa situação,
convidando os pobres explorados a sair da dependência e a saborear o banquete da vida,
na liberdade e fraternidade, onde o comércio é substituído pela partilha dos bens
da criação. Dessa forma, inicia-se um novo êxodo do povo de Deus em direção ao mundo
novo. Jesus deu a esse mundo novo sua forma definitiva.
No Evangelho de Mt
14,13-21, Jesus recolhe toda a provisão e ordena que o povo sente no chão para comer.
Sentar para a refeição era gesto de pessoas livres. A partir desse momento, o povo
não será mais um povo dependente e submisso. Jesus pega os cinco pães e os dois peixes,
ergue os olhos para o céu e pronuncia a bênção. Ele agradece a Deus o pão. Com esse
gesto, Jesus reconhece que o pão é dom de Deus, desvinculando-o da submissão àqueles
que detêm o poder e o monopólio sobre os bens de primeira necessidade. O alimento
entra, assim, na esfera da gratuidade, e partilhá-lo é prolongar a gratuidade e generosidade
divinas. Com isso, o pão é libertado do egoísmo humano, deixando de ser objeto de
lucro e exploração para se tornar gesto de partilha e de fraternidade, gesto gratuito.
A gratuidade vem de Deus, por Jesus, e se prolonga na ação de partilha dos discípulos
que põem tudo à disposição da comunidade eclesial.
O texto afirma que todos
comeram e ficaram satisfeitos. Cumpre-se, assim a bem-aventurança: “Felizes os que
têm fome e sede de justiça, porque serão saciados”. E ainda mais: as sobras, doze
cestos (número simbólico que recorda as doze tribos de Israel, isto é, todo o povo),
indicam que o verdadeiro milagre é a partilha, capaz de saciar um povo inteiro. O
amor traduzido na partilha de tudo garante a abundância dos bens, capaz de suprimir
as desigualdades de uma sociedade injusta e gananciosa.
Podemos, então, entender
melhor por que Jesus rejeitou a tentação de resolver a questão da fome com um passe
de mágica, um milagre. A solução para o problema da fome não está num milagre. O verdadeiro
milagre é o da distribuição e partilha dos bens da criação. Esse “milagre” não é difícil
nem impossível, pois os pobres e Jesus já o estão realizando!
Padre Wagner
Augusto Portugal Vigário Judicial da Diocese da Campanha, MG. (CM)