O administrador apostólico de Mogadíscio, pede que o plano para combater a fome na
Somália seja acompanhado pela reforma do Estado
(25/7/2011) O administrador apostólico de Mogadíscio, capital da Somália, considera
que o plano para combater a fome no país deve ser acompanhado pela reforma do Estado. “Não
quero que o caminho que se iniciou para fazer face à urgência humanitária, necessário
para salvar milhões de pessoas, esconda o problema de fundo, que é a falta de estruturas
estatais”, declarou o bispo italiano D. Giorgio Bertin à Agência Fides. O prelado
considera que é essencial resolver o problema da “ausência do Estado” na Somália,
posição que manifestou há cerca de três semanas a alguns dirigentes do país, a quem
acusou de privilegiarem “o interesse pessoal, da família ou do clã” e de terem sido
incapazes de construir uma “liderança capaz de reconstruir as estruturas estatais”. Uma
das fações do movimento islamista Shabab, que se opõe ao Governo de Mogadíscio, considera
que a urgência humanitária é ampliada pela ONU, disfarçando a vontade de interferir
nos assuntos somalis. O bispo do Djibuti explica que entre aquele grupo há várias
fações: “A que fez uma declaração em favor do regresso das organizações não governamentais
está mais próxima dos clãs e dá-se conta que a população morre de fome”. “Há também
uma outra componente, mais radical, ligada a um determinado contexto internacional,
a quem provavelmente não importa nada desta tragédia”, refere D. Giorgio Bertin, acrescentando
que os Shabab não estão unidos, ainda “que dêem a impressão de representar um movimento
unitário”. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO)
convocou para esta segunda-feira uma reunião de emergência em Roma com o objetivo
de procurar soluções para a seca no Corno de África. O diretor da FAO, Jacques
Diouf, sublinhou que a "situação catastrófica” exige ajuda internacional “massiva
e urgente", tendo afirmado que a organização precisa de 1,1 milhões euros nos próximos
12 meses e 210 milhões nos 60 dias seguintes para responder às emergências. A situação
de seca no Corno de África, a pior dos últimos 60 anos, é crítica, sobretudo no sul
da Somália, onde a ONU já declarou o estado de fome em duas regiões (Bakool e Lower
Shabelle), mas também no Quénia, Etiópia, Djibuti, Sudão e Uganda. Só na Somália,
onde a crise é agravada por 20 anos de guerra civil, cerca de 780 mil crianças correm
perigo de morrer de fome se não receberem ajuda com urgência, segundo um alerta do
Fundo da ONU para a Infância (UNICEF). A elevação dos preços alimentares causou
a pobreza a 44 milhões de pessoas desde Junho de 2010, indica aquela instituição financeira.