Belo Horizonte, 22 jul (RV) - O apóstolo Paulo, escrevendo aos Gálatas, no
capítulo dois, dá um importante testemunho que é marca de sua vida missionária e,
na verdade, da vida e missão da Igreja desde os seus primórdios. Paulo de Tarso conta
que, 14 anos depois de ter estado em Jerusalém, quando foi conhecer Pedro, lá voltou
por causa de uma revelação. Teve oportunidade de expor a respeito do Evangelho que
pregava. Tudo verificado, disse que a única recomendação recebida foi a de que ele
e seus companheiros se lembrassem dos pobres, o que ele, segundo testemunham, sempre
fazia com solicitude. Essa solicitude para com os pobres, no âmbito da ampla preocupação
com a dignidade humana, empenha a Igreja de Jesus Cristo na luta com aqueles que ainda
não podem levar uma vida que corresponda a essa dignidade.
A Igreja Católica,
com seu serviço social próprio e em cooperação com segmentos diversificados da sociedade,
compreende que converter-se ao Evangelho, seu primeiro e mais importante compromisso,
significa, como disse o bem-aventurado João Paulo II dirigindo-se à Igreja Católica
na América, revisar todos os ambientes e dimensões de sua vida, especialmente tudo
o que pertence à ordem social e à obtenção do bem comum.
Nesse mesmo horizonte
de compreensão, o Papa Bento XVI, em seu discurso inaugural na 5ª Conferência do Episcopado
Latinoamericano e Caribenho, em Aparecida (2007), afirmou que “a opção preferencial
pelos pobres está implícita na fé cristológica naquele Deus que se fez pobre por nós,
para nos enriquecer com a sua pobreza”. Ainda na mesma ocasião, o Santo Padre sublinhou,
enraizando este comprometimento evangélico e de fé, que a Igreja está permanentemente
convocada a ser “advoga da justiça e defensora dos pobres” diante das “intoleráveis
desigualdades sociais e econômicas”. Os bispos presentes naquela conferência disseram
em coro: “Comprometemo-nos a trabalhar para que a Igreja Latinoamericana e Caribenha
continue sendo, com maior afinco, companheira de caminho de nossos irmãos pobres,
inclusive até o martírio”. Não é outro o horizonte posto ao projeto Catedral Cristo
Rei.
A Igreja que embarca na aventura de construir este magnífico projeto,
não está, absolutamente, na contramão da importante e sustentadora marca de sua identidade,
a opção preferencial pelos pobres. O questionamento posto nessa direção oportuniza
reflexões, averiguações e entendimentos que podem comprovar que a Catedral Cristo
Rei se tornará casa dos pobres, espiritual e materialmente. Ao localizar-se no complexo
da Catedral Cristo Rei, por exemplo, a Cúria Metropolitana e, nela, o Vicariato Episcopal
para Ação Social e Política, se está, de modo incontestável, falando de instância
e projetos a serviço dos pobres e na luta com os pobres - sem citar os programas em
cooperação com órgãos governamentais e outros segmentos da sociedade civil.
Vale
refletir sobre uma ‘menina dos olhos’ do Vicariato - a Central de Acolhida, criada,
em 2007, para atender o segmento mais pobre da população da região metropolitana de
Belo Horizonte e do interior, dando-lhe guarida em apoios, orientações e ajudas, em
questões materiais, jurídicas, operacionais, de saúde entre outras. Em 2010 a Central
de Acolhida, com um trabalho eficaz e evangélico, de misericórdia e cidadania, ultrapassou
a cifra de 12 mil atendimentos. Esses e outros serviços, os mais simples e necessitados
terão na Catedral Cristo Rei, com programas sociais, educativos, culturais e artísticos.
Não é preciso outros argumentos para comprovar, em sintonia com o conjunto de serviços
e comprometimentos e pela rede de comunidades, nas paróquias, que ali há um lugar
especial que vai congregar gente dos mais variados segmentos da sociedade, oportunizando,
além de seus interesses próprios e metas, o debate em função da permanente renovação
da consciência política, o despertar do sentido do compromisso social e uma importante
alavancagem para a cidadania.
A Catedral Cristo Rei agregará e possibilitará,
portanto, serviços que atenderão demandas de espiritualidade e mística, como tantas
outras urgências para a vida da sociedade na sua necessidade premente de conquistar
mais na cultura da paz e da solidariedade. Este entendimento real e lúcido justifica
e convoca o apoio de todos a um projeto desta envergadura e importância. Oportunidade
de demonstração de responsabilidade social dos que podem ajudar. Compromisso político
efetivo. Apurado sentido de cidadania e respeito à cultura e às ricas tradições religiosas
e históricas de Minas Gerais.
A cruz de 20 metros na entrada da Catedral Cristo
Rei, brotando das águas, é o trono do Rei, Cristo, garantia da dignidade de todos
e compromisso de vida plena com os pobres.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo Arcebispo
metropolitano de Belo Horizonte