CONFERÊNCIA MUNDIAL AIDS: NOVOS RUMOS PARA O TRATAMENTO E CURA
Cidade do Vaticano, 21 jul (RV) - Terminou ontem, em Roma, a 6ª Conferência
Mundial da Sociedade Internacional para a Aids, que durou quatro dias e teve a participação
de 6 mil delegados de 129 países. Entre os destaque, a “Declaração de Roma” lançada
para acelerar as pesquisas em busca da cura da Aids. Cientistas africanos apresentaram
novos estudos, mas o evento também deu voz a quem é soropositivo, como nos relata
Rafael Belincanta.
Na última
década, os medicamentos genéricos antirretrovirais permitiram uma queda nos custos
dos tratamentos para os soropositivos. Além disso, nesse período programas de cura
começaram a surgir em países africanos, como no Quênia. Lá, Siama Musine, de 36 anos,
soropositiva, conta como esses remédios mudaram sua vida.
“Se depois de dezesseis
anos de saber que sou seropositiva, ainda estou viva, ativa e produtiva, essa é a
prova de que os medicamentos genéricos funcionam. E não somente isso, trabalho na
minha comunidade para a promoção da saúde. Tudo isso devo aos medicamentos genéricos,
que contribuem para a vida e para o futuro das pessoas".
Entretanto, nem todos
os países africanos disponibilizam medicamentos genéricos. Em Angola, por exemplo,
onde cerca de 2,7% da população é soropositiva, somente parte da população tem acesso
aos antirretrovirais protegidos por patentes, portanto mais caros, produzidos por
grandes laboratórios. Situação que gera um outro problema, como revela a pesquisadora
da Faculdade de Medicina de Luanda, Joana Filipa Afonso.
“Ainda há uma parte
da população que tem de pagar no mercado negro para ter acesso aos medicamentos antirretrovirais”.
Durante a Conferência, a Médicos Sem Fronteiras publicou relatório em que revela
a constante tendência de queda nos preços dos antirretrovirais genéricos ao mesmo
tempo em que alguns países, como o Brasil - que quebrou a patente de alguns medicamentos
– sofrem retaliações da industria farmacêutica.
Outro destaque da Conferência
foi o lançamento da Declaração de Roma. O documento pretende acelerar as pesquisas
sobre os reservatórios de HIV nas células linfáticas e sobre o combate à resistência
do vírus nos pacientes em tratamento. Outro termo veio à tona durante os debates científicos:
a cura funcional do HIV. O infectologista da Sociedade Brasileira de Infectologia,
especialista em HIV, Aluísio Cotrim Segurado, explica:
“É uma nova linha
de intervenção no tratamento. Não bastaria utilizar medicamentos que atuam sobre a
replicação do vírus, porque esses na verdade não estão atuando sobre os vírus que
estão nessas células reservatórios. Teria que ser utilizada uma outra linha de medicamentos
que estimulasse essas células reservatório a produzirem virus para que os outros medicamentso
que atuam na produção pudessem atuar. Então, na verdade, seria uma proposta de combinação
de tratamentos”.
Apesar de todos os avanços, a prevenção é a melhor forma
de combater a Aids. Para o tratamento com antirretrovirais, quanto mais cedo a infecção
for descoberta, maiores serão as chances de um soropositivo levar uma vida normal,
como explica a Coordenadora de Saúde da Universidade de Cabo Verde, Isabel Araújo:
“muitas pessoas quando fazem o teste praticamente já estão com critérios de tratamento,
que já começa tardio”. (RB/RV)