2011-07-19 11:29:32

D. César Mazzolari, 30 anos ao serviço do Sul do Sudão


Precisamente a uma semana da proclamação do novo Estado do Sudão do Sul, faleceu subitamente, na manhã de sábado passado, dia 16, o Bispo católico de Rumbek, naquela região sudanesa, D. César Mazzolari, que tanto atuou a favor da liberdade religiosa de todos os sudaneses e especificamente dos católicos da sua diocese.
O prelado sentiu-se mal enquanto concelebrava a Missa na Catedral da Sagrada Família em Rumbek. Sentou-se e desmaiou. Foi imediatamente levado para o Hospital local onde veio a falecer de ataque cardíaco.

De 74 anos, D. César era um comboniano italiano (como refere a edição on line da revista “Nigrizia”, destes missionários que surgiram precisamente em vista do Sudão). Natural de Bréscia, no norte de Itália, entrou muito jovem no Seminário dos Missionários Combonianos. Ordenado bispo em 1962, foi inicialmente enviado para os Estados Unidos, onde desenvolveu a sua atividade entre os afro-americanos e os mexicanos que trabalhavam nas minas.

Em 1981, há 30 anos, portanto, foi destinado às missões do Sudão do Sul, inicialmente na diocese de Tombura-Yambio, depois na arquidiocese de Juba. Em 1990 foi nomeado Administrador Apostólico da diocese de Rumbek, sempre no Sudão do Sul, aonde permaneceria nestas duas décadas, até à morte.
Logo nesse mesmo ano de 1990 obtém a libertação de 150 jovens escravos. Em 1991, reabre a missão de Yirol, a primeira de uma longa série, algumas das quais virão a ser depois abandonadas, em razão da guerra civil. Em 1994 ele próprio foi capturado por soldados do Exército Popular de Libertação do Sudão, sendo libertado ao fim de 24 horas. Em Janeiro de 1999, é ordenado padre por João Paulo II.

Ao longo de 30 anos, D. César Mazzolari viveu corajosamente ao serviço dos sul - sudaneses, com eles partilhando as consequências da guerra. A todos pedia o empenho de “não esquecer o Sudão do Sul, a sua população tem necessidade de uma paz justa, baseada no respeito dos direitos humanos”, dizia.

Convicto promotor da educação como via de evangelização (nas escolas da sua diocese recebem hoje em dia instrução e formação 50 mil jovens). D. César Mazzolari viveu a longa guerra civil sudanesa (22 anos, de 1983 a 2005, dois milhões de mortos) ao lado dos mais pobres e esquecidos, oferecendo ajudas, projetos de desenvolvimento, instrução de base e assistência sanitária.
Intrépido anunciador do Evangelho, desafiou os bombardeamentos, a carestia, os sequestros, para levar a consolação de Cristo e fazer sentir a proximidade da Igreja.

Viajou muito pela Europa e América para perorar a causa do Sudão. Costumava dizer: “O Sudão é, dos estados africanos, o mais pobre dos pobres. Ao longo de 40 anos, foi vítima de guerras civis e de confrontos étnicos, cujo único fim era a conquista do poder e a repartição dos recursos, como o petróleo, a água e o ouro, ali existentes em grandes quantidades. Sobre o bem das populações, prevaleceram os interesses alheios. Falta o respeito pelos direitos humanos. No Sudão a palavra “liberdade” é um termo desconhecido, foi eliminada” (fim de citação).

Em Maio passado, numa casa dos Missionários Combonianos, em Itália, D. César Mazzolari pronunciou uma conferência sobre o tema “A terra de Comboni a caminho da liberdade”, dando um comovente testemunho sobre o facto, inegável, de que a vida e obra de Daniel Comboni se encontra intimamente ligada à história do povo do Sudão do Sul.
Nessa mesma ocasião foi apresentada uma sua biografia, da autoria de Lorenzo Fazzini, um jornalista do quotidiano católico italiano, “L’Avvenire”, obra significativamente intitulada “Um Evangelho para a África. César Mazzolari, bispo de uma Igreja crucificada”. Juntamente com o autor do livro, o bispo evocou os 30 anos da sua presença no Sul do Sudão: desse os bombardeamentos às carestias e aos sequestros de pessoas…
A concluir, D. César Mazzolari lançou uma vez mais à Europa e ao Ocidente uma severa advertência: “Só o primado de Deus e o sentir-se uma família global poderão garantir um futuro de paz no Sudão e em todo o mundo”.

Nesse mesmo encontro, o bispo apresentou o projeto de ralização do primeiro centro de formação para professores do Sul Sudão, em Cuiebet, a 80 Km de Rumbek. “Agora, mais do que nunca – disse – temos necessidade de formar a classe dirigente do futuro, para que a autodeterminação do povo sul – sudanês seja plena e adulta, sob o signo da esperança e de uma profunda recuperação da identidade. Como Igreja, temos ainda hoje uma grande responsabilidade na construção do novo Estado . Sobretudo, temos que ensinar a paciente arte do diálogo, da comunicação e da reconciliação, para lançar as bases de uma nova nação” (fim de citação).

Grande foi a sua alegria pela consecução da independência do Sudão do Sul, a 9 de Julho passado. Nesse dia à noite, na sede dos Combonianos, em Juba, falando com os seus confrades, declarou ainda D. César Mazzolari: “Foi um sonho que se realizou. Estamos no início de uma nova história. Agora todo o mundo se tem que empenhar em fazer com que o amanhã desta nova nação seja melhor do que o martirizado passado. E nós, combonianos, agora como no passado, estamos chamados a fazer a parte que nos toca”.








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