2011-07-09 11:00:40

Sudão do Sul - às origens duma independência


A África conta a partir deste sábado 9 de Julho de 2011 com mais um Estado: o Sul do Sudão; nasce da divisão do Sudão e é expressão da vontade real dum povo de conquistar a própria liberdade. O longo sofrimento por que este povo passou levou a comunidade internacional a encorajar este desfecho, ao qual praticamente ninguém se opôs, nem em África, nem noutras partes do mundo. Uma nação que nasce, portanto, para a vida e que vai ocupar o seu lugar no concerto das Nações.

No entanto, esta nação não nasce sob os melhores auspícios, não nasce com a inocência de todos os bebés. O Sudão do Sul nasce já adulto, aguerrido pelos longos anos passados sob bombardeamentos, razias, violações, enfim por um percurso de guerra que não lhe poupou nenhum sofrimento.
Mas não é para chorar pelos seus sofrimentos que o país entra no concerto das Nações. Aliás, não há verdadeira liberdade sem sofrimento. E é isto que a torna ainda mais preciosa.

Mais ainda. O nascimento dum novo Estado africano no momento em que muitos outros comemoram cinquenta anos de independência, leva a pensar numa outra questão, sempre actual e provocatória porque nunca resolvida: para que serve a independência? Para que serve a independência na era da globalização? No célebre romance do escritor marfinense, Ahmadou Kourouma - “O Sol das Independências” - um dos personagens põe a seguinte questão: “Quando é que termina esta independência?”. Para o Sudão do Sul ela acaba de começar. Todos desejamos que não acabe na desilusão. Mas não podemos não ter os olhos postos nos mecanismos económicos e políticos internacionais e perguntarmo-nos: será que hão-de de se esforçar por ajudar o novo Estado e o seu povo, ou procurarão explorar, sem nenhum escrúpulo, “a nova situação” ?

Não há país, rico ou pobre que seja, que não procure afirmar-se na própria liberdade. Mesmo o desenvolvimento, meta reconhecida a todas as nossas nações, não pode ser pensado senão na liberdade de acção para o bem de todos – o bem comum. A má gestão que caracteriza muitos dos nossos Estados, pobres, mas sentados, adormecidos em cima de montes de recursos, vem precisamente da perda de sentido do bem comum e da responsabilidade, que devem constituir a base da liberdade.

É oportuno, então, recordar que por mais jovem que seja, o Sudão do Sul não é desprovido de recursos. Dispõe de recursos materiais: ouro, petróleo, água, tudo à disposição deste jovem povo. Dispõe também de riquezas espirituais. O Sudão foi durante muito tempo descrito como o país dos contrastes: árabes contra africanos; norte contra sul: pastores contra agricultores e, sobretudo, muçulmanos (no norte) contra cristãos (no sul). O país que hoje toma a independência poderá servir-se desta riqueza espiritual para orientar os seus passos e garantir um futuro melhor. Aliás, o Evangelho corrobora a liberdade, não a aniquila. E proclamando-a, a Igreja põe-se ainda mais ao serviço do homem.

“A vossa missão, senhoras e senhores Embaixadores, é servir ao mesmo tempo a nobre causa do vosso país e a nobre causa da paz. Trata-se duma grande causa de amor em relação ao próximo que deve ser realizada com o desejo de contribuir para o bem comum e para um melhor entendimento entre as pessoas e entre os povos. Podemos assim oferecer às gerações vindouras uma terra onde será agradável viver. Devemos ter sempre presente que todas as injustiças que possam afectar os nossos contemporâneos, que as situações de pobreza e a falta de educação que afecta juventude estão na base de muitos focos de violência através do mundo.”

Estas palavras foram pronunciadas pelo Papa João Paulo II ao receber as cartas credenciais de nove Embaixadores junto da Santa Sé, a 6 de Dezembro de 2001. Entre eles encontrava-se o novo Embaixador da Eritreia, um Estado que obteve oficialmente a independência da Etiópia em 1993. A Eritreia representa, portanto, o que pode acontecer tanto de bem como de mal a uma jovem nação nascida duma cisão. É, em última análise, com o olhar virado para os valores da sua fé cristã, sem cair na teocracia, que o Sudão do Sul poderá escapar às armadilhas e às tentações que o espreitam enquanto jovem nação.

Bento XVI não cessa de convidar, nos seus discursos, “ao concreto testemunho inovador do amor evangélico no seio da dimensão social” . Insiste também muito no Evangelho, “a maior força de transformação do mundo”. Podemos desde já afirmar que a comunidade eclesial do Sudão do Sul dará a sua contribuição à afirmação e construção deste jovem país. Mas ela terá também necessidade da solidariedade de todas as Igrejas particulares da África e do mundo. É ao mesmo tempo uma esperança e um desafio.

Por Albert Mianzoukouta, Programa Francês/África, Rádio Vaticano








All the contents on this site are copyrighted ©.