CARDEAL PULJIC FALA SOBRE A SITUAÇÃO DOS CATÓLICOS NA BÓSNIA
Saravejo, 06 jul (RV) – “Uma minoria tolerada, aceita por uma sociedade, uma
vez exemplo de harmonia étnica e religiosa, na qual a guerra fez prevalecer a lógica
da pertença a uma identidade étnica e religiosa”. É a fotografia da comunidade católica
na Bósnia-Herzegovina hoje, que emerge de uma longa entrevista da agência Apic com
o Cardeal Vinko Puljic. Na entrevista, o arcebispo de Sarajevo, criado cardeal pelo
Papa João Paulo II em 1994 no meio do bombardeio da capital bósnia, traça um quadro
com luzes e mas ainda com muitas sombras, no qual não faltam críticas à comunidade
internacional e particularmente à Europa. A guerra, - explica -, alterou profundamente
o equilíbrio étnico-religioso no país dos Balcãs em benefício da comunidade muçulmana
e em detrimento principalmente dos católicos, especialmente os croatas, que foram
impedidos de regressar às suas terras. Dos 820 mil identificados no início dos anos
90, hoje são cerca de 400 mil, o equivalente a 9% da população, mais de metade da
qual é muçulmana e 37% é servo-ortodoxo.
A situação da comunidade católica
- disse o Cardeal Puljic - reflete esses novos equilíbrios, fruto da limpeza étnica,
e confirmada pelos Acordos de Dayton de 1995. Se as relações são melhores em relação
a 16 anos atrás, elas estão ainda longe de serem ideais. Os católicos – continuou
o purpurado - são, na verdade discriminados, seja politicamente, seja nas várias esferas
da vida social.
Assim, construir uma igreja hoje é muito mais difícil do que
construir uma mesquita: os procedimentos burocráticos para a obtenção de licenças
de construção são muito longos. Além disso, “quase todos os meios de comunicação são
mantidos pelo governo e todos os jornais do estado são muçulmanos”, disse o cardeal.
“Nós
não temos uma televisão, mas apenas um semanário nacional católico. Em nossa Arquidiocese,
temos três jornais mensais e desde 8 de dezembro último, também uma estação de rádio,
"Rádio Marija Bih". Também os programas escolares são afetados por esses novos equilíbrios.
“Os livros de história - disse o arcebispo de Sarajevo - afirmam que os turcos, que
conquistaram o território da Bósnia, no século XV, não eram invasores, mas libertadores
da opressão cristã”.
A chegada de fundamentalistas islâmicos estrangeiros durante
a guerra ajudou a radicalizar o Islã bósnio, tradicionalmente moderado, embora isto
seja oficialmente negado pelas autoridades. Não menos delicadas as relações com os
servo-ortodoxos na qual – revela o purpurado - domina uma visão muito nacionalista
da religião. A recente prisão do general Ratko Mladic não ajudou a aplacar os ânimos
na comunidade sérvia da Bósnia, que o considera um herói.
Na entrevista, o
Cardeal Puljic não poupou críticas à comunidade internacional, especialmente a Europa,
alegando que os Acordos de Dayton penalizaram os croatas e de ter abandonado a comunidade
católica. “A Europa quando vê um católico não ajuda e quando protestamos somos tratados
como nacionalistas croatas”, denuncia o purpurado, afirmando que a única ajuda vem
de organizações católicas internacionais, como “Renovabis”, “Ajuda à Igreja que Sofre”
(AIS) ou de associações católicas e paróquias italianas. (SP)