SANTA SÉ À AIEA: FUKUSHIMA ENSINA QUE QUESTÃO NUCLEAR PRECISA DE UMA "CULTURA DA INCOLUMIDADE"
Viena, 29 jun (RV) - O desenvolvimento da tecnologia nuclear precisa do desenvolvimento
paralelo de uma "cultura de segurança e incolumidade", não somente entre os que se
ocupam da matéria, mas também "na consciência pública em geral".
Foi o que
afirmou o representante vaticano em pronunciamento – em nome do Secretário das Relações
com os Estados, Dom Dominique Mamberti – na Conferência ministerial da Eiea, a Agência
internacional de energia atômica, realizada dias atrás em Viena, na Áustria.
O
espectro da catástrofe da usina japonesa de Fukushima influenciou os participantes
da recente Conferência da Aiea – ditando a agenda dos trabalhos – e, em particular,
a reflexão do representante vaticano, que evidenciou o parecer da Santa Sé sobre o
que definiu como sendo "um problema global".
A crise desencadeada em Fukushima
pelo sismo e pelo tsunami e, sobretudo, as suas dramáticas conseqüências, devido a
contaminação radioativa de pessoas, animais, água e terra requer – afirmou o expoente
vaticano – que as autoridades empenhadas na crise nuclear no Japão ajam com a "máxima
transparência" e "em estreita colaboração com a Aiea".
Todavia, o desastre
suscita numerosas interrogações, prosseguiu. "É legítimo construir ou conservar reatores
nucleares operativos em territórios que são expostos a graves riscos sísmicos?" –
perguntou-se. E, ainda: "A tecnologia de fusão nuclear ou a construção de novas usinas
atômicas ou a atividade constante das existentes excluem o erro humano em suas fases
de elaboração, de funcionamento normal ou de emergência?"
Ademais, há a questão
do desmantelamento dos reatores nucleares obsoletos, que suscita ulteriores interrogações:
o que se fará com o material nuclear? O que e quem será sacrificado? O problema do
que se fazer com o lixo radioativo é simplesmente colocado nas costas das futuras
gerações? Os Estados estão dispostos a adotarem novos níveis de segurança e incolumidade?
Sendo
assim, quem os supervisionará? Trata-se de perguntas cruciais das quais nasce uma
consideração inevitável, isto é, que "sem transparência, segurança e incolumidade
não se pode prosseguir com diligências", observou com realismo o delegado pontifício.
Mesmo porque – acrescentou – "um risco nuclear zero em nível mundial é impossível,
considerando que existem ainda armas nucleares e centrais nucleares ativas que devem
ser geridas".
O representante vaticano convidou os Estados e governos a estudarem
políticas de intervenção não somente em nível técnico, mas também "cultural e ético".
Portanto – enfatizou –, para a Santa Sé são absolutamente necessários "programas de
segurança e incolumidade tanto no setor nuclear quanto na consciência pública em geral".
"A
segurança depende do Estado, mas, sobretudo, do sentido de responsabilidade de cada
pessoa" – ponderou. (RL)