No mundo existe o mal, o egoísmo, a maldade. Mas Deus não vem a julgar e a condenar…Deus
mostra o seu amor pelo mundo, o seu amor ao homem, enviando-lhe o que tem de mais
precioso, o Filho unigénito. Bento XVI na homilia da Missa em San Marino
(19/6/2011) Na solenidade da Santíssima Trindade, foi naturalmente sobre este mistério
central da nossa fé que Bento XVI centrou a sua homilia, sublinhando que se trata
de uma realidade de dom recíproco e de amor: “A liturgia de hoje atrai a nossa
atenção não tanto sobre o mistério, mas sobre a realidade de amor contida neste primeiro
e supremo mistério da nossa fé. O Pai, o Filho e o Espírito Santo são um, porque Deus
é amor, o amor é força vivificante, absoluta: o Pai dá tudo ao Filho; o Filho recebe
tudo do Pai com reconhecimento; e o Espírito Santo é como que o fruto deste amor recíproco
do Pai e do Filho”.
Comentando as leituras da Missa nesta perspectiva de
amor que é a Santíssima Trindade, Bento XVI fez notar que no livro do Êxodo sobressai
a misericórdia de Deus: Quando “tudo parece perdido, a amizade quebrada” pelo “gravíssimo
pecado do povo, Deus, por intercessão de Moisés, decide perdoar”, fazendo-o receber
de novo a sua Lei, os 10 Mandamentos. E a Moisés que Lhe suplica de fazer-lhe ver
o Seu rosto, o Senhor revela, isso sim, o seu ser cheio de bondade, com estas palavras:
“O Senhor, o Senhor, Deus clemente e compassivo, sem pressa para se indignar e cheio
de misericórdia e fidelidade”.
“Esta autodefinição de Deus manifesta o seu
amor misericordioso: um amor que vence o pecado, que o cobre, que o elimina. Não pode
haver revelação mais clara. Nós temos um Deus que renuncia a destruir o pecador e
que quer manifestar o seu amor de maneira ainda mais profunda e surpreendente precisamente
perante o pecador, para oferecer sempre a possibilidade da conversão e do perdão”.
O Evangelho completa esta revelação, mostrando até que ponto Deus mostrou
a sua misericórdia. Como diz Jesus: “Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho
Unigénito, para que todo o homem que acredita n’Ele não pereça , mas tenha a vida
eterna”. No mundo existe o mal, o egoísmo, a maldade. Mas Deus não vem a julgar
e a condenar. Em vez de castigar e destruir, Deus mostra o seu amor pelo mundo, o
seu amor ao homem, enviando-lhe o que tem de mais precioso, o Filho unigénito. Jesus
é o Filho que nasceu para nós, que viveu para nós, curou os doentes, perdoou os pecados,
a todos acolhendo. Respondendo ao amor do Pai, o Filho doou a sua própria vida
por nós: na cruz, o amor misericordioso de Deus atinge o ponto culminante:
“no
mistério da cruz, estão presentes as três Pessoas divinas: o Pai, que doa o seu Filho
unigénito, para a salvação do mundo; o Filho , que realiza plenamente o desígnio do
Pai; o Espírito Santo – derramado por Jesus no momento da morte – que vem a tornar-nos
participantes da vida divina, a transformar a nossa existência, para que seja animada
pelo amor divino”.
Na parte final da homilia, o Santo Padre deteve-se mais
concretamente na realidade local da república e diocese de São Marino, com a história
da sua evangelização, em meados do século III, da parte de São Marino e São Leão,
ambos provenientes da Dalmácia, do outro lado do mar Adriático.
“Marino e
Leão trouxeram, no contexto desta realidade local, juntamente com a fé no Deus que
se revelou em Jesus Cristo, perspetivas e valores novos, determinando o nascimento
de uma cultura e de uma civilização centradas sobre a pessoa humana, imagem de Deus,
e portanto portadora de direitos que precedem toda e qualquer legislação humana”.
“A
variedade das diversas etnias – romanos, godos e depois longobardos – que entravam
em contacto entre si, por vezes de modo conflitual (prosseguiu o Papa), encontraram
na comum referência à fé um potente fator de edificação ética, cultural, social e,
de algum modo, política”.
“Era evidente aos seus olhos que não podia considerar-se
completado um projeto de civilização enquanto todos os componentes do povo não se
tivessem tornado uma comunidade cristã viva e bem estruturada. Justamente se pode,
pois, dizer que a riqueza desta povo, a vossa riqueza, caros saomarinenses, foi e
é a fé, e que esta fé criou uma civilização realmente única”.
Admitindo com
apreço o facto de tantos habitantes de São Marino reconhecerem a ação do Espírito
Santo na sua Igreja local, Bento XVI exortou-os a desenvolverem este tesouro, pois
“o modo melhor de apreciar uma herança é cultivá-la e incrementá-la:
“Sois
chamados a desenvolver este precioso depósito num momento dos mais decisivos da história.
Hoje, a vossa missão vê-se confrontada com profundas e rápidas transformações culturais,
sociais, económicas, políticas, que determinaram novas orientações e modificaram mentalidades,
costumes e sensibilidade”.
Bento XVI referiu nomeadamente “modelos hedonistas
que obnubilam a mente e correm o risco de anular toda e qualquer moralidade”, assim
como “a tentação de considerar que não é a fé a riqueza do homem, mas sim o seu poder
temporal e social, a sua inteligência, cultura e a sua capacidade de manipulação científica,
tecnológica e social da realidade”. O que faz com que, também nestas terras se tenha
“começado a substituir a fé e os valores cristãos com alegadas riquezas que se revelam,
ao fim e ao cabo, inconsistentes e incapazes de assegurar a grande promessa de verdade,
de bem, de beleza e de justiça que, ao longo dos séculos, os vossos antepassados identificaram
com a experiência da fé”. Foi, pois, com um apelo dirigido aos sanmarinenses
que o Papa concluiu a homilia:
“Permanecei firmemente fiéis ao património
construído ao longo dos séculos sob o impulso dos vossos grandes Patronos, Marino
e Leão. Invoco a bênção de Deus sobre o vosso caminho de hoje e de amanhã e a todos
vós recomendo “à graça do Senhor Jesus Cristo, ao amor de Deus e à comunhão do Espírito
Santo”.