Patriarca de Lisboa pede trabalho conjunto do novo governo, da oposição e da sociedade
civil
(15/6/2011) O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), D. José Policarpo,
afirmou hoje em Fátima que o novo governo e a sociedade civil devem colaborar num
momento delicado para Portugal. “O futuro governo, seja ele qual for, não vai poder
levar a ‘carta a Garcia’, levar as coisas a bom porto sem uma colaboração muito expressa
da sociedade”, disse. Em conferência de imprensa, após a divulgação de um comunicado
do Conselho Permanente da CEP sobre a situação portuguesa, o cardeal-patriarca de
Lisboa criticou as “convulsões sociais e posições absolutamente contrárias, que parecem
de antissociedade” que estão a acontecer na Grécia, “um exemplo a evitar”. Num
momento em que o país espera pela formação de um novo executivo, após as legislativas
de 5 de junho, o patriarca de Lisboa declarou que “governar Portugal não é apenas
uma tarefa dos partidos que vão formar governo”, mas também dos partidos da oposição,
que chamou a assumirem “as suas responsabilidades”. O cardeal José Policarpo deixou,
por isso, um “apelo muito forte a todos os portugueses que queiram dar prioridade
ao bem de Portugal”. “Este momento que Portugal atravessa gostava que não o considerássemos
só como uma desgraça temporária que vamos resolver”, advertiu, convidando a “rever
para melhor toda a estrutura da sociedade”. José Policarpo deixou algumas críticas
às lideranças europeias, considerando que existiu um “enfraquecimento da cultura,
da compreensão do homem” quem impediu de compreender a atual crise como “o início,
o sintoma de grandes transformações na própria organização da sociedade”. Em resposta
aos jornalistas, o cardeal-patriarca deixou referências a vários setores - educação,
cultura, justiça - que “não podem esperar” por uma melhoria das condições económicas. O
memorando assinado com a ‘troika’ (Banco Central Europeu, Comissão Europeia, Fundo
Monetário Internacional) deve ser cumprido “o mais rapidamente possível”, segundo
o presidente da CEP, para que o país recupere a sua “dignidade” e a sua “autonomia”. Neste
sentido, foi feito um apelo a uma “tomada de consciência coletiva” para superar soluções
pragmáticas que podem ser “frágeis”. Repetindo o pedido de “realismo” feito pelo
documento hoje divulgado, o presidente da CEP referiu que todos, “desde associações
laborais às patronais”, devem ter “uma visão para cumprir aquilo que é importante
para Portugal readquirir a sua autonomia e a sua credibilidade”. “Estou preocupado
com o destino da UE, com a civilização ocidental, a relação das economias emergentes
com a velha Europa”, admitiu o patriarca de Lisboa. O cardeal destacou que “a Igreja
como realidade da sociedade civil é uma das que melhor pode contribuir para o espírito
necessário para a comunidade e que não é necessariamente de uma dimensão religiosa”. A
Igreja Católica, acrescentou, tem “uma doutrina sobre o homem e a sociedade que pode
inspirar opções políticas concretas”. Sobre a situação das instituições eclesiais
de solidariedade, perante a crise, D. José Policarpo observou que “neste momento já
há ruturas, até porque há pessoas que pedem o inevitável e outras que pedem porque
lhes dá jeito”. “Eu posso não ter dinheiro para dar a uma pessoa tudo o que ela
precisa, mas posso ajudá-la a resistir, a reagir”, disse D. José Policarpo, antes
de frisar que “a Igreja não tem os meios institucionais do Estado”.