BRASIL: DOCUMENTOS SOBRE DITADURA ESTARÃO NA INTERNET
São Paulo, 15 jun (RV) - Mais de 700 processos judiciais da época da ditadura
militar no Brasil (1964-1985), muitos dos quais com relatos de tortura em tribunais
militares e outros abusos, serão publicados na Internet pela Universidade Estatal
de Campinas.
Os documentos chegaram ontem ao Brasil, enviados pelo Conselho
Mundial das Igrejas, que os obteve de forma clandestina e os guardava nos Estados
Unidos. Representantes da entidade entregaram a documentação ao procurador geral da
República, Roberto Monteiro Gurgel Santos, em cerimônia na Procuradoria Regional da
República da 3ª Região, em São Paulo.
A reprodução dos papeis começou por
iniciativa da advogada Eny Raimundo Moreira e de seus colegas do escritório Sobral
Pinto. Entre 1964 e 1979, eles fotocopiaram os autos do Superior Tribunal Militar,
aproveitando que a lei permitia que os advogados consultassem os processos durante
24 horas. O objetivo era encontrar informações e evidências de violações aos direitos
humanos praticadas por agentes da repressão militar.
Os advogados receberam
apoio logístico e financeiro do então Arcebispo de São Paulo, Cardeal Paulo Evaristo
Arns, e do reverendo presbiteriano Jaime Wright, pois no período da ditadura, havia
a preocupação com a apreensão do material por parte dos repressores políticos. Os
documentos foram microfilmados e remetidos aos EUA.
Foram copiados 707 processos
judiciais, que somam cerca de um milhão de cópias em papel e 543 rolos de microfilme.
O material serviu de base para o livro "Brasil: Nunca Mais", publicado em julho de
1985, em meio ao processo de democratização do país.
O livro teve 20 reimpressões
em seus dois primeiros anos e atualmente está em sua 31ª edição, de 2009.
A
Arquidiocese de São Paulo decidiu agora doar toda a documentação à Unicamp, que se
comprometeu a digitalizar e publicar o material na Internet dentro de um ano.
No
mesmo dia em que se anuncia a difusão pública dos arquivos confidenciais que revelam
que existiam no Brasil pelo menos 242 centros secretos, onde 444 pessoas foram torturadas,
as Nações Unidas pediram a nosso governo que comece a investigar os crimes cometidos
contra os direitos humanos durante os vinte anos da ditadura militar. O pedido foi
feito pelo relator da ONU para a tortura, Juan Mendez.