Bispos portugueses pedem «realismo» num momento delicado e deixam alertas e apelos
para o novo ciclo político
(15/6/2011) A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) apelou hoje a um “grande realismo”
dos portugueses e dos seus líderes políticos face ao momento “particularmente delicado”
do país. “É este sentido de realismo que nos indica que devemos procurar soluções
para Portugal no quadro social, político-económico em que está inserido”, afirmam
os bispos católicos. Num comunicado do Conselho Permanente da CEP, apresentado
pouco após o meio-dia, a propósito do “momento presente da sociedade portuguesa”,
assinala-se que o país “tem de dar o seu contributo à evolução positiva, concretamente
da União Europeia e da zona Euro, e só o fará se resolver positivamente, reconquistando
a credibilidade, o momento que passa”. Aos governantes, a CEP pede que “o esforço
de equilíbrio financeiro não prejudique a economia, e que não se relativize a importância
da saúde, da cultura e da educação”, desejando “moderação das opções ideológicas e
estratégicas”, com pouca “margem, legítima em democracia, para utopias”. Esta é
primeira tomada pública de posição do episcopado sobre a situação do país, após as
legislativas de 5 de junho, que abriram caminho à formação de um novo governo de coligação
entre PSD e CDS-PP. O documento sublinha que bispos e sacerdotes devem estar à
margem da “polémica que naturalmente acompanha o debate partidário”, justificando
a presente declaração com a vontade de “ajudar a discernir o caminho da salvaguarda
do ‘bem comum’ de toda a sociedade, no momento difícil que Portugal atravessa”. Os
prelados alertam que os “partidos, sobretudo os seus representantes que o povo elegeu,
as associações laborais, empresariais e outras são chamados à generosidade de defenderem
os seus direitos e interesses, dando prioridade total ao bem de toda a sociedade”. “A
prioridade do ‘bem comum’ de toda a sociedade sobre interesses individuais e grupais
é um dos pilares da doutrina da Igreja sobre a sociedade e que pode, neste momento,
inspirar as opções governativas. Vamos pôr o bem da sociedade em primeiro lugar”,
apelam. Aos cristãos, os bispos pedem que “os pobres, os desempregados, os doentes,
as pessoas de idade” estejam na “primeira linha” das preocupações, para “lançar os
dinamismos para a construção de uma sociedade mais fraterna e solidária”. Após
criticar “expressões de egoísmo” como a “corrupção” ou o “enriquecimento ilícito”,
o comunicado frisa que “o próprio sistema de justiça tem de ser um serviço que combata
os atropelos à generosidade, à honestidade e à verdade”. A CEP refere que “os próximos
tempos vão exigir partilha de bens”, pelo que será necessário “criar um dinamismo
coletivo de generosidade e de partilha voluntária, fundamentada no amor à pessoa humana”. “Não
é a mesma coisa partilhar generosamente e ser obrigado a distribuir”, indica a nota
do episcopado. O Conselho Permanente do organismo episcopal recorda que “alguns
líderes políticos, no calor da disputa eleitoral, referiram a Doutrina Social da Igreja
para secundar as suas propostas políticas” e refere, agora, que os mesmos “tinham
o direito de o fazer, pois a vastíssima doutrina da Igreja sobre a sociedade pode,
realmente, inspirar programas de governação”. “A Igreja quer, não apenas pela sua
palavra, mas pelo seu compromisso na ação, ser a afirmação da esperança”, concluem
os bispos.