Rio de Janeiro, 05 jun (RV) - Neste domingo, 5 de junho, Solenidade da Ascensão
do Senhor, celebramos o 45º Dia Mundial das Comunicações Sociais. Lançamos oficialmente
neste final de Semana o 7º Mutirão Brasileiro de Comunicação que acontecerá no Rio
de Janeiro de 17 a 22 de julho próximos, precedido do 1º Seminário de Comunicação
para os Bispos do Brasil.
Nesta mesma semana estaremos celebrando a Novena
em preparação a Pentecostes e a Semana de Orações pela unidade dos cristãos. Sem dúvida
que tudo isso tem muito a ver também com a comunicação entre nós.
O Dia Mundial
das Comunicações, único criado pelo Concílio Vaticano II, afigura-se como um convite
direcionado, indistintamente, a todos nós para refletirmos e agirmos com compromisso
cristão e ético nas fronteiras da Comunicação Social – patrimônio da humanidade que
ganha, no mundo de hoje, contornos nunca antes imaginados, que se modificam em velocidade
estonteante, em escalas exponenciais.
Como de costume, a cada ano temos a
feliz oportunidade de aprofundar um tema em voga que contribua para avaliarmos as
mudanças, os cenários, promessas e desafios que a comunicação, sobremaneira em sua
feição tecnológica, provoca. O tema que o Papa Bento XVI escolheu para 2011 não poderia
ser mais prolífico e adequado aos nossos tempos: “Verdade, anúncio e autenticidade
de vida, na era digital”. O assunto que esse tema enseja possui o frescor da atualidade
e exorta a todos a restituir a verdade e autenticidade no anúncio da Boa-Nova.
Para
tanto, a missão de cada um de nós é, antes de tudo, reafirmar a essência das mídias,
antigas e novas, recuperando as sábias palavras do Papa Pio XII: “[...] os maravilhosos
progressos técnicos, de que se gloriam nossos tempos, sem dúvida, são fruto do engenho
e do trabalho humano”, a fim de que cada cristão e cada cristã possa fazer do universo
da comunicação social um espaço autêntico de propagação da Verdade que é Jesus Cristo.
Não
podemos nos abster de cumprir essa tarefa no momento em que os artefatos tecnológicos
ocupam posição central e abarcam todos os domínios da atividade humana. É necessário
que coloquemos em funcionamento operadores éticos, que coíbam abusos e favoreçam a
emancipação humana nesse terreno.
As observações do Santo Padre, o Papa Bento
XVI, na mensagem para o 45º Dia Mundial das Comunicações Sociais, não deixam margem
à dúvida no que se refere à importância da comunicação em nossas vidas: “Vai-se tornando
cada vez mais comum a convicção de que, tal como a Revolução Industrial produziu uma
mudança profunda na sociedade através das novidades inseridas no ciclo de produção
e na vida dos trabalhadores, também hoje a profunda transformação operada no campo
das comunicações guia o fluxo de grandes mudanças culturais e sociais. As novas tecnologias
estão a mudar não só o modo de comunicar, mas a própria comunicação em si mesma, podendo-se
afirmar que estamos perante a uma ampla transformação cultural. Com este modo de difundir
informações e conhecimentos, está a nascer uma nova maneira de aprender e pensar,
com oportunidades inéditas de estabelecer relações e de construir comunhão.”
A
realidade construída pela comunicação digital é irreversível, como sabemos, fazendo
surgir uma cultura nova, afetando, em larga medida, os relacionamentos. A propósito,
é aos relacionamentos que o Papa Bento XVI dedica parte significativa de sua bela
mensagem. Num contexto em que as informações e o conhecimento são permutados intensivamente,
em que as fronteiras entre emissor e receptor de mensagens são diluídas, é necessário
que tenhamos consciência do nosso papel e das consequências dos nossos atos. Os intercâmbios
no espaço digital não devem se oferecer apenas para troca banal de dados, como adverte
o Santo Padre, tampouco estar subjugados a ilusões narcísicas de satisfação imediata
e superficial do eu, mas deve, primordialmente, favorecer o diálogo e a partilha.
Com
tanto mais razão essa advertência do Papa Bento XVI é direcionada, prioritarimente,
aos jovens, por se constituírem polo de atração vulnerável ao estabelecimento de novos
contatos, novas descobertas, ao exercício da visibilidade – possibilidades expressamente
exploradas pela internet. Por extensão, essa advertência deve ressoar nos corações
e mentes dos adultos, deve impulsionar a todos para buscar efetivamente partilhas,
consolidar laços, arregimentar amizades sem, contudo, cairmos nas armadilhas do artificialismo,
tampouco nos isolarmos em um mundo virtual paralelo onde os relacionamentos à distância
nos satisfaçam provisoriamente.
A esse respeito, o Santo Padre nos pergunta:
“Quem é o meu próximo?”, “em qual mundo vivemos?”. Sem contestar os avanços logrados
pela internet, Bento XVI esclarece que esses mundos virtuais não substituem o relacionamento
interpessoal. Com as novas tecnologias podemos nos encontrar para além dos “confins
do espaço e das próprias culturas”, e isso supõe uma coerência de vida e honestidade
de princípios. É o retorno do velho ditado que o segredo está justamente no “ser humano”,
um operador desses veículos de transmissão e informação. Essas advertências nos levam
a refletir sobre o papel da evangelização nesse contexto.
A busca de amizades
e de laços afetivos torna o espaço das mídias sociais um lugar de intensas movimentações
e exibição de si próprio (pensamentos, desejos e ações). O lastro que a cultura virtual
vai deixando em nossa trajetória abre um leque diverso de oportunidades: não raro
vemos a exploração dessas mídias para a propagação de candidatos a cargos políticos,
para difamações de pessoas, de grupos étnico-raciais, para convocação momentânea de
manifestações públicas. O alcance dessas mídias são ferramentas indispensáveis, que
chegam a ser fonte de notícias para os jornais impressos.
Os relacionamentos
efêmeros e as trocas passageiras encetadas pela internet e outros dispositivos digitais,
por sua vez, nos conduzem a uma ponderação ainda mais profunda: qual ideal de humano
temos e qual podemos construir? Certamente, o desenrolar dessas questões nos reenvia
para os modos de utilização desses meios. A Igreja, no seu compromisso com uma outra
comunicação, vem dotando seus fiéis com vários estudos e debates consubstanciados
em textos e documentos, a exemplo de Igreja e Internet (28.02.2002), Ética na Internet
(28.02.2002) e Ética nas Comunicações Sociais (02.06.2000), além da carta apostólica
O Rápido Desenvolvimento (24.01.2005). A propósito, essas mesmas preocupações estão
previstas de maneira resumida no documento conciliar Inter Mirifica, que completará
cinquenta anos em 4 de dezembro de 2014.
Não nos olvidemos: as múltiplas possibilidades
de interação com os meios digitais, com a cultura virtual não podem e nem devem estar
desvinculadas do diálogo que vivifica, da comunhão que nos redime, a fim de que a
grande rede seja de fato uma instância criativa de identificação coletiva, de aproximação
do outro e, fundamentalmente, de transmissão do Evangelho. A nossa vocação não
pode ser desprezada, pois somos chamados a testemunhar com coerência os juízos, perfis,
escolhas, preferências, de maneira que transpareça as razões “de nossa esperança”,
a proclamar que Cristo “constitui a resposta plena e autêntica”.
Especialmente
para nós no Brasil, esse Dia Mundial das Comunicações vai ressoar as conquistas oriundas
do trabalho da Comissão Episcopal, procurando sempre dar a resposta plena e autêntica
a Jesus Cristo, com a graça de Deus: a criação da Signis Brasil, instituição articuladora
por congregar todos os meios de comunicação católicos de nosso país, e a publicação
do documento de Estudos da CNBB n. 101, intitulados A comunicação na vida e missão
da Igreja no Brasil, base fundamental para a construção do futuro Diretório das Comunicações,
ainda tão sonhado e desejado, são alguns empreendimentos que visam fazer dos tentáculos
comunicacionais instrumentos a serviço da obra de Deus. A criação da Comissão Episcopal
Pastoral para a Comunicação criada em nossa Assembléia Geral realizada em Maio em
Aparecida demonstra o apreço e a importância que o nosso episcopado dedica a esse
tema.
Menção seja dada também à equipe de assessoria nacional da Pastoral da
Comunicação, que vem dedicando suas reflexões e estudos para oferecer análises e propostas
adequadas aos comunicadores por meio da publicação de novo livro sobre a nossa estimada
Pastoral da Comunicação (Pascom). Não podemos deixar de recordar novamente do Seminário
de Comunicação para os Bispos do Brasil, a ser realizado em julho deste ano, promovido
em parceria com o Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais. Esse seminário
procura reposicionar as discussões sobre o tema, levando em conta as reflexões contidas
na mensagem do Papa para o Dia Mundial das Comunicações de 2011, bem como as diretrizes
estabelecidas pela Igreja para esse expediente.
Uma nova cultura está nascendo
através de uma nova linguagem e que nos lança desafios enormes diante da mudança de
época que ora vivemos. Dessa maneira, resta-nos convidá-lo a integrar a geração digital,
com a plena convicção de que somos chamados a aceitar o desafio de fazer dessas novas
formas de expressão o areópago digital, onde Cristo mostra seu rosto e nos convoca
para a conversão. Portanto, o nosso desafio é trabalhar em nossas comunidades, paróquias,
pastorais de comunicação, propagando o tema do Dia Mundial e colaborando para que
a “Verdade, anúncio e autenticidade de vida, na era digital”, seja uma realidade incontornável
em nosso entorno e no mundo.
Dom Orani João Tempesta, O.Cist. Arcebispo
metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro