Belo Horizonte, 05 jun (RV) - Paulo de Tarso, apóstolo, admirável por sua erudição,
religiosidade e caráter cosmopolita, por isso merecedor da consideração que, depois
de Jesus Cristo, seu Senhor, é único, esteve no famoso areópago de Atenas, no percurso
de sua ação missionária. O evangelista Lucas, no livro dos Atos dos Apóstolos, capítulo
dezessete, narra que o areópago era o lugar onde os atenienses e estrangeiros residentes
na cidade passavam o tempo a contar ou a ouvir novidades. Lá os frequentadores queriam
saber o que significavam as coisas. Convidado por filósofos epicureus e estóicos,
carregando uma inquietação, e até revolta, por ver a cidade entregue à idolatria,
Paulo foi ao local e, de pé, discursou movido pelo sonho e compromisso com a verdade,
consciente que seu encontro é garantia da direção certa para a vida. É, também, possibilidade
de correções de rumos e entendimentos que podem aprimorar a cidadania na sua integridade.
O Papa Bento XVI, na sua mensagem para o 45º Dia mundial das Comunicações
Sociais, em 5 de junho - domingo da ascensão do Senhor - trata sobre o areópago digital
que emoldura a vida contemporânea. Essa festa litúrgica, importante no calendário
da Igreja Católica, celebra o acontecimento da elevação de Jesus Ressuscitado aos
céus, enquanto abençoava os discípulos e por eles era adorado, deixando-lhes a tarefa
missionária de continuar sua obra. Voltando a Jerusalém, depois de revestidos do Espírito
Santo, espalharam-se pelo mundo inteiro e entre desafios e exigências, próprios da
época – como os temos, também, nos dias atuais -, cumpriram a tarefa do anúncio da
Verdade e o compromisso com a autenticidade de vida, como é preciso na internet que
configura e mantém, hoje, o areópago digital. O Papa refere-se à revolução industrial,
produtora de mudanças profundas na sociedade com novidades inseridas no ciclo de produção
e na vida dos trabalhadores, assim como à grande transformação operada no campo das
comunicações, que guia o fluxo de amplas mudanças culturais e sociais. De fato, é
impressionante o volume de informações e possibilidades de intercâmbio, partilhas
e interação que a internet oferece.
Essa consideração aponta um fenômeno maravilhoso,
acesso a tudo para todos, em processo de socialização, gerando responsabilidades e
exigindo reflexões para que não se percam os parâmetros das obrigações, sem comprometimentos
com a cidadania. Como também, entre outros aspectos, a exigência, em qualquer âmbito:
no trabalho profissional, na família, no governo de instituições ou no exercício missionário
das confissões religiosas, a importância insubstituível e inadiável no uso das ofertas
e possibilidades próprias da tecnologia da informação. Conhecimentos e informações
são difundidos, produzindo nova maneira de pensar e aprender, com uso adequado, como
oportunidades inéditas de estabelecer relações e construir comunhão, salienta o Papa.
No entanto, há o desafio de refletir sobre o sentido da comunicação na era digital.
As possibilidades oferecidas pelos novos meios são maravilhosas, não dispensam reflexões,
encaminhamentos e ordenamentos quanto às extraordinárias potencialidades da internet
e a complexidade de suas aplicações. O Papa lembra que esse fruto do engenho humano
tem que estar a serviço do bem integral, tanto da pessoa quanto da humanidade. Ele
recomenda que, usada com sabedoria, pode contribuir para satisfazer o desejo de sentido,
verdade e unidade, que permanece como aspiração mais profunda do ser humano.
Compreende-se
que essa conquista do engenho humano não é apenas um facilitador de trabalhos ou algo
moderno que, por exemplo, substituiu a velha máquina de datilografia. Ou trouxe possibilidades
de saber coisas com mais agilidade, não dispensando ninguém, nem as instituições,
em particular as educacionais, de abraçar, mesmo com muitos investimentos a prática
nesse areópago digital. A força de uma rede social aponta a importância do conhecimento
partilhado e a interação. É verdade que desafia o entendimento da comunicação como
diálogo, intercâmbio, solidariedade e criação de relações positivas, sublinha Bento
XVI; e a colisão com a parcialidade da interação, até o risco de cair no narcisismo.
O mundo mudou, está mudando e vai mudar ainda mais, com exigências e desafios no anúncio
da verdade. Na vivência da fé, no exercício comprometido da cidadania, possibilitando
e exigindo participação na vida da cidade e na defesa dos direitos. É inevitável,
para não correr o risco de estar fora do mundo e não realizar a própria missão, dominar
o alcance do social network do contemporâneo areópago digital.
Dom Walmor Oliveira
de Azevedo Arcebispo de Belo Horizonte