Cidade do Vaticano, 03 jun (RV) - “Cerca de 300 mil pessoas estão fugindo do
governo islâmico do Sudão, em direção do novo Sudão do Sul. Elas precisam de alimento,
medicamentos e até de capas plásticas para se protegerem no início da estação das
chuvas”.
Há mais de trinta anos como missionário no país africano, Dom Cesare
Mazzolari é o bispo da diocese de Rumbek, no Sudão do Sul, desde 1999. Ele concedeu
uma entrevista, na sede da Rádio Vaticano, lembrando as palavras de João Paulo II:
“Cesare, envio você a uma terra onde existe uma guerra injusta. Você tem que tentar
cuidar dessas pessoas”.
A guerra civil durou 23 anos e custou 2 milhões de
vidas humanas no Sudão único. Em janeiro passado, 98% da população votaram a favor
da independência em referendo popular. Juba será a nova capital do 54º país africano.
Será um dos mais pobres do continente: 75% da população não têm acesso a serviços
básicos de saúde e há enormes dificuldades para se obter água e alimentos. Nesta região,
92% das mulheres não sabem ler nem escrever, não há eletricidade e o fornecimento
de água é administrado por empresas privadas, por meio de caminhões tanque.
Para
o bispo italiano de Rumbek, serão necessários “de 5 a 10 anos para sair da pobreza,
até porque o nível da classe dirigente é igual a zero”.
“Temos que trabalhar
pela unidade e pela integração, ajudar os retirantes, mas também nos preocupamos com
a Igreja do Sudão. Tememos que o governo de Cartum não renove os vistos dos missionários,
retire os fundos para as ajudas, desaproprie as escolas e os centros cristãos” - diz.
“Existe
um mal-estar entre os jovens e diversas tribos, porque a Constituição de 2005 foi
escrita a portas fechadas. Também nós, como Igreja, ficamos de fora. Gostaríamos de
mais participação, das pessoas e da Igreja”.
Dom Mazzolari resumiu afirmando
que “o sul do Sudão quer nascer democrático, mas falta abertura ao povo”. “Esta independência
é símbolo da liberdade obtida de maneira pacífica e construtiva; a verdadeira liberdade
à moda africana. A Síria, a Líbia, todos querem uma liberdade genuína, e isto o Sudão
do Sul conseguiu. Mas o caminho a trilhar ainda é muito longo”. (CM)