BENTO XVI: COM CRISTO O HOMEM ENTROU PARA SEMPRE NO ESPAÇO DE DEUS
Cidade do Vaticano, 02 jun (RV) - Celebra-se nesta quinta-feira, no Vaticano,
a Ascensão do Senhor, solenidade que a Igreja no Brasil, bem como a maior parte das
Igrejas no mundo – seguindo o calendário litúrgico –, celebrará no próximo domingo.
A
ascensão de Jesus ao céu é o mistério da fé cristã que torna particularmente próximo
à sensibilidade humana o conceito da viagem rumo à "pátria celeste".
Reiteradas
vezes Bento XVI deteve-se sobre essa solenidade, como brevemente recordamos a seguir.
Jesus
eleva-se da terra e uma nuvem subtrai-O dos olhos de seus discípulos. Trata-se de
seu último ato após a Ressurreição. Daquele instante no Monte das Oliveiras, como
afirma a tradição, Jesus sai fisicamente da história humana para entrar fisicamente
no Reino de seu Pai.
Mas entre as duas dimensões do céu e da terra permanece
uma continuidade. As nuvens com as quais Cristo é coberto não são o símbolo de uma
porta que se fecha. A continuidade, a porta que permanece aberta entre terra e céu
– explica o Santo Padre –, é o próprio Jesus:
"No Cristo que subiu ao céu o
ser humano entrou de modo inaudito e novo na intimidade de Deus; o homem encontra
para sempre espaço em Deus. O 'céu' não indica um lugar acima das estrelas, mas algo
de muito desejável e sublime: indica o próprio Cristo, a Pessoa divina que acolhe
a humanidade plenamente e para sempre, Aquele no qual Deus e homem estão inseparavelmente
unidos." (Missa em Cassino, 24 de maio de 2009)
O dinamismo da Ascensão
não pode deixar de transportar os pensamentos da alma ao dinamismo inverso, da Encarnação,
quando o Filho de Deus abriu pela primeira vez, com a sua vinda entre os homens, o
caminho de comunicação entre o céu e a terra. Mas já naquela "descida" – afirma o
Papa – está contida a ascensão que depois se realizará. E o está de um modo que nenhum
asceta jamais poderá igualar, porque é somente de Cristo:
"De fato, Ele veio
ao mundo para reconduzir o homem a Deus, não em nível ideal – como um filósofo ou
um mestre de sabedoria –, mas realmente, qual pastor que quer reconduzir as ovelhas
ao aprisco. Esse "êxodo" rumo à pátria celeste, que Jesus viveu em primeira pessoa,
viveu totalmente por nós. Foi por nós que desceu do Céu e foi por nós que a ele subiu,
após ter-se feito em tudo igual aos homens, humilhado até a morte de cruz, e após
ter tocado o abismo do máximo distanciamento de Deus." (Regina Caeli de 4 de maio
de 2008)
A Ascensão é, por assim dizer, o "caminho" oposto do máximo distanciamento.
Com ela Jesus volta para junto do Pai. E, todavia, disse Bento XVI, a Ascensão não
é uma "temporânea ausência do mundo". Porque Jesus prometeu que permanecerá junto
aos seus para sempre.
Portanto, aquela elevação que deixa silenciosos os poucos
privilegiados que a assistem não é o início de um fim, e muito menos uma extraordinária
saída de cena do mundo. É mais que isso: é a indicação de uma direção, a trajetória
à qual são chamados aqueles que seguirão o Evangelho.
É a imagem que dá uma
grandeza e uma profundidade ao mistério do "já e ainda não":
"O Senhor atrai
o olhar dos Apóstolos ao Céu para indicar-lhes como percorrer o caminho do bem durante
a vida terrena. Ele, todavia, permanece na trama da história humana, está próximo
de cada um de nós e conduz o nosso caminho cristão: é companheiro dos perseguidos
por causa da fé, está no coração dos marginalizados, está presente naqueles aos quais
é negado o direito à vida." (Regina Caeli, 16 maio de 2010)
A Ascensão
torna tangível também outra realidade: a da transcendência da Igreja. Ao tempo em
que constrói o Reino de Deus sobre a terra, a Igreja caminha rumo a seu outro destino.
A
Igreja, observou o Papa, "não nasceu e não vive para substituir a ausência de seu
Senhor "desaparecido", mas, pelo contrário, encontra a razão de seu ser e da sua missão
na permanente, embora invisível, presença de Jesus, uma presença operante mediante
a potência de seu Espírito. Em outros termos, podemos dizer que a Igreja não desempenha
a função de preparar o retorno de um Jesus "ausente", mas, pelo contrário, vive e
atua para proclamar a sua "presença gloriosa" de modo histórico e existencial". (Missa
em Cassino, 24 de maio de 2009)