Diálogo com Islão ameaçado por «tensões étnicas, nacionais e ideológicas
(1/6/2011) O vice-presidente do Conselho das Conferências Episcopais da Europa (CCEE)
afirmou esta terça-feira que a procura do diálogo entre cristãos e muçulmanos é uma
realidade em “muitos Estados”, que querem dar-lhe um “enquadramento institucional”. No
entanto, “esse esforço enfrenta atualmente as tensões étnicas, nacionais e ideológicas
que atravessam aquelas comunidades” lamentou o cardeal Jean-Pierre Ricard, na sessão
de abertura de um encontro sobre diálogo interreligioso, na cidade italiana de Turim. Até
ao próximo dia 2 de junho, bispos e delegados europeus são convidados a refletir sobre
“a forma como cada pais europeu olha para o Islão”, e sobretudo “a influência que
as imagens de violência vindas do outro lado do Mediterrâneo podem ter, na construção
de um sentimento de intolerância europeia contra os muçulmanos”. “O medo do Islão
e a ‘islamofobia’ fazem-se sentir nas nossas sociedades europeias, ligados a uma cadeia
de acontecimentos complexos” sublinhou o prelado, apontando para fatores como “o terrorismo
internacional, a situação das minorias cristãs em alguns países muçulmanos ou a crescente
visibilidade social do Islão na Europa, que tem vindo a alterar a paisagem simbólica
de alguns países ocidentais”. O responsável do CCEE manifestou-se ainda preocupado
com o “populismo” que domina “algumas eleições europeias”, e que tem levado a “misturar
a rejeição do islamismo com manifestações anti-imigração”. Uma atitude que, segundo
o cardeal Jean-Pierre Ricard, « pode ser encontrada igualmente entre as comunidades
cristãs, em particular nos discursos daqueles que se questionam acerca se o Islão
não poderá renovar a sua aliança com o marxismo”. “Tratam-se de matérias que deveremos
analisar de modo muito atento” concluiu aquele responsável. O objetivo final deste
encontro de três dias passa, de alguma forma, pela definição de uma “perspetiva comum”
das diversas conferências episcopais da Europa, face à maneira de enquadrar e desenvolver
o relacionamento com a comunidade muçulmana do Ocidente. Uma meta que ganhou ainda
maior urgência, para os responsáveis da CCEE, depois da onda de revoluções políticas
e sociais que atingiu diversas nações árabes, como o Iémen, a Tunísia ou o Egito. Estes
acontecimentos trouxeram para o Velho Continente uma enorme massa humana, com religiões,
costumes e tradições diferentes.