Maringa, 28 maio (RV) - "Estamos no mundo, mas não somos do mundo" (Jo 17,16).
Diante desta afirmação de Jesus, não precisamos nos preocupar em competir no mercado,
nem buscar ser os melhores ou maiores. Somos comunidade de pessoas que creem em um
só caminho, que é Jesus. "Eu sou o caminho a verdade e a vida". (Jo14,6)
A
comunidade deve ser cada vez mais uma comunidade de pessoas livres, profundamente
marcadas por um relacionamento pessoal com Jesus. Nós não temos uma mercadoria para
ser vendida e sim uma proposta de vida a ser vivida.
No seu livro "Luz do Mundo",
o Papa Bento XVI, em uma conversa com o jornalista alemão, Peter Seewald, tratando
dos mais variados assuntos, afirma: "Não somos um centro de produção, não somos uma
empresa voltada para o lucro, somos Igreja. Somos uma comunidade de pessoas que vivem
na fé. Nossa tarefa não é criar um produto ou conseguir êxito nas vendas. Nossa tarefa
é viver exemplarmente a fé, anunciá-la, e mantermo-nos em uma relação profunda e,
assim com o próprio Deus, não ser um grupo utilitarista, mas uma comunidade de pessoas
livres que se doam, e que atravessam nações e culturas, o tempo e o espaço".
A
única competição que vale a pena é aquela de quem é capaz de amar mais. Na dinâmica
do amor, criar relacionamentos verdadeiros, estabelecer laços de unidade, buscar
o que nos une e não o que nos divide, seja no âmbito interno, da comunidade, como
externo. Assim seremos um testemunho que atrai pessoas sedentas de uma experiência
de fé, desejosas de uma comunidade onde todos se querem bem e buscam colocar em prática
os ensinamentos do evangelho. Esse é o desejo de Jesus: "Que todos sejam um, como
Tu, Pai, estás em mim e eu em ti. E para que eles estejam em nós, afim de que o mundo
acredite que tu me enviaste". ( Jo, 17,21)
Estamos no mundo da concorrência,
da competição, da propaganda, do consumismo. Porém, nunca podemos entrar neste mesmo
esquema, que escraviza, tirando a liberdade de ação e pensamento. Por isso a missão
da Igreja Católica e das demais igrejas é ser um caminho concreto, um meio de levar
a proposta do Evangelho de Jesus para o cotidiano.
Então fica difícil entender
que o preconceito religioso possa ser algo inerente ao cristianismo, fazendo com que
frequentadores de algumas denominações não aceitem esse ou aquele irmão porque ele
é desta ou daquela igreja, como se fosse a igreja, a religião que garantissem a Salvação.
Fica
difícil entender que seja do Evangelho a atitude de um cristão que se nega entrar
na igreja do outro porque "lá não é de Deus".
Não entendo que faça parte do
Evangelho afirmar que "aqui tem salvação e lá não", que "aqui há milagres e lá não",
que "aquela igreja leva para o inferno e aqui não".
Não posso entender que
seja do Evangelho de Nosso Senhor Jesus, orar para que "aquela igreja não vá pra frente".
Quando e como o mundo vai acreditar no Senhor Jesus se os cristãos viverem competindo
como se fossem empresas buscando clientes?
Tenho participado do Grupo de Diálogo
Inter-religioso (GDI). Que experiência maravilhosa! Sentar juntos, orar juntos, dialogar
sem preconceitos com o monge budista, com o xeique muçulmano, com os lideres da fé
Bahá’í, com os líderes do candomblé e da umbanda, com os representantes do espiritismo,
com representantes do Cristianismo, evangélicos e católicos.
Um testemunho
vivo de que é possível viver sem concorrência, sem querer ser melhores ou maiores.
Ali vale o amor entre pessoas criadas à imagem e semelhança de Deus. O caminho a percorrer
é longo. Não podemos permanecer nas diferenças e sim fazer a diferença neste mundo
dividido, competitivo e empresarial.
Que neste caminho não nos falte a coragem
de quebrar as máscaras criadas em nome do Evangelho, e deixar brilhar o verdadeiro
rosto de quem descobriu o verdadeiro rosto amoroso de Deus, que amou por primeiro,
que ama a todos, que ama sempre, sem olhar se este ou aquele é desta ou daquela igreja.