Jales, 28 maio (RV) - Nestes dias Bento 16 pediu para rezar pela China. Estabeleceu
a festa de Nossa Senhora Auxiliadora, 24 de maio, como dia de oração pela China.
Na
política internacional, não se costuma rezar por ninguém. Ao contrário, o que se pratica
entre os países é uma rígida concorrência, cada um tentando tirar vantagens dos outros.
Aliás, a China vem se mostrando eficiente e ousada no uso desse expediente, aproveitando
bem o fato de ter sido admitida, recentemente, entre os países que se comprometem
a seguir as normas do comércio internacional.
O problema é a situação interna
da China. Ela sabe tirar proveito de suas excepcionais vantagens comparativas, sobretudo
pelo número impressionante de sua população. São mais de um bilhão e trezentos milhões
de chineses. Com uma cultura milenar que valoriza o trabalho, podemos imaginar quantos
estão à espera de um emprego nas novas indústrias que vão se instalando na China,
para explorar sua mão de obra barata.
Além deste fato, a China soube integrar
e colocar a serviço de sua economia duas dimensões que pareciam contraditórias: a
rígida disciplina do regime político herdado do comunismo que ainda permanece, e a
abertura econômica proporcionada pelo capitalismo, praticado na China sem respeitar
as conquistas sociais obtidas pela classe trabalhadora nos países ocidentais.
A
China mistura comunismo de estado com capitalismo de mercado, e tira proveito dos
dois. Mantém um rígido controle das demandas sociais da população, e escancara as
portas para a chegada de capitais estrangeiros, a quem oferece garantida de salários
baixos e rígida disciplina social.
Assim fazendo, a China se torna em fator
altamente desequilibrador do comércio internacional. Explorando sua abundante mão
de obra, e coibindo avanços sociais, pode facilmente oferecer produtos com preços
muito mais baixos do que os provenientes de países que precisam arcar com os custos
das justas demandas já consolidadas dos direitos trabalhistas e das obrigações sociais
das empresas.
Certamente, a oração que o Papa pediu não é para mudar este
quadro preocupante da influência negativa da economia chinesa no mercado mundial.
Pois aqui se poderia inverter a afirmação de Cristo para os apóstolos que não tinham
conseguido expulsar o demônio teimoso de um pobre menino. “Esta raça de demônios
só se expulsa com muita oração”. Com a China é o caso de dizer: esta exploração do
trabalho humano só se combate com muita conscientização dos trabalhadores e com a
justiça e solidariedade entre os povos.
Mas existem, sim, outras situações
da China que nos convidam para a oração, que abre caminho para a aproximação amigável
com este grande país, de rica tradição cultural e de enorme potencial humano.
A
começar pela esperança que representam os quatro milhões de cristãos chineses, que
experimentam de maneira muito peculiar as tensões políticas do regime chinês. Seu
número parece inexpressivo. Mas é significativo. O governo chinês reconhece a Igreja
Católica como uma das quatro expressões religiosas autorizadas no país. Isto não é
nada desprezível, e abre caminho para esperanças que ainda permanecem.
De
resto, a relação da China com a Igreja Católica remonta a cinco séculos. Depois de
passar longos anos conhecendo a cultura chinesa, o Pe. Matteo Ricci, no século 16,
se deu conta que a Igreja deveria assumir as características culturais do povo chinês.
Infelizmente não foi compreendido.
Agora o governo chinês pretende ser ele
a nomear os bispos. À primeira vista, parece uma evidente intervenção estatal em assuntos
internos de uma religião. Mas, quem sabe, por linhas tortas, a história não esteja
preparando o caminho para a concretização do sonho de Matteo Ricci. De tal modo que
aconteça na China, e também nos outros países, o que o Papa Bento 16 em sua carta
aos católicos chineses já recomendou: quando precisam de um bispo, vejam se entre
o clero de sua diocese não encontram um padre que possa assumir esta missão. E se
não encontram na sua diocese, que procurem nas dioceses vizinhas.
Que boa
idéia! Quem diria que o governo comunista da China poderia ajudar a Igreja Católica
a dar novos passos no caminho da inculturação do Evangelho, na China e no mundo todo!