Sob a proteção de Maria, Mãe da Unidade o Papa colocou todo o povo italiano,
para que o Senhor lhe conceda os dons inestimáveis da paz e da fraternidade, e do
desenvolvimento solidário.
(26/5/2011) “Um intenso momento de oração, para confiar à proteção materna de Maria
– Mater unitatis – todo o povo italiano, a 150 anos da unidade política do país”:
foi com estes termos que Bento XVI definiu o encontro de oração a que presidiu nesta
quinta-feira à tarde, na basílica de Santa Maria Maior, com todos os Bispos italianos,
em Roma para a assembleia geral. A oração – recordou o Papa – é “sempre um dar espaço
a Deus: a sua ação torna-nos participantes da história da salvação”.
Bento
XVI sublinhou que a basílica de Santa Maria Maior é a primeira, no Ocidente, a ter
sido dedicada à Virgem Mãe de Deus. De facto, o edifício remonta ao século V, em ligação
com o Concílio de Éfeso, celebrado em 431.
“Em Éfeso, a Igreja unida defendeu
e confirmou para Maria o título de Theotokos, Mãe de Deus: título de conteúdo cristológico,
que remete para o mistério da incarnação e exprime no Filho a unidade da natureza
humana com a natureza divina”.
“Aliás – prosseguiu ainda Bento XVI – são a
pessoa e as vicissitudes de Jesus de Nazareth que iluminam o Antigo Testamento e o
próprio rosto de Maria. Nela se entrevê, em contra-luz, o projeto unitário que entrelaça
os dois Testamentos. Na sua história pessoal se encontra a síntese de todo um povo,
que coloca a Igreja em continuidade com o antigo Israel.” É nesta perspetiva que assumem
sentido cada uma das histórias pessoais, a começar pelas figuras femininas, “em cuja
vida se encontra representado um povo humilhado, derrotado, deportado”. E são elas
também a personificar a esperança… são o “resto santo”, sinal de que “o projeto de
Deus não permanece uma ideia abstrata, mas encontra correspondência numa resposta
pura, numa liberdade que se doa sem nada manter para si, num sim que é pleno acolhimento
e dom perfeito”. Algo de que Maria é a mais alta expressão. “Não é a fé que é uma
alienação: são outras as experiências que desfiguram a dignidade do homem e a qualidade
da convivência social” – advertiu Bento XVI, aludindo à realidade histórica italiana,
nestes 150 anos de Estado unitário, onde não faltaram expressões da presença do Evangelho…
“Celebrando
os 150 anos da sua unidade política, a Itália pode-se orgulhar da presença e da ação
da Igreja. Esta não procura privilégios nem entende substituir-se à responsabilidade
das instituições políticas. Respeitando a legítima laicidade do Estado, a Igreja está
atenta a apoiar os direitos fundamentais do homem. Entre estes, estão antes de mais
as instâncias éticas e portanto a abertura à transcendência, que constituem valores
prévios a qualquer jurisdição estatal, enquanto inscritos na própria natureza da pessoa
humana”.
Dirigindo-se especialmente aos Bispos italianos, numa perspetiva
aberta ao futuro, o Papa exortou-os a estimularem os leigos católicos a não desertarem
as suas responsabilidades na promoção concreta do bem comum:
“Não hesiteis
em estimular os leigos a superarem qualquer espírito de clausura, distração ou indiferença,
levando-os antes a participar em primeira pessoa na vida pública. Encorajai as iniciativas
de formação inspiradas na doutrina social da Igreja, de tal modo que quem é chamado
a responsabilidades políticas e administrativas não permaneça vítima da tentação de
tirar partido da sua posição por interesses pessoais ou por sede de poder”.
Num
país em que desde sempre perduram os contrastes entre um Norte mais rico e desenvolvido
e um Sul que mal consegue superar as suas dificuldades crónicas, o Santo Padre pediu
aos Bispos italianos para “renovarem as ocasiões de encontro”, de parte a parte.
“Ajudai
o Norte a recuperar as motivações originárias daquele vasto movimento cooperativo
de inspiração cristã que animou uma cultura da solidariedade e do desenvolvimento
económico. Por outro lado, provocai o Sul a fazer circular, em benefício de todos,
os recursos e as qualidades de que dispõe e aquelas formas de acolhimento e de hospitalidade
que o caraterizam”.
“Continuai a cultivar um espírito de colaboração sincera
e leal com o Estado, sabendo que essa relação é benéfica não só para a Igreja como
também para todo o país” – exortou ainda o Papa dirigindo-se aos Bispos italianos.
Bento XVI concluiu confiando o povo italiano á proteção de Maria, “mãe da unidade”.
“Sob a proteção da Mater unitatis colocamos todo o povo italiano, para que
o Senhor lhe conceda os dons inestimáveis da paz e da fraternidade, e, portanto, do
desenvolvimento solidário. Ajude as forças políticas a viverem também o aniversário
da Unidade como ocasião para reforçar o elo que une a nação, superando todas as contraposições
preconcebidas. Que as diferentes legítimas sensibilidades, experiências e perspetivas
se possam recompor num quadro mais amplo para buscar conjuntamente aquele que verdadeiramente
contribui para o bem do país”.