Londres, 26 maio (RV) – Publicado relatório que denuncia a violência e as violações
de Direitos Humanos cometidas na Costa do Marfim após o segundo turno das eleições
presidenciais de 28 de novembro de 2010. Resultado de seis meses de pesquisa de campo,
o documento intitula-se “eles viram a sua carteira de identidade e o mataram”.
Um
título impactante para uma realidade que vai além do impacto: centenas de pessoas
assassinadas (inclusive por critérios étnicos e políticos), mulheres e adolescentes
vítimas de violências sexuais de todos os tipos e centenas de milhares de pessoas
obrigadas a migrar para outras partes do país ou mesmo para fora dele.
A organização
humanitária recolheu numerosos testemunhos de vítimas de violências, cometidas tanto
pelos partidários do ex-presidente Laurent Gbagbo, quanto pelas forças armadas do
novo presidente Alassane Dramane Ouattara.
Em entrevista à agência Fides,
o diretor das Pontifícias Obras Missionárias da Costa do Marfim, o sacerdote Alphonse
N’Guessan N’Guessan, disse que “a prioridade, como Igreja, é promover a reconciliação
das pessoas, e que a violência deixou muito rancor na população”. “Decidimos dedicar
todo esse ano e também 2012 à reconciliação nacional” – disse. A próxima iniciativa
será um encontro de três dias, a ser realizado em setembro, dedicado às crianças e
intitulado “Aprender a Viver Juntos”. O evento será realizado em sete cidades do país
com o objetivo de espalhar o espírito de tolerância e de comunhão, e também de amor
para com o próximo.
Mons. Alphonse contou que os danos materiais foram pesados,
principalmente em alguns bairros da capital Abidjan, onde os confrontos foram intensos.
Muitas pessoas perderam seus empregos, pois muitas atividades econômicas foram destruídas.
Ele ressaltou ainda o problema dos refugiados internos e dos que foram para os países
vizinhos, como Libéria e Gana, estes últimos que não tem mais casas para onde voltar
e são ameaçados de morte. As perdas de dignidade, de esperança, de vontade de
viver, de vidas, porém, são bem mais difíceis de se recuperar. A Anistia Internacional
recolheu depoimentos de mulheres que contam que foram violentadas dentro das próprias
casas, por grupos de soldados; outras coagidas por autoridades do governo, outras
atacadas nas ruas.
Para o pesquisador da ONG Gaëtan Mootoo, a situação ainda
é muito frágil no país, e as violações dos direitos humanos continuam a ser cometidas,
principalmente na capital, contra partidários de Laurent Gbabo, agora preso. (ED)