EGITO: ANISTIA INTERNACIONAL PEDE GARANTIA DE JUSTIÇA ÀS VÍTIMAS
Cidade do Vaticano,
20 mai (RV) – À luz do processo contra o ex-ministro das Relações Interiores do
Egito, Habib El Adly, que faz referência a diversas acusações, entre elas o assassinato
de manifestantes durante os protestos contra o ex-presidente Murabak, na Praça Tahrir,
a Anistia Internacional solicita às autoridades que a justiça às vítimas seja garantida.
Em
um relatório publicado hoje a organização denuncia o assassinato de 840 pessoas, além
de mais de 6 mil feridos, alguns dos quais com lesões permanentes, sem contar as torturas
as quais foram submetidos. A Anistia Internacional pede ainda o ressarcimento econômico
às vítimas, incluso o pagamento das despesas médicas. O porta-voz da Anistia Internacional
na Itália, Riccardo Noury, em entrevista à Rádio Vaticano, ressalta a necessidade
de por um fim definitivo às torturas no Egito.
"Isso é indispensável. Se quisermos
dar um passo adiante depois da queda do ditador, é preciso mudar as leis e o estado
de emergência que deu poderes ilimitados às forças de segurança para prender, manter
o silêncio da oposição à força e praticar torturas", explica Noury.
Força
excessiva
A Anistia Internacional documentou ainda a forma com a qual os
opositores que estavam na praça foram assassinados. "Pessoas assassinadas com tiros
a queima roupa na parte do tórax, outras muitas com tiros na cabeça e no peito. Vítimas
que também ficaram cegas depois de serem atingidas pelos disparos. Isso tudo sem contar
as torturas executadas nas prisões militares. Para que se abra uma nova página na
história do Egito é preciso haver outros processos além do apontamento dos responsáveis",
enfatizou o porta-voz.
O relatório destaca ainda a preocupação sobre o fato
de que o processo contra o ex-ministro se torne o único senso de justiça no Egito.
Riccardo Noury destaca: "Apesar de todas as atrocidades cometidas, neste momento a
justiça parece estar caminhando apenas contra Habib El Adly, que deve ser processado
nas próximas 48 horas. Mas não podemos pensar que tudo se resolva apenas com esse
processo, já que tanto as forças de segurança ligadas ao regime de Murabak, quanto
as forças armadas são o eixo do atual governo de transição e têm a responsabilidade
de fazer justiça".
Em referência à "primavera" do mundo árabe, sobre as revoltas
dos últimos meses, a Anistia Internacional tomou como positiva a revolução. Apesar
da divulgação do relatório, a própria organização reconhece que, neste momento, será
difícil convencer as autoridades egípcias a atender os pedidos de justiça. O porta-voz
finaliza: "Tenho muitas dúvidas quanto a isso, porque nesta fase ainda está em vigor
o estado de emergência. Existem ainda outros impedimentos, como a lei que limita fortemente
as manifestações e as greves. Esta manhã recebemos a notícia da condenação a morte
de um menor de idade, no momento do crime, quando estuprava uma também menor de idade.
É uma fase em que existe muito, muito ainda a ser feito. (AI/RB)