ARCEBISPO VEGLIÒ: NÃO A POLÍTICAS IMIGRATÓRIAS POR DEMAIS RESTRITIVAS
Cidade do Vaticano, 19 mai (RV) - O Presidente e o Subsecretário do Pontifício
Conselho da Pastoral para os Migrantes e os Itinerantes, respectivamente, Dom Antonio
Maria Vegliò e Pe. Gabriele Bentoglio, fizeram, de 2 a 14 do corrente, uma visita
pastoral à Austrália, encontrando as comunidades imigradas, os bispos locais, os capelães
e os agentes de pastoral.
A visita tinha a finalidade de encorajar o compromisso
da Igreja num setor particularmente importante e de grande empenho. De fato, numa
população de cerca de 21 milhões de habitantes, existem cerca de 5 milhões de trabalhadores
migrantes, 22.500 refugiados e 2.350 com pedido de asilo.
Entrevistado pela
Rádio Vaticano, o Arcebispo Vegliò nos diz a que ponto se encontra a atuação da Pastoral
para os migrantes e os refugiados, feita pela Igreja na Austrália?
Dom Antonio
Maria Vegliò:- "Efetivamente, a Igreja na Austrália aproveita todas as ocasiões
que tem para entabular um diálogo com as instituições governamentais em defesa da
dignidade de toda pessoa humana, inclusive de quem se encontra em situação irregular,
e o faz justamente como ação pastoral. Há mais de um ano a Igreja busca assegurar
a presença estável de um sacerdote ou de uma religiosa no centro de detenção de Christmas
Island, enquanto outros centros são regularmente visitados por agentes que oferecem
uma ajuda pastoral a todos, prescindindo da fé professada. Essa presença se faz com
escuta e encorajamento, que depois se reflete em toda a sociedade dando voz às histórias
de vida daqueles que se encontram presos nos centros de detenção, fazendo conhecer
as suas vicissitudes e as suas aspirações."
RV: A legislação australiana
é particularmente dura em relação aos migrantes sem documentos. Podemos falar de uma
realidade que desafia a capacidade da Igreja de educação ao acolhimento?
Dom
Antonio Maria Vegliò:- "Ninguém deixa o próprio país, a casa e a família para
embarcar-se e arriscar a vida a não ser obrigado pela urgência de encontrar segurança
para si e para os seus entes queridos. A Igreja chama a atenção para a criminalização
dos migrantes e para o estereótipo de que eles são uma ameaça para a segurança, exortando,
ao invés, a olharem para a contribuição positiva e para o papel importante que eles
desempenham para o desenvolvimento tanto dos países que os acolhem, quanto daqueles
dos quais provêm, também do ponto de vista econômico – com o seu trabalho e com o
envio de dinheiro. Mais em geral, a Igreja pede uma reflexão sobre a coerência histórica:
podemos compreender a Austrália de hoje sem a contribuição dos trabalhadores migrantes?
Daí nasce a atenção sobre as conseqüências de políticas migratórias excessivamente
restritivas que, a meu ver, não podem conter quem está em busca de segurança e que,
aliás, podem impelir os migrantes nas mãos de traficantes e exploradores. É óbvio,
então, que a Igreja esteja preocupada com políticas que se concentram somente em repelir
os migrantes." (RL)