Aparecida, 13 mai (RV) - Na penúltima coletiva de imprensa, da 49ª Assembleia
Geral da CNBB, ontem no centro de eventos Padre Vitor Coelho, em Aparecida (SP), o
bispo da prelazia de Marajó (PA) Dom José Luiz Azcona falou sobre o tráfico de seres
humanos na região Norte/Nordeste do Brasil. Já o bispo de Nova Iguaçu (RJ), Dom Luciano
Bergamin, destacou a escalada de violência que aflige o país, em destaque o estado
do Rio de Janeiro.
Uma pesquisa realizada em 2007 por três países, Brasil,
Espanha e Portugal sobre tráfico de mulheres, mostrou que existe uma rede internacional
poderosa atuando no Suriname, Brasil, República Dominicana e Guiana. Segundo Dom José
Luiz Azcona, não apenas o tráfico seres humanos, a região é marcada também pelo tráfico
de armas e drogas.
“Há um espaço de 300 km, da ponta do Amapá, até o Pará,
onde não há presença da marinha brasileira. Então é por ali que se entram armas e
drogas e saem mulheres, jovens para a Guiana e para todas as partes do mundo. Outra
rota internacional que se conhece sai de Marajó, passa por Belém e chega até Guarulhos,
e depois até Madri”, explicou Dom Azcona.
“Existem pessoas na Comissão Justiça
e Paz, do Regional Norte 2 da CNBB (Amapá e Pará), que trabalham ajudando essas pessoas
exploradas, que são ameaçadas de morte. Se não for com a ajuda da Igreja, principalmente
a católica, essas pessoas não teriam aporte nenhum, estariam entregues totalmente
a essas redes internacionais, que repito, são fortíssimas, pois o Governo não faz
e nunca fez nada para protegê-las”, destacou Dom José Luiz Azcona, lembrando da atuação
da Igreja no Pará e na Ilha de Marajó.
Segundo o bispo de Marajó, que é um
dos ameaçados de morte, seu trabalho cotidiano é combater “a maior degradação e a
maior ferida humana”, que é a venda de seres humanos, para retirada de órgãos ou prostituição.
“Meu trabalho envolve minha vida. A morte é minha companheira cotidiana, mas se tiver
que dar a minha vida em prol das pessoas que ajudamos, farei isso sem nenhum ressentimento”,
explicou o bispo prelado, destacando que a maior parte das pessoas que estão envolvidas
com pedofilia, tráfico de seres humanos, de drogas e de armas, são gente de alto escalão
dos diversos segmentos da sociedade civil, incluindo parlamentares, juízes, desembargadores,
delegados e comando das polícias.
“Para criarmos uma cultura de paz devemos
valorizar alguns setores da sociedade. O primeiro deles é a família. Se a família
vive a cultura de paz, 50% de mais importante já foi feito, se não, se se vive a cultura
de violência, aí começamos a degradação humana total”, destacou o bispo de Nova Iguaçu,
Dom Luciano Bergamin, afirmando o valor da família como pilar na contenção da violência
no país.
O bispo apresentou três fatores, que em sua visão, são essenciais
para a criação da cultura da paz. “Primeiro, na família que se começa a não violência.
Segundo, as escolas. Eu acho que as escolas têm um papel muito importante na valorização
da vida. E dentro da escola, o ensino religioso deveria formar cidadãos, ou seja,
gente que se ama e que ama a terra. Terceiro, as religiões. As religiões não devem
ser pautadas na conquista de fieis, mas sim no propósito do amor de cristo, que morreu
na cruz para nos salvar”, explicou.
Dom Luciano reiterou a proposta enviada
ao Congresso Nacional de desarmamento. “O Brasil é um país sem guerras, mas é o que
mais morre pessoas no mundo vítimas da violência. Os números giram em torno de 50
mil ao ano. Não basta apenas declarações de repúdio, de marchas e caminhadas contra
a violência, precisamos de ações mais concretas, pois, a violência é implacável. Por
isso precisamos de uma educação para a paz. O desarmamento social deve ser uma ação
concreta. E o maior desarmamento deve vir do coração”, disse. (CM-CNBB)