Jales, 03 mai (RV) - E´ preciso refazer o conceito de desenvolvimento. Tempo
atrás a questão era pacífica. A proposta se impunha como evidente. Tratava-se de promover
o desenvolvimento, e ponto. Ninguém questionava as circunstâncias, nem as condições
requeridas. Nem se duvidava do conceito, que parecia unívoco. Sendo desenvolvimento,
era bom, necessário e inclusive indispensável para a sociedade acessar outros valores
importantes.
O auge deste consenso em torno da urgência e da necessidade do
desenvolvimento pode ser colocado na década de sessenta, no século passado, em plena
euforia da reconstrução da Europa após o desastre da segunda guerra mundial. Mais
precisamente, o ano de 1967, quando Paulo VI publicou a famosa encíclica sobre “O
Desenvolvimento dos povos” a “Populorum Progressio”. Em latim, a palavra “progressio”
difere da palavra “progressus”. Esta última expressa um conceito mais restrito, de
“progresso”, de “crescimento”, ao passo que a palavra “progressio” expressa o conceito
mais complexo, de “desenvolvimento”, de transformação ampla, de novo patamar da sociedade.
Foi
nesta encíclica que o Papa resumiu a importância do desenvolvimento, afirmando que
“o desenvolvimento é o novo nome da paz”.
Pois bem, com a crise do petróleo
em 1970, que levou ao impasse do endividamento dos “países em desenvolvimento”, o
conceito começou a ser questionado, e passou a exigir a integração de outras dimensões,
além do mero crescimento ou do simples “progresso”.
O primeiro questionamento
foi de ordem social. O desenvolvimento não poderia agravar as desigualdades já existentes.
Ele devia ser “inclusivo”. Todos deveriam participar do bolo.
Portanto, se
questionava a dimensão meramente econômica do desenvolvimento. Mas se achava que a
dimensão social era uma concessão, a ser feita para evitar tensões maiores, que poderiam
eventualmente complicar ainda mais o jogo de interesses da sociedade. A dimensão social
ainda era vista como um estorvo, um empecilho, uma concessão. Ainda não era vista
como um fator de garantia e de sustentação do verdadeiro desenvolvimento.
Depois
começou a emergir com força a dimensão ecológica. O desenvolvimento precisava levar
em conta a escassez de recursos, evitar o desperdício, e não comprometer o equilíbrio
ambiental. Aqui também, a preservação ambiental vista ainda como um freio ao desenvolvimento,
como uma fatalidade a ser contornada. Não como um fator positivo de garantia de autenticidade
de um verdadeiro desenvolvimento humano, econômico e social.
Estamos finalmente
chegando a um novo conceito de desenvolvimento, que não só tolera as três dimensões,
mas as considera como fatores positivos que se apóiam mutuamente. Quanto mais uma
economia é pensada e realizada em vista da participação de todos, mais sólida ela
se torna. E quanto mais respeita o meio ambiente, mais segurança ela tem de contar
com bases firmes de sustentação.
O Brasil deu uma boa demonstração desta verdade.
Foi repartindo o bolo, que ele cresceu. E daria para dar outros exemplos. E´ preservando
as abelhas que elas podem fecundar melhor as flores, e garantir o sucesso das safras.
As três dimensões são do interesse de todos. A palavra “sustentável” é a
que melhor qualifica este conceito novo de desenvolvimento. Mas a Ministra do Meio
Ambiente flagrou bem o problema. Quem deve carregar a bandeira da sustentabilidade
não é só o Meio Ambiente. Disse ela que “está na hora do desenvolvimento sustentável
sair do gueto do Meio Ambiente, para ser assumido por todos os Ministérios”, como
uma causa que interessa a todos. Quanto mais partilhada, mais sólida se torna a economia.
E quanto mais ela respeitar a natureza, mais segurança ela terá de sua perenidade.
De novo se comprova que nosso desafio é integrar dimensões que parecem contraditórias,
mas na verdade são complementares.