(1/5/2011) A beatificação de João Paulo II, presidida pelo seu sucessor, Bento XVI,
é um acontecimento “sem precedentes”, com paralelo apenas na Idade Média. Na história
da Igreja Católica nunca um Papa beatificou o seu antecessor, ainda que as regras
para estas cerimónias, como hoje as conhecemos, tenham sofrido alterações significativas
ao longo dos séculos. Após o anúncio do final do processo de beatificação de João
Paulo II, a 14 de janeiro, o jornal do Vaticano assinalava que “nos últimos dez séculos
nenhum Papa elevou às honras dos altares o seu imediato predecessor” e mesmo esses
casos aconteceram “em contextos não comparáveis com a decisão de Bento XVI”. Celestino
V foi canonizado em 1313, menos de 20 anos depois da sua morte, e dois séculos antes
fora imediatamente reconhecida a santidade de Leão IX e Gregório VII, em 1054 e 1085,
acrescentava o «Osservatore Romano». O último Papa proclamado santo foi Pio X (1835-1914),
canonizado em 1954, que se juntou a outros 78 bispos de Roma nessa condição. Pio
IX, falecido em 1878, e João XXIII, que morreu em 1963, foram os dois últimos papas
a ser beatificados, ambos por João Paulo II, em 3 de setembro de 2000. Nos primeiros
séculos do cristianismo, o reconhecimento da santidade acontecia em âmbito local,
a partir da fama popular do santo e com a aprovação dos bispos. Ao longo do tempo
e sobretudo no Ocidente, começou a ser solicitada a intervenção do Papa a fim de conferir
um maior grau de autoridade às canonizações: a primeira intervenção papal deste tipo
foi de João XV em 993, que declarou santo o bispo Udalrico de Augusta, que tinha morrido
vinte anos antes. As canonizações tornaram-se exclusividade papal por decisão de
Gregório IX em 1234 e no decorrer do século XVI começou a distinguir-se entre “beatificação”,
isto é, o reconhecimento da santidade de uma pessoa com culto em âmbito local, e “canonização”,
o reconhecimento da santidade com a prática do culto universal, para toda a Igreja
Católica. Também a beatificação se tornou uma prerrogativa da Santa Sé e o primeiro
acto deste tipo refere-se à beatificação de Francisco de Sales, pelo Papa Alexandre
VII em 1662. Hoje em dia todas estas normas encontram-se na constituição apostólica
«Divinus perfectionis Magister» (25 de janeiro de 1983) de João Paulo II e nas normas
traçadas pela Congregação para as Causas dos Santos