Rio de Janeiro, 1º mai (RV) - Hoje foi beatificado o cidadão universal, João Paulo
II. Soube amar e deixou-se amar por todos. Foi o grande anunciador do Kerigma a todos
que pediu para que ninguém tivesse medo e abrisse as portas a Cristo! O operário,
professor, que viveu em regimes de exceção em sua terra natal é para nós o sinal que
em qualquer situação podemos corresponder à graça de Deus para viver a nossa vocação
à santidade.
São muitos os enfoques desse homem de Deus e poderíamos discorrer
sobre tantos assuntos, mas creio que, hoje, temos necessidade de refletir a importância
de uma fé madura com pessoas que se convertem e se tornam discípulas missionárias
anunciadoras do Cristo Ressuscitado. A misericórdia de Deus e o tempo da Páscoa,
nesse dia que nos recorda toda a questão social com relação ao trabalho, sem dúvida,
que necessitamos de uma fé que se traduza em atos, mas também que seja aprofundada
no conhecimento e na vida.
O Beato João Paulo II tanto com seus escritos, como
suas homilias e mensagens foi alguém que procurou aprofundar a fé como um bom catequista,
além de tantas outras virtudes.
Quando falamos de catequistas, logo pesamos
em testemunhas vivas tanto da mensagem como do próprio Cristo. Numa catequese verdadeiramente
cristocêntrica, o catequista não pode ser senão uma testemunha não só em palavras,
mas também em atitudes junto aos seus catequizandos. Porque a grande missão da catequese
se dá mediante o anúncio da Boa Nova de Jesus Cristo. Assim quando dizemos ou pesamos
em exemplos ou testemunhos de pessoas com relação a catequese, logo nos vêm aqueles
e aquelas que trabalham junto conosco, que se doam no trabalho catequético junto a
nossas comunidades, como também alguns que se destacam mais no amor e na vivência
do Múnus de Ensinar da Igreja.
Na sua primeira visita ao Brasil em 1980, durante
uma homilia em Porto Alegre, o Papa João Paulo II fez uma belíssima exortação aos
catequistas, que é muito atual. No início de sua pregação o Romano Pontífice exorta:
"Filhos diletíssimos, vim para conhecer-vos melhor, para escutar-vos, para entrar
em diálogo convosco, para mostrar-vos que a Igreja está perto de vós e partilha os
vossos problemas, as vossas dificuldades e sofrimentos, as vossas esperanças".
Percebemos,
com esta saudação, que o Papa veio ao nosso país com um desejo muito grande de escutar
o apelo do nosso povo, de conhecer melhor a Igreja no Brasil e, principalmente, dialogar,
conhecendo os nossos problemas, na busca de encontrar novos caminhos. Como sucessor
de Pedro, veio encorajar todos os brasileiros a permanecerem unidos na fé.
O
educador na fé procura continuar a missão iniciada por Jesus guiado pelo Espírito
Santo. Este serviço na Igreja é de fundamental importância. O Santo Padre valorizando
o ministério dos catequistas afirma: "Que serviço mais belo que o do catequista que
anuncia a Palavra divina, que se une com amor, confiança e respeito ao próprio irmão,
para ajudá-lo a descobrir e realizar os desígnios providenciais de Deus sobre ele?"
Eis que a missão do catequista consiste também em fomentar que as nossas comunidades
sejam mais acolhedoras e catequizadoras. O catequista é um anunciador da Palavra,
alguém que procura de fato vivenciá-la no dia a dia.
O testemunho do Papa João
Paulo II é fundamental, pois não se pode separar a fé da vida quotidiana. O educador
na fé tem uma tarefa extremamente árdua e delicada, porque a catequese não é um simples
ensino, mas a transmissão de uma mensagem de vida e salvação, como jamais será possível
encontrar em outras expressões do pensamento humano. Quem diz “mensagem”, diz algo
mais do que doutrina.
A mensagem não se limita a expor idéias, ela exige uma
resposta, pois é interpelação entre pessoas, entre aquele que propõe e aquele que
responde. A mensagem é vida. Cristo anunciou a Boa Nova, a salvação e a felicidade.
Por ser uma mensagem de vida, é que o Papa, todas as quartas-feiras, em audiência
geral no Vaticano, catequiza o povo.
Sendo assim, diante do reconhecimento
da Igreja, o Beato João Paulo II, no seu longo e profícuo pontificado, foi um Papa
que foi Papa e também um grande exemplo de catequista em seu zelo e amor a Jesus Cristo
e a sua Igreja; fez o que devia fazer, porém de maneira extraordinária no modo como
fez e nos meios usados para isso. O Beato João Paulo II, grande catequista que foi
e fez com amor e usou dos recursos que o mundo moderno lhe ofereceu, o que lhe proporcionou
ser um Papa Santo e exemplo de um grande catequista, carregando em seu coração de
Papa as dores e as alegrias de toda a humanidade.
Amando os seus, no caminho
do amor de Jesus Cristo, soube fazer com que nos colocássemos no mesmo caminho. Não
teve receio de conhecer o mundo e de ser conhecido por ele, não teve medo de abraçar
e de ser abraçado, não sucumbiu à tentação de resguardar-se, mas viu e deixou-se ver,
até mesmo em sua fragilidade física durante as doenças e no final de sua vida. Não
esperou as pessoas, foi ao encontro delas, estreitando-as em seus braços.
Como
Papa, mas também antes como fiel, catequista, padre e bispo, viveu oblativamente,
fazendo de sua vida uma oferenda a Deus através do serviço à Igreja. Assim vivendo,
perdendo a sua vida para retomá-la depois, tornou-se semente que morre, produzindo
muitos e bons frutos que enriqueceram a Igreja e tornaram o mundo melhor e mais bonito.
A sua vida foi uma experiência “de morte”, a sua morte é uma fonte de vida. A
sua existência torna-se um estímulo para vivermos a fé, a esperança e a caridade de
modo novo, como servos cuja preocupação não deve ser outra senão a de fazer a Vontade
do Pai, como fez Jesus Cristo, obediente até à morte e morte de cruz, e que se tornou
fonte de salvação para a humanidade. Como “servo dos servos de Deus”, o Beato João
Paulo II fez o que devia ter feito, foi um autêntico cristão servindo a Igreja como
Papa.
Agradecemos a Deus a vida e o ministério do Papa João Paulo II, agora
nosso Beato. Nós nos alegramos com a sua beatificação, associamo-nos à oração de toda
a Igreja e, oxalá, esperamos que sua vida de fé, de discípulo e missionário de Jesus
Cristo, seja estímulo para buscarmos, também nós, a santidade como modo fecundo de
vida, respondendo positiva e propositivamente ao dom da santidade que Deus nos oferece
em Jesus Cristo, morto e ressuscitado para a nossa santificação.
Assumindo
a Catequese como prioridade no seu pontificado, o papa motivou nos países a elaboração
de diretórios nacionais e regionais adaptando-os a cada realidade. Respondendo a esse
desejo a Igreja no Brasil que busca, na Iniciação Cristã encontrar o melhor caminho
para aprofundar a fé de nosso povo.
Toda a Igreja hoje expressa sua gratidão
e amor ao Santo Padre, o Beato João Paulo II, pela sua doação, serviço, instrução
e entrega da vida. Ele, como ninguém, soube ser presença cristã no limiar do século
XXI anunciando e vivendo valores importantes para a pessoa humana. Hoje pedimos: Beato
João Paulo II, roga por nós!
† Orani João Tempesta, O. Cist. Arcebispo Metropolitano
de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ