Tóquio, 28 abr (RV) - Dia 26, de manhã cedo, fui até a cidade de Sendai, a
capital da Província de Miyagi, bem ao lado do epicentro do terremoto do dia 11 de
março. Era o segundo dia em que o trem bala, shinkansen, havia retomado as operações.
Ao contrário do dia anterior, nenhum corte de energia aconteceu na viagem de ida e
volta. Algumas linhas de trens locais ainda não estão completamente restabelecidas
devido que o tsunami levou embora a ferrovia. Até o momento o aeroporto de Sendai
não tem serviço de trens, mas está operando. No trajeto de 363 quilômetros entre
Tóquioo e Sendai, pude ver ainda muitas casas de um ou dois andares com os telhados
danificados. Neste estágio, os trabalhos ainda estão mais concentrados na infraestrutura,
estradas, ferrovias e aéroportos e na limpeza do lixo provocado ou trazido pela invasão
da água do mar. Na periferia de Sendai pode-se observar, em estado final de construção,
um enorme complexo de casas provisórias para onde serão transferidas centenas de pessoas
que atualmente estão em abrigos de emergência. São pequenas, todas enfileiradas, mas
tem máquina de lavar roupa, banheira, geladeira e outros equipamentos. A menos
de um quilômetro de distância do complexo de casas provisórias, foram trazidas toneladas
de lixo da região costeira, que estão sendo separadas de acorda com o material que
o compõem. Todo o trabalho é feito por meio de máquinas. A cidade de Sendai, apesar
de estar relativamente próxima ao epicentro do terremoto, os danos materiais não foram
o que se esperaria de um dos quatro abalos sísmicos mais fortes de que se tem registro.
Os danos são observados mais nos telhados das casas de 1 ou 2 andares construídas
algumas dezenas de anos atrás. Edifícios de 10 ou mais andares e casas de construção
mais recente, pouco sofreram, graças à tecnologia que os japoneses desenvolveram em
laboratórios e que é aplicada nas edificações. Os estrangeiros que moram na região
são poucos. Por ser uma região menos industrial do que outras, as atividades estão
mais concentradas na agricultura e pesca. Por serem poucos, estão esparramados pela
região. Não sabemos se alguns deles morreram por causa do tsunami. Entre os brasileiros
até o momento não se sabe de nenhum morto. Um missionário da sociedade “Missionários
de Quebec”, Canadá, morreu de ataque cardíaco no dia seguinte como consequência do
terremoto, depois de passar a noite no carro. Por enquanto estamos tendo muitas
dificuldades para encontrar os brasileiros que ficaram por lá. Nesta visita exploratória
percebi que eles, em geral, moram bastante longe um do outro. Será necessário tempo
e paciência para encontrá-los, pois na região nem mesmo uma igreja católica que os
assiste em português existe. Com pessoas do local estamos tentando marcar um dia e
lugar para ter um encontro em meados de maio. No momento, eles estão muito preocupados
com os processos para receber o seguro desemprego, ajuda pública de subsistência e
se inscrever no “Hello Work”, instituição governamental que orienta e ajuda para encontrar
emprego e assuntos afins. À distância, estamos enviando comida seca ou enlatada
e material de higiene limpeza para ser distribuído não só para eles, mas também aos
japoneses e estrangeiros de outras nacionalidades. Nas áreas próximas ao mar, o
trabalho é de limpeza e criando condições para que os pescadores voltem ao mar. Muitos
deles estão nos seus barcos atracados lavando-os e recuperando o que foi estragado. Ao
longo da costa de Higashi-shiogama há ainda montanhas de entulho composto por barcos,
carros amassados e detritos de toda espécie sendo transferidos para barcaças que levarão
tudo para locais de classificação. Os portos pesqueiros e toda a estrutura foram
destruídos. Algumas indústrias relacionadas com a pesca estão se preparando para reiniciar
suas atividades. Sendo o Japão um país com o território 80% formado por montanhas,
ao longo da costa existem muitos lugares que foram conquistados ao mar para a construção
de estradas, portos, armazéns e etc. Com o terremoto e tsunami, todas elas tiveram
rebaixamentos, rachaduras e desmoronamentos. Esta talvez seja a mensagem que isso
nos deixa: até onde podemos avançar naquilo que é próprio da natureza. O trabalho
de reconstrução é enorme. O que pude ver é a clara determinação de reconstruir tudo.
Trabalho e dedicação não faltam. As pessoas que são vistas nos lugares de desastre
estão trabalhando. Não vi nenhum visitante curioso e nem pessoas fazendo fotos. Podem-se
ver, sim, trabalhadores silenciosos e abnegados liberando as áreas e limpando tudo.
(SP-OM) Padre Olmes Milani - Missionário no Japão