Jales, 28 abr (RV) - Por mais que o Primeiro de Maio tenha perdido sua fisionomia
de luta social, o trabalho permanece na ordem do dia. Nas palavras do Papa João Paulo
Segundo, em sua Encíclica Laborem Exercens, o trabalho continua sendo “uma chave,
provavelmente a chave essencial, de toda a questão social”. Em seguida, acrescenta
que a questão social vai se tornando cada vez mais complexa, e dentro dela “a realidade
do trabalho humano assume uma importância fundamental e decisiva.” Acontece
que o trabalho voltou à ordem do dia, na encruzilhada dos debates políticos e econômicos. A
recente onda de “desregulamentação social” atingiu o trabalho de maneira frontal.
Algumas conquistas conseguidas a duras penas, durante décadas de lutas sindicais,
se diluem hoje e perdem força social. O descanso semanal ficou seriamente comprometido.
E´ crescente o número de empresas que nem interrompem suas atividades nos finais de
semana. Ou até fazem dos finais de semana a oportunidade para suas promoções especiais.
Desta maneira, é relegado a segundo plano o direito do trabalhador ao descanso coletivo.
Desta maneira, até a programação pastoral fica comprometida. E´ cada vez mais
difícil encontrar um horário que seja propício à comunidade, pois a necessidade do
trabalho para a sobrevivência inviabiliza a participação nos encontros de pastoral.
Outra realidade que emerge hoje, e atinge diretamente o trabalho humano, é o ritmo
alucinante na execução das grandes obras de infra estrutura, onde se fazem os contratos
coletivos de trabalho, que acabam esgotando rapidamente a capacidade do trabalhador
e sua resistência física. Basta lembrar, recentemente, os problemas acontecidos
nas obras das represas de Jirau e Santo Antonio, no Rio Madeira. A exploração
do trabalho é uma tendência que emerge, sob formas novas, de diversas maneiras. Já
acabou o tempo da escravidão. Mas ainda encontramos em nosso país situações de trabalho
escravo, que o poder público procura combater com severidade. As grandes fazendas
no interior do Brasil são os lugares mais propícios para estas aberrações que ainda
existem. Elas se tornam mais graves ainda, quando são escravizadas crianças e adolescentes,
como recentemente a Pastoral dos Migrantes denunciou nas carvoarias do Mato Grosso.
São todas realidades que mostram como não podemos arriar a bandeira da luta pelo
trabalho livre, digno, e remunerado com justiça. Por outro lado, graças a Deus
estão surgindo formas de colocar em comum, livremente, o trabalho feito em mutirões,
visando o bem coletivo, em múltiplas formas de economia solidária, onde o fruto do
trabalho deixa de ser alienado para outros interesses, mas é colocado a serviço dos
próprios promotores desta solidariedade que se expressa pelo trabalho, colocado como
contribuição pessoal ao bem coletivo. Por aí podemos perceber como é mutante a
realidade do trabalho humano. Mas ele sempre vem ligado à sua finalidade precípua,
de meio de sobrevivência, e de atividade que desabrocha as capacidades das pessoas,
e as habilita para sua contribuição pessoal ao progresso da sociedade.