Rio de Janeiro, 25 abr (RV) - Em nossa aldeia global, os fatos locais adquirem
rapidamente projeção mundial. Ultimamente os acontecimentos negativos que machucam
nossas comunidades, em pouco tempo atingem o mundo como um relâmpago levando a comunidade
internacional a participar das dores e flagelos! Aliás, parece que nós nos acostumamos
tanto com esse tipo de comunicação que os bons acontecimentos mais raramente fazem
sucesso na mídia. É importante que saibamos dos fatos negativos para nos situarmos
no tempo e na história, mas tenho certeza que os fatos positivos são a maioria.
Aparentemente
fomos acostumados (quase diria condicionados) a gostar e consumir más notícias. Isso
é muito claro quando lemos os números da audiência nos diversos tipos de mídia. O
problema é que muitas vezes nós realimentamos os desequilíbrios presentes nas mentes
das pessoas. Nem sempre, a programação de boa qualidade e construtiva é apreciada.
É claro que existem exceções e, ultimamente, vemos com esperança que os responsáveis
pelas diversas mídias começam a trabalhar também as boas notícias. Porém ainda há
um grande caminho a percorrer para que os fatos positivos que são a maioria na sociedade
prevaleçam também na divulgação.
Lembrei-me exatamente disso ao ver a fácil
difusão das más notícias, das fofocas e das maledicências! E isso, evidentemente,
não apenas nas mídias sociais, mas em todo o nosso tecido social – infelizmente, também
em nosso meio eclesial. Eis o nosso grande desafio nestes atuais tempos: anunciar
ao mundo, guiados pela luz do Espírito Santo, que Deus é Pai, e enviou o Seu Filho,
Jesus Cristo, que deu sua vida por nós e está vivo ressuscitado e fazê-lo de tal maneira
que seja interessante e entusiasmante para todos.
Há certo tempo que essas
reflexões estão presentes em minhas meditações. Estava imerso nesses pensamentos sobre
como sermos portadores de formação, de boa notícia, de incentivo para a educação,
da difusão da cultura, e isso de forma que seja interessante para a maioria das pessoas,
quando pensava sobre a maior notícia de todos os tempos que estamos celebrando neste
final de semana.
Participamos nestes dias do Tríduo Pascal, ápice do ano litúrgico,
porque celebramos a Morte e Ressurreição do Senhor. Os três momentos litúrgicos, instituição
da Eucaristia, morte de cruz e Ressurreição, nos acompanharão por todos os dias de
nossas vidas, atualizados em cada Missa, pois Jesus Cristo realizou a obra da redenção
humana – morrendo, destruiu nossa morte e, ressuscitando, deu-nos nova vida.
É
lamentável que nem todos os cristãos estejam motivados para viver esses momentos profundos
de nossa fé: “fazer Páscoa”! Todos são chamados a participar intensamente desses momentos
celebrativos, aprofundando nossa vida de fé e compartilhando com nossos irmãos a alegria
de uma grande e bela notícia: Cristo Ressuscitou! E aí o questionamento: como dar
essa boa notícia ao mundo de hoje de tal forma que as pessoas se interessem por ela
e acolham-na com alegria e compromisso?
O kerigma, inicio da evangelização,
o anúncio explicito do Evangelho que é justamente o anúncio da maior notícia já vista
no cosmos; nós temos certeza de que é a resposta que todos aguardam, o anseio de todas
as nações – a grande notícia da salvação conquistada por Cristo para todos nós, que
porém, nem sempre conseguimos fazê-lo de forma com que muitos a acolham com alegria.
Como
existe a dificuldade de fazer as pessoas se interessarem pelas boas notícias, e, diante
da maior notícia de todos os tempos teremos duas possíveis respostas: de um lado acolher
e aceitar essa notícia ou, então, rejeitar e não aceitar. E a grande notícia é que
Cristo Ressuscitou, verdadeiramente Ressuscitou – Aleluia! Esta é a grande notícia
deste final de semana e a permanente mensagem dos cristãos. É realmente uma boa notícia,
a melhor notícia que, mesmo sem saber, todos desejam, e que nós temos a missão de
testemunhá-la e anunciá-la aos irmãos e irmãs.
Com a nova evangelização,
missão continental, missão permanente, a Igreja no Brasil insiste para que valorizemos
ainda mais o testemunho cristão pela vida, pela unidade, pelo serviço aos irmãos e
também a lectio divina, a proclamação da Palavra que nos ilumina e conduz a vida.
O entusiasmo ao anunciar esta boa nova não pode ser apenas uma técnica de oratória,
mas principalmente o testemunho de nossas vidas! Será que não é justamente isso que
está criando dificuldades? Lembro-me, em relação a isso, das palavras de Paulo VI
– que os homens de hoje aceitam muito mais as testemunhas que os mestres, e se acolhem
e aceitam os mestres é porque são testemunhas!
Porém, a nossa boa notícia
não é apenas teórica, como disse, mas principalmente existencial: vidas que renascem,
pessoas que saem dos seus túmulos, cegos veem, e tantos outros sinais que fazem parte
de testemunhar as maravilhas que Deus opera através dele. E esse é o como somos chamados
também a anunciar essa grande e bela notícia: e esse é o grande segredo – através
do testemunho de vida das pessoas.
Abramos os olhos, os corações, as mentes
e os braços para acolhermos – e com muita alegria – a alegria do anúncio de Cristo
Ressuscitado, e assim todo o nosso ser vibrará com esse acontecimento que entra na
história, e assim, nós O anunciaremos aos irmãos e irmãs.
E é justamente
aí que está a necessidade que temos de afirmar a boa nova da salvação a todos e que,
com abertura do coração, estejam cada vez ainda mais vivenciado o seu itinerário de
santidade e caminho para a vida. E nós somos enviados para que a manhã da ressurreição
traga horizontes novos na vida de nosso povo.
De braços abertos, saiamos anunciando
a todos a alegre e alvissareira notícia: Cristo Ressuscitou, verdadeiramente ressuscitou
– Aleluia! Este é o tempo da vida que renasce, e quando o Senhor costumeiramente nos
faz vibrar com sua força e com todas as graças.
Por isso nosso coração transborda
de alegria e cantamos com toda a Igreja: “exulte o céu, e os Anjos triunfantes, mensageiros
de Deus, desçam cantando; façam soar trombetas fulgurantes a vitória de um Rei de
um rei anunciando”. Uma feliz e santa Páscoa a todos!
† Orani João Tempesta,
O. Cist. Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ