PAIXÃO DO SENHOR: A CRUZ NÃO É SÓ JUÍZO DE DEUS SOBRE O MUNDO, MAS SEU SIM DE AMOR
Cidade do Vaticano, 22 abr (RV) - Bento XVI presidiu a Solene Ação Litúrgica
da Paixão do Senhor, na Basílica de São Pedro, no Vaticano, na tarde desta Sexta-Feira
Santa.
A homilia da liturgia de hoje, foi composta e proferida pelo Pregador
da Casa Pontifícia, Frei Raniero Cantalamessa. O sacerdote ressaltou, citando a 1ª
Carta de Paulo a Timóteo, que na sua Paixão, Jesus Cristo deu seu testemunho diante
de Pilatos, numa bela profissão de fé.
Nós nos perguntamos, testemunho de quê?
Não da verdade de sua vida e de sua causa. Muitos morreram, e ainda hoje morrem, por
uma causa equivocada, acreditando que seja justa. "A ressurreição, esta sim testemunha
a verdade de Cristo: Deus deu a todos prova garantida sobre Jesus, ressuscitando-o
dos mortos", disse São Paulo Apóstolo em seu discurso no Areópago de Atenas.
"A
morte não testemunha a verdade, mas o amor de Cristo", que deu sua vida não só pelos
amigos, mas também pelos seus inimigos. "Jesus morreu pelos ímpios" – escreve São
Paulo aos Romanos. "A rigor, alguém morreria por um justo, por uma pessoa muito boa
talvez alguém se anime a morrer, mas eis aqui uma prova brilhante do amor de Deus
por nós: quando éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós. Amou-nos quando éramos
inimigos, para poder nos tornar amigos" – frisou Frei Cantalamessa.
A cruz
não é só juízo de Deus sobre o mundo, refutação de sua sabedoria e revelação de seu
pecado, mas o seu SIM de amor. "A injustiça, o mal como realidade não pode ser simplesmente
ignorado, deixado como está. Deve ser eliminado, vencido. Apenas esta é a verdadeira
misericórdia" – disse ainda o frade capuchinho.
"Como ter a coragem de falar
do amor de Deus, enquanto temos diante dos olhos tantas tragédias humanas, como a
catástrofe que se abateu sobre o Japão, ou as mortes no mar Mediterrâneo nas últimas
semanas" – perguntou ainda o sacerdote.
"Permanecer em completo silêncio seria
trair a fé e ignorar o significado do mistério que celebramos" – frisou Frei Cantalamessa,
recordando que o mundo cristão volta a ser visitado pela prova do martírio. "Não podemos
silenciar perante este testemunho. Os primeiros cristãos honravam seus mártires. Os
atos de seus martírios eram lidos e distribuídos nas igrejas com grande respeito".
"O
mundo se inclina diante dos testemunhos modernos da fé" – ressaltou o frade capuchinho
recordando o ministro paquistanês, Shahbaz Bhatti, assassinado recentemente por causa
da fé. "O seu testamento é deixado também para nós, seus irmãos na fé, e seria ingratidão
deixá-lo cair no esquecimento" – frisou ele.
Falando ainda sobre o recente
terremoto e tsunami que abalaram o povo japonês e da solidariedade manifestada por
todo o mundo, Frei Cantalamessa ressaltou que "globalização tem ao menos este efeito
positivo: a dor de um povo se torna a dor de todos, suscita a solidariedade de todos.
Dá-nos a chance de descobrir que somos uma família humana, ligada no bem e no mal,
e nos ajuda a superar as barreiras de raça, cor e religião".
O sacerdote lembrou
que também houve um terremoto no momento da morte de Cristo, mas houve outro ainda
maior no momento de sua ressurreição: "E eis que houve um violento tremor de terra:
um anjo do Senhor desceu do céu, rolou a pedra e sentou-se sobre ela (Mt 28, 2)".
"Assim será sempre" – concluiu o frade capuchinho – "a cada terremoto de morte sucederá
um terremoto de ressurreição de vida". (MJ)