Cidade do Vaticano, 21 abr (RV) - A quinta-feira santa é o dia do Cenáculo,
o dia da intimidade, tal como a quis e viveu Jesus. A Igreja, na quinta-feira santa,
retorna à mesa da última ceia e revive com emoção o gesto do lava-pés. Um gesto extraordinário
e com uma mensagem cujo significado jamais se conseguirá esgotar. Vejam que coisa
incrível: Jesus, o Verbo Encarnado, Deus presente no meio de nós, o Infinito, o Onipotente,
simplesmente se ajoelha diante dos apóstolos e lava os pés deles. Somos chamados a
fazer como ele, ou seja, em nossas vidas ter gestos de serviço mútuo tornando presente
o amor de Jesus.
Ainda na quinta-feira santa a Igreja revive a emoção do dom
do sacerdócio. Jesus escolhe homens, como seus apóstolos, e lhes convida a continuar
a missão emprestando os olhos, a boca, os ouvidos, o coração, as mãos e os pés exercendo
o pastoreio fazendo as vezes de Cristo o Pastor do meu rebanho. Um dom extraordinário
o sacerdócio! E no sacerdócio o dom da Eucaristia: a última ceia que se atualiza.
A ceia que se torna o alimento cotidiano da comunidade dos discípulos que esperam
o retorno de Jesus. E enquanto espera o retorno de Jesus, celebra a presença de Cristo
na Eucaristia: o pão dos peregrinos, o pão daqueles que caminham, o pão daqueles que
têm muito que percorrer para alcançar a meta. E igualmente a quinta-feira santa é
o dia do dom do grande mandamento: o mandamento do amor, o mandamento que nos diferencia,
o mandamento que nos faz o povo da Nova Aliança. “Amai-vos como eu vos amei”, até
o fim, até o gesto extremo de dar a vida. Portanto, a quinta-feira santa é o dia em
que a Igreja deve continuamente reviver, continuamente revisitar para que possa ser
Igreja.
A Eucaristia é o grande dom que Jesus nos deixou neste tempo de espera.
é a presença de Jesus em nosso meio, a presença no gesto de amor. É preciso redescobrir
e aprofundar e bem celebrar a eucaristia que deve ser preparada e, depois de celebrada,
ser continuamente retomada para que, seja o centro de nossa vida. Conta-se que uma
vez Edith Stein, ainda na penumbra da busca da fé, entrou por curiosidade artística
em uma igreja de Colônia e ficou impressionada ao ver que algumas pessoas rezavam
diante do sacrário. Diante do fato percebeu que algo a tocou, pois teve uma clara
impressão de que aquelas pessoas estavam falando com Alguém. Vemos como seria muito
importante recuperar certos gestos, aprofundar a nossa vida e celebração e, neste
dia, em que celebramos a Páscoa da Ceia, preparando-nos para a Páscoa da Morte na
Cruz e a Páscoa da Ressurreição renovemos a nossa ação de graças por todos os bens
que recebemos do Senhor. Que a Eucaristia, fonte e o ápice de nossa vida cristã, encontre
eco em nossa vida cotidiana e hoje se renove com generosidade.
† Orani João
Tempesta, O. Cist. Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro,
RJ