2011-04-21 12:40:04

CRISTO SACERDOTE INSTITUI O SACRAMENTO DO AMOR


Cidade do Vaticano, 21 abr (RV) - A instituição da Eucaristia como memorial da “nova e eterna aliança” é, certamente, o aspecto mais evidente da celebração desta quinta-feira santa. Todavia, o missal romano nos convida a meditar, também, sobre dois aspectos diretamente ligados a ela: a instituição do sacerdócio ministerial e o serviço fraterno da caridade. Isso porque, na verdade, o sacerdócio e a caridade estão intimamente vinculados ao sacramento da Eucaristia, pois criam a comunhão fraterna e nos apontam para o caminho que a Igreja deve percorrer: o dom de si e o serviço.

Quando João se refere às últimas horas de Jesus com os seus discípulos e, nos “discursos da última ceia”, recolhe os temas fundamentais do seu evangelho, não menciona os gestos rituais sobre o pão e o vinho como o fazem os outros evangelistas. Convém destacar que tais gestos eram um dado antiqüíssimo da tradição e já aparecem de modo bem definido em 1Cor 11, 23-26. João, porém, prefere nos chamar a atenção para o gesto de Jesus que lava os pés dos seus discípulos e deixa a eles um último pedido, como uma espécie de testamento: entre os irmãos é preciso fazer a mesma coisa. Notem que Jesus não ordena simplesmente que repitam um rito, mas, sobretudo, que façam como ele, isto é, que em todas as épocas, em todos os lugares e em cada comunidade deve sempre haver gestos de serviço como expressão concreta de amor. Por meio de tais gestos se manifesta o amor de Jesus pelos seus (os amou até o fim). Desta forma, cada gesto de serviço, como expressão de amor, torna-se, assim, “sacramento, sinal”, isto é, uma manifestação visível e simbólica de uma única e mesma realidade: o amor do Pai em Cristo e o amor de Cristo por nós.

Na quinta-feira santa a liturgia nos apresenta como centro da memória eclesial o sinal do amor gratuito, total e definitivo: Jesus é o Cordeiro Pascal; aquele que leva até o fim o seu projeto de libertação iniciado pelo primeiro êxodo (cf. Ex 12, 1-8. 11-14). O seu doar-se, entregando-se à morte, é o início de uma presença nova e permanente. O seu corpo por nós imolado é nosso alimento e nos dá força; o seu sangue por nós derramado é a bebida que nos redime de toda culpa (Prefácio da SSma. Eucaristia I). Participar conscientemente da Eucaristia, memorial do mistério pascal de Cristo, “implica ter pelo corpo eclesial de Cristo (a Igreja) o mesmo respeito que temos para com o seu corpo eucarístico”. A presença real do Senhor morto e ressuscitado no pão e no vinho sobre os quais pronunciamos a ação de graças se estende, embora de outra maneira, à pessoa de cada um de nossos irmãos, particularmente os mais pobres (ver o contexto da segunda leitura – 1Cor 11). “Quem, portanto, faz discriminações, despreza os outros, promove ou mantém divisões na comunidade, não reconheceu o corpo do Senhor. A sua não é mais a ceia do Senhor, mas um rito vazio, uma vez que o seu significado não dá forma à sua vida concreta.”
Em cada comunidade cristã as relações que nela se estabelecem devem, portanto, ser construídas a partir da ótica do serviço e não do poder. A maior expressão disso é a ação eucarística. Quem preside a comunidade e por ela é o responsável maior, embora não único, preside, também, a Eucaristia.

O Concílio Vaticano II, ao se referir especialmente aos presbíteros, afirma: “Os presbíteros... são consagrados, à imagem de Cristo, sumo e eterno sacerdote (Heb 5, 1-10; 7,24; 9, 11-28), para pregar o Evangelho, apascentar os fiéis e celebrar o culto divino, como verdadeiros sacerdotes do Novo Testamento. Participantes, segundo o grau do seu ministério, da função de Cristo mediador único (1 Tim 2,5), anunciam a todos a palavra de Deus. Mas é no culto ou celebração eucarística que exercem principalmente o seu múnus sagrado; nela, atuando em nome de Cristo e proclamando o Seu mistério, unem as preces dos fiéis ao sacrifício da cabeça e, no sacrifício da missa, representam e aplicam, até a vinda do Senhor (cfr. 1 Cor 11,26), o único sacrifício do Novo Testamento, ou seja, Cristo oferecendo-se, uma vez por todos, ao Pai, como hóstia imaculada (cf. Heb 9, 11-28)” – cf. LG 28.

A Igreja não faz outra coisa a não ser tornar presente e atual este mistério de salvação mediante a Palavra, o Sacrifício, os Sacramentos, enquanto recebe em si mesma, pela ação do Espírito Santo, a vida do seu Senhor do qual deve ser testemunha. Desta sacramentalidade da Igreja deriva o significado essencial da consagração-missão de todos aqueles que são chamados a pregar o Evangelho, a presidir as ações de culto e a guiar do povo de Deus.

Nesta quinta-feira santa, peçamos, então, ao Senhor que ao participarmos de cada celebração eucarística, nunca nos esqueçamos do testemunho que somos chamados a dar, cada um segundo a sua condição, mediante uma vida de serviço aos nossos irmãos, particularmente aos mais necessitados.

† Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ







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