Abdijan, 20 abr (RV) - Passados nove dias após a detenção do presidente que
concluiu seu mandato, Laurent Gbagbo, e que deveria ter colocado fim na crise pós-eleitoral
em vigor desde o final de novembro, na Costa do Marfim não diminui a tensão. Particularmente
difícil a situação em Yopougon, o subúrbio mais populoso da capital econômica, Abdijan.
De acordo com o testemunho dado à agência Misna pelo Padre Hypolite Mel, pároco de
São Vicente de Paulo, em Yopougon, “a vida cotidiana ainda está bloqueada, muitas
pessoas fugiram de Yopougon buscando refúgios nos bairros mais seguros, na casa de
parentes ou amigos. Aqueles que decidiram ficar permaneceram somente para proteger
suas casas e os bens obtidos através de anos de duro trabalho duro. Estamos completamente
isolados, sem comida, falta luz e as pessoas estão com medo de sair. Os jovens patriotas
não pretendem depor as armas e são eles que ditam leis há semanas”.
“Em vista
da insegurança generalizada no bairro - disse o sacerdote - decidimos antecipar o
horário da procissão da Sexta-feira Santa para permitir que os fiéis possam voltar
para casa antes do anoitecer”. Padre Hypolite pede então em alta voz o fim dos saqueios
contra as famílias pobres e indefesas e o fim de rumores infundados e especulações
que aumentam as incertezas e pânico entre as pessoas. O sacerdote também salienta
a necessidade urgente de “deixar para trás a cultura do ódio, da vingança, e a quem
quer jogar mais gasolina no fogo”.
De fato, recorda o jovem sacerdote da Costa
do Marfim, “a nossa sociedade é fundada sobre o intercâmbio religioso e cultural entre
os povos de diversas etnias e nacionalidades: as famílias mistas entre cristãos e
muçulmanos são numerosas e é normal para nós a vivermos juntos em harmonia”. Considerando
o novo cenário político na Costa do Marfim, com a chegada ao poder do presidente eleito
Alassane Dramane Ouattara (chamado ‘Ado’), de acordo com o pároco de Yopougon, após
mais de quatro meses de queda-de-braço pelo poder, chegou o momento para “sair da
lógica da instrumentalização religiosa, cultural, étnica com fins políticos”, pois
“a Costa do Marfim poderá ser reconstruída somente com a unidade, a reconciliação,
o diálogo e a paz”. (SP)