Rio de Janeiro, 16 abr (RV) - Estamos às portas da solenidade central do ano
litúrgico, e que é central também em nossa fé: a celebração anual da Páscoa. Nós começamos
neste Domingo de Ramos a maior de todas as semanas para os cristãos. Nela nós celebramos
a paixão, morte e ressurreição do Cordeiro de Deus, Jesus Cristo, Homem e Deus. Desta
semana tão especial decorrem todas as outras celebrações da vida da fé em nossa liturgia.
Fazer Páscoa, viver bem este tempo de graça é imperativo para quem segue Jesus, fazendo
da própria vida a grande celebração ao Deus que nos criou e, chegado o ápice de sua
revelação, nos redimiu em Cristo, Senhor Nosso.
A Mãe Igreja nos apresenta
a liturgia como momento por excelência para a vivência da fé. A liturgia não é apenas
o rito em que é celebrada e, de maneira alguma um teatro acerca de coisas passadas.
Na liturgia atualizamos o Mistério celebrado. Ela transcende a nossa própria existência.
Aquilo que é divino, inefável, entra na imanência humana, do tempo e espaço, de maneira
maravilhosa e misteriosa. Em última análise é a celebração da fé, na comunidade Igreja,
que dá sentido a toda a nossa existência.
A maneira de viver a Semana Santa
é vivenciar os sacramentos, de celebrar de corpo e alma a liturgia sagrada. Experimentamos
que somos frágeis e pecadores, por isso mesmo é que necessitamos de nos aproximar
do Senhor que espera a nossa presença pródiga na vivência de seus mistérios. Aproximar-se
dos sacramentos é viver a graça de Deus, derramada abundantemente pela “aspersão do
sangue do Cordeiro”.
Outra maneira de bem viver a Semana Santa é tomar consciência
de sua importância na modificação de nossa rotina. Aquele que crê é chamado a vivamente
participar de todas as celebrações da Semana Santa com carinho e devotamento, cônscio
de que aquilo que a Igreja realiza em gestos é, na realidade, algo que a supera em
muito. Por isso mesmo é que, providencialmente, temos mais tempo com os feriados de
Semana Santa. É para termos mais oportunidade de participar das celebrações especiais,
que, por serem mais longas e em horários diferentes, deve contar com a nossa disposição
em aproveitar cada instante para mergulhar no mistério da Páscoa. Às vezes as pessoas
procuram recorrer a Deus, ir à sua Divina Presença apenas pressionado pela necessidade
ou pelos problemas. Essa postura de imaturidade na vida da fé deve nos questionar
sobre a nossa caminhada cristã: é imperioso para quem crê ir ao encontro de Deus em
todo o tempo, tanto no nosso dia a dia como especialmente na Semana Santa.
As
celebrações de que iremos participar irão, pouco a pouco, entregando para nós os sinais
que devem ter o seu significado aprofundado e renovado: ramos, profissão de fé, mandamento
do amor, santos óleos, renovação das promessas batismais, a luz da ressurreição, o
canto do Aleluia, o hino de louvor e tantos outros. O Tríduo Pascal é a grande celebração
da Páscoa, que iremos sempre renovar a cada Missa de que participamos. Cristo que
celebra a Ceia Pascal, Cristo que se entrega na Cruz, Cristo que está entre nós Ressuscitado.
Ele que é nosso alimento pela Palavra e pela Eucaristia nos reúne em comunidade para
que O testemunhemos com a nossa vida e missão.Com a sua entrega à morte de Cruz, Cristo
nos redime do pecado, como nos recorda São Paulo quando escreve que Deus predeterminou
Cristo “a servir como instrumento de expiação” (Rm 3, 25), para eliminar o pecado.
Viver a Semana Santa é, também, identificar a nossa vida ao mistério da cruz
de Cristo. O beijo na Cruz na Sexta-feira Santa será justamente a certeza de aceitarmos
o Cristo que deu a vida por nós e aceitarmos as nossas cruzes iluminadas por Ele,
sabendo que com Ele morreremos para com Ele ressuscitarmos. Morrermos ao pecado para
ressuscitados para uma nova vida. Se queremos segui-Lo, não podemos ter medo de que
nossa vivência se pareça à dele. A Semana Santa é tempo de identificarmos as cruzes
da nossa caminhada com aquela cruz evocativa que o Mestre levou sobre os ombros.
Iniciamos
a Semana Santa também com a Jornada Diocesana da Juventude! A tradição iniciada com
o Papa João Paulo II, e que aos poucos se expandiu pelo mundo com as Jornadas Mundiais
da Juventude, é celebrada em todas as Dioceses neste final de semana. Iremos aprofundar
o tema da Jornada de Madri, chamando os jovens a se aprofundarem e aprofundarem suas
raízes em Cristo Jesus para permanecerem firmes na fé diante de um mundo em constante
mudança.
É a Igreja que se renova também na participação dos jovens, sentinelas
da manhã, despertos e atentos aos sinais dos tempos para testemunharem a esperança
que os move no encontro com Jesus Cristo, nosso Senhor.
É tempo de todos nós
olharmos para os horizontes de nossas vidas e do mundo, e, diante de tantas dificuldades
e incompreensões, gritarmos que a Vida vence a Morte, e disso nós somos testemunhas!
Que
a nossa participação nos leve a viver uma Santa Semana!
D. Orani João Tempesta,
O. Cist. Arcebispo do Rio de Janeiro