Rio de Janeiro, 16 abr (RV) - Estamos chegando ao final da Quaresma. É o tempo
especial para as etapas da iniciação cristã com o rito catecumenal. Queremos valorizar
o Catecumenato como a fonte de vivência do nosso batismo neste tempo que iluminará
a celebração digna do mistério central de nossa fé – a Páscoa!
No início da
Igreja, após o primeiro anúncio (querigma), todos aqueles que pediam eram iniciados
à fé e batizados. Na segunda metade do século II, surge o catecumenato (de catecúmeno:
o que deve ouvir, o que deve ser instruído). É a preparação mais longa e com etapas
pedagógicas para o Batismo. O candidato era apresentado por um cristão à comunidade.
Seguia-se uma etapa de instrução sob a orientação de mestres ou catequistas. Após
a avaliação do candidato (escrutínios) e testemunho dos catequistas, iniciava-se a
etapa final na Quaresma. O Batismo acontecia na Vigília Pascal, quando também se recebia
a Crisma e a Eucaristia. Aliás, ainda hoje este tempo é propício para celebrarmos
o batismo, tempo de morrer para o pecado e ressuscitar com Cristo para uma vida nova.
Os que já foram batizados aproveitam para renovar na Vigília Pascal os seus compromissos
batismais.
No que diz respeito ao ritual do catecumenato e numa visão concreta
das etapas e os detalhes fornecidos, pela Tradição Apostólica, nos permitem uma percepção
muito real da vida da comunidade primitiva. Longe de solicitar a alguém para entrar,
quase os forçando, percebe-se o rigor das exigências evangélicas tomadas como condição
para a admissão no catecumenato e o ingresso efetivo na comunidade.
Assim,
as renúncias a Satanás e a tudo que o representa não eram palavras vazias. Significavam
conversão real para um novo tipo de relação do candidato à vida em igreja, com as
solicitações sociais, ocasiões de pecar e os costumes pecaminosos. A prolongada preparação
(três anos) permitia verificar se os comportamentos eram realmente de convertidos.
Os sinais deveriam aparecer concretamente. Nos atuais tempos, em que não se nota
o amor a Cristo e à Igreja, mais do que nunca temos necessidade de um tempo de aprofundamento
de nossa vida de fé para a professarmos com a vida.
Em época de tanto sincretismo,
a Igreja não podia antes e não pode hoje contentar-se com minicristãos, semiconvertidos.
A tarefa de dar testemunho é algo sério. Não admite uma fé apenas interior, nem uma
religião conforme os moldes de cada indivíduo. O estilo de vida e até mesmo a profissão
devem ser condizentes com a prática do Evangelho, testemunho diante de todos.
O
catecumenato era um dos grandes pilares da Igreja antiga, a educação da fé de adultos.
Havia todo um cuidado com a iniciação desses adultos na vida cristã em comunidade.
A
denominação “catecúmeno” era dada especificamente aos que se preparavam para o Batismo.
Trata-se de alguém que entra na dinâmica de deixar a Palavra de Deus fazer eco dentro
de si, o que é possível através de atitude de atenção, escuta da vida à Palavra de
Deus. O objetivo do catecumenato é de aprofundar a fé, como adesão pessoal a Jesus
Cristo e ao que Ele revela, adesão dada como consequência do querigma.
Hoje,
além de recomeçar com o trabalho a Iniciação Cristã para jovens e adultos, a formação
permanente do cristão deve conduzi-lo a uma maturidade de fé que o faça renovar suas
promessas batismais e a testemunhar a vida cristã na sociedade. Recordemos de Paulo
VI que nos lembrou de que os homens de hoje escutam muito mais as testemunhas e os
mestres, e se escutam os mestres, é porque são testemunhas.
† Orani João Tempesta,
O. Cist. Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ