Cidade do Vaticano, 09 abr (RV) - A grandeza e a dignidade cristãs de um país
pequeno e pobre, habitado por pessoas livres, exatamente por isso chamado Libéria!
Neste últimos dias a Libéria, país africano com pequenas dimensões geográficas
e com uma população ao redor dos 4 milhões de habitantes, não colonizada por europeus
e de religião que segue crenças tradicionais, está dando ao mundo cristão, particularmente
ao rico Ocidente, um testemunho de que acolher os nús e partilhar o próprio teto e
pão está no âmago do ser humano, daqueles que de fato sentem-se e são imagem do Criador.
Esse pequeno país africano está acolhendo cerca de 150 mil refugiados oriundos
da martirizada Costa do Marfim. Segundo o Presidente do Pontifício Conselho da Pastoral
para os Migrantes e o Itinerantes, Arcebispo Antonio Maria Vegliò: “A população local
está dando mostra de uma extraordinária solidariedade. Está acolhendo os refugiados
em suas casas, dividindo o alimento a ponto de não ter o suficiente para eles mesmos,
sofrendo, assim, as consequências.
A África, continua o prelado, nos dá o
exemplo da capacidade de acolhimento, de aceitação do outro na dificuldade, com espírito
evangélico. Provavelmente não são cristãos, mas se sentem africanos, acostumados –
talvez na pobreza – a ajudar quem é mais pobre ainda.”
Enquanto isso, países
ditos cristãos fecham suas portas aos refugiados africanos e, infelizmente, já se
torna rotina os naufrágios de embarcações frágeis nas portas da cristã Europa.
Mais
chocante ainda, é pensar que tais nações ricas da Europa foram no passado países de
emigração que hoje negam aos chamados “extracomunitários” o direito inalienável de
buscar alhures melhores condições de vida. É triste pensar que muitas dessas nações
que hoje batem as portas aos desesperados são as mesmas que no passado subjugaram
os ancestrais desses povos colonizando-os de forma violenta, espoliando-os de suas
riquezas durante séculos. No que diz respeito à África, é ainda mais dramática quando
tais países europeus escreveram contra esses povos sofridos a vergonhosa página da
escravidão que durou séculos.
No que diz respeito ao naufrágio desta semana
no Mar Mediterrâneo, Dom Vegliò afirmou, ainda: "Em primeiro lugar, desejo expressar
a minha profunda tristeza pelo trágico naufrágio – nesta quarta-feira – da embarcação
que transportava cerca de 300 pessoas, não se sabe com precisão: homens, mulheres
e crianças em fuga da África.
Continua Dom Veglió: “As condições proibitivas
do "nosso Mar" ceifaram o sonho deles, como o de outros que atravessam essa encruzilhada
do desespero. Infelizmente, a opção do transporte via maris – cujas embarcações
são comumente administradas por contrabandistas e traficantes sem escrúpulos – é uma
alternativa extrema ditada pela impossibilidade de utilizar outros meios, vez que
há tempos os países europeus fecharam as fronteiras, introduzindo normas restritivas
sobre a entrada desses pobres filhos de Deus."
E agora nos perguntamos: Quem
testemunha a entrega radical de Jesus Cristo? Aqueles que racionalizam o que deve
ser feito em relação ao carente? Ou aqueles que se deixam tocar pela dor do outro
e acolhem sem medir, sem calcular esforços, mas apenas deixando o coração agir, sendo
sensíveis à dor do próximo?
Recordemos que na parábola do Bom Samaritano, quem
acolheu e gastou tempo com o assaltado foi um samaritano, um excluído, enquanto que
o levita e o sacerdote estavam por demais ocupados para interromper seu caminhar.
Que
a Quaresma nos torne livres, nos arranque tantas preocupações que nos impedem de seguir
os conselhos evangélicos.
Para concluir, creio oportuno recordar as palavras
do bispo e mártir do Séc. II, Santo Inácio de Antioquia: “É melhor ser cristão sem
dizê-lo, do que dizer sem sê-lo”. Quaresma é tempo de conversão. Pensemos nisso...