Campanha, 02 abr (RV) - Encontramos no episódio da cura do cego(Jo 9,1-41),
dois processos. Primeiro, a progressiva “iluminação” do cego, cada vez mais penetrante
em sua visão sobrenatural. Jesus manda o cego lavar-se em uma piscina chamada Siloé,
que significa “Enviado”. “Enviado”, segundo o próprio evangelista, é o apelido legítimo
de Jesus. Esse fato aponta para um dos sentidos mais profundos da passagem: quem mergulha
no “Enviado” recupera a visão. Essa visão não é somente física, mas também espiritual.
Quem mergulha em Cristo, o “Enviado”, renasce para uma vida nova. Como a samaritana,
gradualmente o cego vai crescendo no conhecimento de Jesus de um “homem” chamado Jesus,
progrediu para o discernimento mais profundo do seu caráter como profeta, “um homem
de Deus”, como o “Filho do homem” que veio do céu, até culminar na profissão de fé
de que Jesus é o “Senhor”. Na experiência do cego, essa evolução coincide com o processo
de iniciação no caminho de Jesus. São passos do catecúmeno em direção à fé. O segundo
processo é a progressiva cegueira das autoridades, que insistem em não compreender
e em não ver. Os que têm a certeza de que enxergam são, na verdade, cegos, e o são
por escolha própria. O que nasce cego arrisca-se diante da ação e da ordem de Jesus
e começa a ver. Ele passa da cegueira à visão e dela ao discernimento. O processo
da "iluminação" do cego e da "cegueira" das autoridades reflete a polêmica histórica
entre judaísmo e cristianismo. Os judeus haviam decidido expulsar da sinagoga todos
aqueles que confessassem que Jesus é o Cristo. O evangelista inclui este capítulo
em seu evangelho para encorajar os seguidores de Jesus. Hoje, em outras circunstâncias
históricas, o relato não perde seu valor revelador. Na Igreja primitiva, o Batismo
era conhecido como “iluminação”. A cura do cego tornou-se uma parábola da iluminação
batismal. O batizado é um iluminado que tem os olhos abertos por Cristo no banho em
seu nome. A imagem de Deus como luz sempre esteve presente na vida do povo. No
Antigo testamento, Deus sempre caminhou à frente do grupo que escolhera. A coluna
de fogo ia iluminando os passos dos hebreus no deserto. Os profetas sempre apontavam
um caminho cheio de luz para um povo que andava nas trevas. Neste domingo “Laetare”
tenhamos a graça de nos iluminarmos da luz de Cristo! Todos nós devemos nos colocar
no caminho da passagem das trevas para a luz, fazendo-nos catecúmenos, deixando-nos
iluminar pelo Cristo e por seu Espírito, retomando o propósito da conversão e do amor
concreto como exigência batismal. Padre Wagner Augusto Portugal Vigário Judicial
da Diocese da Campanha(MG)