Rio de Janeiro 1º abr (RV) - O tempo da Quaresma, como momento de renovação
da vida cristã através do itinerário batismal que o envolve, é um bom momento de salientar
a importância da Iniciação Cristã em nossa caminhada eclesial. A nossa Arquidiocese
já assumiu como sua opção catequética esse itinerário para a iniciação à vida cristã
dos jovens e adultos e, inclusive, já publicamos em segunda edição um diretório especial
para esse trabalho, que queremos que seja sempre mais implementado. O Bispo é o
primeiro catequista em sua Igreja Particular em função do múnus episcopal de ensinar.
Vamos nos deter até a Páscoa em trabalhar um pouco, como catequese quaresmal, em preparação
para a Ressurreição do Cristo Redentor. Na pedagogia catequética entendemos por
Iniciação Cristã o processo prolongado no tempo, no qual a conversão evangélica se
exercita para adequar sua vida ao estilo do Evangelho, em fidelidade à iniciativa
divina. Hoje, uma catequese de Iniciação Cristã necessita aprofundar os gestos e os
passos do caminho de Jesus. Ele viveu em obediência à vontade do Pai, em uma opção
radical e absoluta, chamada Reino de Deus. Portanto, no processo catequético, é fundamental
recuperar a centralidade do Jesus histórico, o Deus encarnado que se fez pobre e sofredor
por amor a nós, e que se dedicou totalmente a construir o Reino de Deus. A Iniciação
Cristã tem no catecumenato um princípio de inspiração e um modelo ainda vigente, sobretudo
por seu caráter processual e integrador. Ela procura levar as pessoas em um processo
claro, que culmine em uma profunda adesão ao Senhor por meio da conversão, e, consequentemente,
a ‘uma autêntica inserção na comunidade cristã. São muitos os cristãos que não são
membros vivos da Igreja, nem são autênticos discípulos do Senhor. Por isso, é necessário
optar mais decididamente pela criação de processos de iniciação para formar catequizandos
conscientes de sua missão junto à Igreja. Desde o Concílio Vaticano II, o Magistério
tem nos convidado, reiteradas vezes, a retomar a inspiração catecumenal, adaptando
este processo às diferentes idades, ambientes, realidades sócio-religiosas e culturais
para responder aos desafios de uma nova catequese, na qual o catequizando seja o sujeito
de sua fé. Os diferentes processos adaptados devem ter em comum certas etapas
do processo evangelizador que levam as pessoas a uma crescente adesão a Jesus na Igreja.
Segundo o Diretório Nacional de Catequese nos números, 47-48, essas etapas da tradição
catecumenal são: Testemunho, Querigma, Catequese, Vida Comunitária, Sacramentos e
Missão, que costumam ser articuladas em etapas: etapa de ação missionária, etapa de
ação catecumenal, etapa de ação pastoral e de presença no mundo Estas etapas não
acontecem necessariamente de um modo linear, nem são circunscritas em um tempo preciso,
mas se caracterizam melhor por serem dinâmicas, processuais e circulares. Como são
muitos os batizados não convertidos, assim uma catequese missionária prévia é necessária.
Pode-se dizer, também, que são etapas que devem se cumprir nessa ordem para que haja
uma sequência no amadurecimento da fé que a Igreja promove a seus filhos. Nas condições
reais da Igreja, é fundamental uma renovação e atualização da catequese que incorpore
dimensões essenciais, por tempo esquecidas. Os modelos atuais de catequizar são chamados,
sobretudo, a assumir a Palavra de Deus lida em comunidade, como princípio fundante
de toda a catequese. Essas dimensões essenciais são: a leitura contínua dos sinais
de Deus na história; uma catequese de caráter missionário que leve o catequizando
a fazer uma opção clara a favor do processo de iniciação para quem o necessite e dar
atenção à catequese de adultos como modelo de toda catequese; o emprego de uma linguagem
que nossa geração entenda; a prioridade do anúncio do querigma que convida à conversão;
a celebração alegre da fé, unida ao testemunho; e a profética opção preferencial pelos
pobres. Tudo isso propiciará a renovação das pessoas e o renascimento de comunidades
marcadas pela conversão como eixo central do itinerário cristão. Nas palavras da Conferência
de Puebla, no número 1000, trata-se de desencadear um processo para formar homens
e mulheres “comprometidos pessoalmente em Cristo, capazes de comungar e de participar
no seio da Igreja e dedicados ao serviço salvífico do mundo”. O Reino é, ao mesmo
tempo, pessoal e social, histórico e escatológico, estrutural e espiritual. Estas
dimensões precisam ser assumidas de forma plena para não empobrecer sua natureza evangélica.
A Iniciação Cristã é a resposta para o hoje de nossa Igreja, fazendo com que a comunidade
cristã seja verdadeiramente evangelizadora e que a catequese seja um espaço e âmbito
de inculturação. Assim, o catequizando será iniciado na fé como discípulo missionário
de um modo integral. Além disso, a Iniciação Cristã irá revigorar a vocação do catequizando
e sua co-responsabilidade para com a Igreja-comunhão, bem como sua co-responsabilidade
para com a Igreja-missão e também seu compromisso a serviço da pessoa e da sociedade.
† Orani João Tempesta, O. Cist. Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do
Rio de Janeiro, RJ