2011-03-28 19:50:18

Comemoração das Vítimas da Escravatura e do Tráfico Negreiro: por uma Humanidade Nova


O dia 25 de Março é Dia de Memória das vítimas da Escravatura e do Tráfico Negreiro. Trata-se de recordar os cerca de 42 milhões de seres humanos, arrancados ao continente africano e deportados para outras paragens. Entre o século XVI e meados do século XIX, três foram os principais destinos desses irmãos e irmãs na humanidade, infelizmente transformados em autenticas mercadorias nas mãos daqueles que os comercializavam: o mundo árabe muçulmano, alimentado pelo tráfico oriental, o espaço intra-africano, alimentado pelos circuitos interiores à África que reexportavam para o exterior e, por fim, as Américas.

São essas vítimas anónimas e desconhecidas que a Organização das Nações Unidas querem manter vivas na memória da Humanidade. Aliás, vai também neste sentido a evocação feita pelo Papa João Paulo II por ocasião da sua peregrinação à ilha de Goré no âmbito da sua visita pastoral ao Senegal em 2002. Definindo a ilha “santuário da dor negra”, o Papa falou desses nossos irmãos em termos de vítimas desse “hediondo comercio” e exclamou:
Como esquecer os enormes sofrimentos infligidos, no desprezo dos mais elementares direitos humanos, às populações deportadas do continente africano? Como esquecer as vidas humanas exterminadas pela escravatura?

Tudo isto para dizer que o mundo assumiu um dever de memória em relação a esses seres reconhecidos como irmãos e irmãs na humanidade.

Seguindo as pegadas do futuro bem-aventurado, amigo da África, os representantes das conferências episcopais de todo o continente, assim como uma delegação de bispos dos Estados Unidos da América deslocaram-se, em 5 de Outubro de 2003, a Goré para se recolher na Casa dos Escravos e prestar, assim, homenagem à memória das vítimas de todos os tráficos e da escravatura. Foi um acto profético e histórico. Fizeram uma celebração penitencial de Purificação da Memória e pediram perdão pelo papel que a África desempenhou nesse drama humano. No fim desse acto que se concluiu com uma Missa de Ressurreição, os bispos dirigiram uma mensagem - não só ao continente africano, mas ao mundo inteiro - intitulada “Purificação da Memória: por uma Humanidade Nova”.

Também o Papa João Paulo II implorou o perdão dos Céus para “esse crime hediondo” e convidou os cristãos a observarem fielmente o mandamento do amor fraterno. A mensagem convidava também os cristãos africanos, a fazerem pessoalmente o mesmo percurso confessando a parte do pecado da África nesse ignóbil comercio de seres humanos, a converterem-se e a trabalhar activamente na construção duma Humanidade Nova.

Ainda nessa mensagem, o episcopado africano denunciou e condenou as novas formas de tráfico e de escravatura como a prostituição, o turismo sexual, o comercio de crianças, o recrutamento de crianças e adolescentes em guerras fratricidas e todas as formas de exclusão étnica, tribal, regionalista que minam as sociedades africanas.

Esta comemoração anual por parte da ONU quer, portanto, manter viva a memória “duma civilização que se dizia cristã” a fim de que “desapareça para sempre este flagelo da escravatura e as suas sequelas”, como tinha fortemente exortado João Paulo II.

A jornada anual do 25 de Março deve, portanto, ser uma ocasião para viver concretamente esses apelos e exortações a fim de construir uma Humanidade Nova.








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