Papa lembra vítimas do nazismo e condena a ofensa «gravíssima» a Deus que é a violência
do homem sobre o homem
(27/3/2011) Bento XVI visitou na manhã deste domingo, as Fossas Ardeatinas, em Roma,
recordando o massacre levado a cabo pelas forças nazis em 1944, que considerou uma
ofensa “gravíssima a Deus”. O chamado massacre das Fossas Ardeatinas, nos arredores
da capital da Itália, aconteceu a 24 de Março de 1944, data em que 335 civis e militares
italianos, vários deles judeus, foram fuzilados pelas forças alemãs em represália
pelo atentado que matou 33 soldados germânicos. “Aquilo que aconteceu a 24 de Março
de 1944 é uma ofensa gravíssima a Deus, porque é a violência deliberada do homem sobre
o homem, é o efeito mais execrável da guerra, de qualquer guerra, porque Deus é vida,
paz e comunhão”, afirmou. O Papa agradeceu o convite da “associação nacional das
famílias italianas dos mártires caídos pela liberdade da pátria” para esta visita,
na qual quis "rezar e reavivar a memória". Bento XVI citou a oração de um dos mortos,
que rezou pelos judeus, encontrada nas celas de tortura, assinalando que “naquele
momento tão trágico, tão desumano, havia no coração daquela pessoa a invocação mais
alta" - «Deus, meu grande Pai»” -, como “garantia de um futuro diferente”, livre
do “ódio e da vingança”. “Seja qual for o povo a que pertença, o homem é filho
do Pai que está no céu e irmão de toda a humanidade”, disse. Num “doloroso memorial
do mal mais horrendo”, o Papa convidou todos a “dar as mãos como irmãos”. "É preciso
acreditar no Deus do amor e da vida, rejeitando qualquer outra falsa imagem divina,
que atraiçoa o seu santo Nome e trai, como consequência, o homem feito à sua imagem",
indicou. Bento XVI leu ainda uma inscrição encontrada na parede das celas - «Creio
em Deus e na Itália» -, destacando que a mesma “afirma o primado da fé, da qual se
tira a confiança e a esperança para a Itália e o seu futuro”. Recebido no local
por autoridades políticas e religiosas, incluindo o rabino chefe de Roma, Riccardo
Di Segni, para além de várias dezenas de pessoas, incluindo familiares das vítimas,
o Papa percorreu os espaços onde se deu o massacre e rezou em silêncio, lembrando
os que ali morreram. Joseph Ratzinger, o Papa Bento XVI, nasceu em Marktl am Inn,
Alemanha, no dia 16 de Abril de 1927 e nos últimos meses da II Guerra Mundial foi
incorporado, pelo alistamento obrigatório, nos serviços auxiliares anti-aéreos do
exército alemão, do qual acabaria por desertar. Entre os mortos de Roma estava
o pai do hoje cardeal Andrea Cordero Lanza di Montezemolo, o qual revelou à Rádio
Vaticano que este é um momento “comovente” destacando a “simplicidade e humildade”
do Papa alemão diante de “certas páginas da história”. O cardeal perdeu o seu pai
quando tinha 18 anos e confessa que para si não se tratou de uma “ferida” mas de uma
“amputação”, algo que não se pode mudar. O local tinha sido visitado pelos Papas
Paulo VI, em 1965, e João Paulo II, em 1982.