Juiz de Fora, 26 mar (RV) - No terceiro domingo da Quaresma, celebramos a memória
do amor que Deus tem para conosco pelo fato de Cristo ter morrido por nós, pecadores.
Por meio da fé fomos justificados por Deus e ficamos em paz com Ele por meio de Nosso
Senhor Jesus Cristo. Mas a sede da humanidade revela que ainda somos envolvidos por
preconceitos de sexo, raça e religião. Queremos beber do poço que é Jesus, pois Ele
é o dom que Deus nos concedeu. Com Ele, caminhamos da escravidão para a liberdade,
na certeza de que Deus é aquele que está no meio de nós.
A samaritana do evangelho
não tem nome, mas certamente vários nomes lhe foram impostos por ter tido cinco maridos
e conviver com o sexto, que não é seu marido e, apesar disso, continuar com sede da
água que só Jesus, esposo da humanidade, pode dar. Os cinco maridos podem ser tomados
simbolicamente (cinco divindades ou valores efêmeros que a humanidade cultua), e o
sexto seria o próprio Javé transformado em ídolo (numa linguagem simbólica de Oséias).
Os samaritanos aguardavam um messias diferente do esperado pelos judeus. Ao preconceito
racial era acrescentado o religioso. Jesus acaba com esses preconceitos, mostrando
que a época dos templos chegou ao fim, pois Ele é o novo santuário de onde brota o
Espírito fiel: “Está chegando a hora, e é agora, em que os verdadeiros adoradores
vão adorar o Pai em Espírito e verdade. E, de fato, estes são os adoradores que o
Pai procura”.
Os discípulos de Jesus continuam presos à mentalidade judaica
que discrimina pela raça, sexo e religião. O verdadeiro discípulo - início da comunidade-esposa
de Jesus Messias - é a samaritana que, depois de abandonar o balde, anuncia aos habitantes
da cidade seu encontro com um homem, levando as pessoas a conhecê-lo.
O diálogo
com os discípulos mostra que o alimento de Jesus, sua nova lei, é levar a termo a
criação do Pai, restabelecendo a harmonia perdida pela autossuficiência humana. Jesus
é, ao mesmo tempo, o semeador do projeto de Pai e o trigo a ser semeado.
A
experiência da mulher conduziu as pessoas a Jesus e fez deste o hóspede dos samaritanos.
Agora, porém, eles não precisam mais do testemunho dela, pois sabem que Jesus é realmente
o salvador do mundo, a água para a nossa sede.
+ Eurico dos Santos Veloso Arcebispo
Emérito de Juiz de Fora (MG)