2011-03-17 12:07:49

A identidade nacional italiana radica-se na tradição católica: Bento XVI em mensagem ao Presidente Napolitano sobre os 150 anos do Estado unitário


A Itália celebra neste dia 17 de Março 150 anos de existência como Estado unitário. Neste ocasião, Bento XVI dirigiu ao Presidente da República, Giorgio Napolitano, uma mensagem que o cardeal Secretário de Estado Tarcisio Bertone, deslocando-se ontem ao palácio presidencial, entregou pessoalmente ao chefe de Estado.

A mensagem constitui uma intensa e profunda reflexão sobre o contributo que o cristianismo deu à construção da identidade italiana. Uma contribuição – recorda Bento XVI – iniciada já na Idade Média através da educação, de actividades assistenciais, da arte e do exemplo de grandes Santos como São Francisco de Assis e Santa Catarina de Siena.

Essa contribuição da Igreja e dos crentes continuou depois, mesmo na época em que algumas partes da península italiana estavam sujeitas a potências estrangeiras. Aliás - sublinha o Papa – foi graças a essa identidade cristã que a nação italiana pôde subsistir, mantendo plena consciência de si própria”. Por isso – afirma a sua mensagem ao Presidente da República Italiana – a unidade da Itália ocorrida na segunda metade do século XIX constituía o “desemboco politico natural de uma identidade nacional forte e radicada”.

Bento XVI passa depois a falar do chamado “Risorgimento” que conduziu directamente à constituição da unidade italiana, período hostil à Igreja e ao catolicismo. Sem negar o papel de linhas de pensamento marcadas pelo laicismo, o pontífice observa que não se pode contudo ignorar o contributo do pensamento – e mesmo de acções – dos católicos para a formação do Estado unitário italiano. A este respeito recorda figuras como Gioberti, Rosmini, Manzoni e São João Bosco. A mensagem de Bento XVI enfrenta assim o delicado tema da chamada “Questão Romana” (oposição entre Igreja e Estado no contexto da unificação da Itália) e os seus efeitos dilacerantes na consciência individual e colectiva dos católicos italianos”. Estes ficavam, de facto, perturbados e dilacerados entre o sentimento de fidelidade à nascente nação e a própria pertença à Igreja.

A mensagem faz notar que, não obstante o confronto que se viveu entre Igreja e Estado depois da unificação da Itália, tal conflito não afectou o corpo social, pois a sociedade italiana caracterizava-se por uma “profunda amizade entre comunidade civil e comunidade eclesial”. E isto porque a identidade nacional italiana “está fortemente enraizada em tradições católicas”. De resto – recorda ainda o Papa – na sequência da abstenção da vida politica por parte da Igreja, os católicos trataram de assumir seriamente as próprias responsabilidades sociais em benefício da coesão e solidariedade de toda a sociedade.

O Papa recorda ainda que com a assinatura do Pacto de Latrão – a Concordata - que passou a regular as relações entre a Santa Sé e o novo Estado italiano com Roma por capital, abriu-se para o Papado uma nova e ainda mais fecunda estação da sua missão universal.

No que toca à Itália, Bento XVI põe ainda em evidência o contributo fundamental dos católicos na elaboração da nova Constituição Republicana de 1947. A partir daí – acrescenta – teve início um significativo empenho dos católicos italianos na vida politica, económica e social em favor do crescimento do país. A este respeito o Papa cita, com palavras comovedoras, o “testemunho no sangue” dado com a própria vida por políticos como Aldo Moro e Vitorio Bachelet, símbolos duma “absoluta fidelidade ao Estado e de dedicação ao bem comum” da parte de católicos italianos.

Bento XVI refere-se também ao contributo actual da Igreja no apoio a pessoas marginalizadas, alimentando a sociedade com os valores morais essenciais a favor do crescimento duma sociedade democrática, justa e ordenada

A revisão da Concordata em 1984 – recorda – contribuiu largamente para a construção duma sã laicidade, que caracteriza o Estado italiano e o seu sistema jurídico. Uma laicidade que, como põe em evidência o Concilio Vaticano II, exorta a Igreja e a comunidade política a colaborar para o bem da sociedade civil. Sociedade civil, à qual a Igreja não só dá, mas da qual recebe também – reconhece o Papa, pondo em relevo a peculiaridade e o privilégio que a Itália tem pelo facto da sua capital, Roma, incluir no seu seio o Vaticano, lugar a partir do qual o Sucessor de Pedro, exerce, com soberania, a sua missão universal.








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