Década da Mulher Africana ainda não chegou à Diáspora
Quando se fala com a Directora do Departamento Gender da União Africana acerca da
Década da Mulher da África, lançada pela UA em Outubro de 2010, o seu rosto ilumina-se.
Para Litha Ogana o facto de os Chefes de Estado e de Governo da África terem aceite
fazer da questão da mulher uma prioridade, é uma grande conquista. Isto é, as mulheres
conseguiram fazer compreender aos homens que não respeitar os direitos da mulher e
excluí-las do processo de desenvolvimento é prejudicial para toda a África. Então,
um dos objectivos da Década é comemorar esta e outras conquistas.
Mas a mulher
em África está ainda longe de chegar a uma plena igualdade de direitos e de oportunidades
com o homem. Segundo um relatório publicado no dia 9 de Março na África do Sul pela
CIVICUS, World Aliance for Citizen Participation, as africanas estão ainda confrontadas
com profundas normas patriarcais e expostas a um risco crescente de assedio sexual
e de violência, o que dificulta enormemente a sua participação na vida social para
o bem de todos.
Há então que enfrentar todos estes desafios. E este é o segundo
grande objectivo da Década da Mulher Africana, que pretende também partilhar as boas
práticas a nível do Continente no que toca à questão feminina – explica Litha Ogana,
acrescentando que as Ministras africanas que pressionaram os seus homólogos da UA
no sentido de aprovarem a Década, exprimiram o desejo de que as actividades da mesma
abranjam, antes de mais, as mulheres da base e se desenvolvam a nível de cada país
e de cada uma das regiões da África.
Ora, a Diáspora foi reconhecida pela UA
como a sua sexta região. Mas a julgar pelo caso da Itália, a notícia da Década não
chegou ainda à Diáspora. Por ocasião do recente Dia internacional da Mulher a rubrica
semanal “Áfrofonia” da Rádio Vaticano interpelou três figuras femininas africanas
de relevo na Itália (uma moçambicana, uma cabo-verdiana e uma congolesa) activas,
de várias formas, no mundo profissional e associativo africano e nenhuma delas estava
ao corrente desta iniciativa da UA. Mas logo assim que tomaram conhecimento disto,
todas acharam que se trata duma iniciativa louvável e manifestaram grande expectativa
em relação a ela: “era tempo que isto acontecesse”; “permitirá trazer a público e
dar o justo valor ao importante papel que a mulher desempenha na família africana,
e como conselheira do homem, ma fiicando sempre na retaguarda”; “as mulheres da diáspora
têm muito a exprimir; acumularam grandes experiencias que devem poder confrontar com
as mulheres no Continente” – disseram as três interpeladas, esperando que a UA não
se esqueça da sua sexta região em tudo o que diz respeito a esta Década. Recomendam
também que se crie um sistema de acompanhamento e avaliação da Década para que os
seus frutos não sejam magros, como acontece, muitas vezes, com as iniciativas da UA.
Nesta mesma linha vão também as palavras do investigador cabo-verdiano na
área da cultura, Tomé Varela da Silva, admirador da Mulher que, a seu ver é superiora,
em vários aspectos, ao homem. Embora considerando positiva a Década lançada pela UA,
Tome Varela da Silva considera, contudo, que é a própria mulher que deve continuar
a levar avante a luta de auto-libertação a que deu início há já bastante tempo. A
UA – diz - deve quanto a ela, auto-definir-se melhor e não ficar só por atitudes e
iniciativas cosméticas. Oiça directamente as palavras deste intelectual cabo-verdiano,
clicando no altofalantezinho
E a Igreja
católica em África? Estará a par desta Década da Mulher proclamada pela UA? Durante
a Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a África, realizada no Vaticano em
Outubro de 2009, foi lançada a ideia de o SCEAM, Simpósio das Conferências Episcopais
da África e Madagáscar, negociar um assento como observador junto da UA para fazer
ouvir a voz da Igreja nas grandes decisões africanas que são tomadas nessa instituição
panafricana. E conforme afirmações feitas à Rádio Vaticano em Julho passado por D.
Francisco João Sílota, na altura um dos vice-presidentes do SCEAM, as negociações
neste sentido estavam a caminhar bem.
Estará, então, o SCEAM a procurar integrar-se,
de algum modo, nesta Década, ou estará a levar avante alguma importante iniciativa
por conta própria sobre a mulher?
Durante o Sínodo acima mencionado, diversos
bispos e auditores puseram em relevo a importância da vida da mulher na Igreja e a
necessidade de lhe dar cada vez mais espaço na Igreja e na sociedade em pé de igualdade
com o homem. Houve também – referiu na altura aos nossos microfones D. Manuel António
dos Santos, bispo de São Tomé e Príncipe – um esforço de purificação da linguagem
que reflecte, muitas vezes, um certo machismo a que a Igreja, como diversos outros
sectores da sociedade, não escapa. Na opinião do prelado, a Igreja reconhece hoje
os direitos da mulher e aprecia os documentos que os consigna como por ex. o Protocolo
de Maputo. Só tem algumas reservas em relação às ideologias que às vezes estão por
detrás desses documentos e que vão contra a vida e contra algumas especificidades
femininas relacionadas com o seu ser mãe e esposa. A questão da mulher constituiu
um dos pontos quentes da consulta pós-sinodal "Um novo Pentecostes para a África",
realizada na capital moçambicana em Maio do ano passado por iniciativa do SCEAM e
da Cáritas África. As conclusões indicavam que no espaço de três meses o SCEAM debruçar-se-ia
sobre o assunto. E pelas notícias que temos, em Janeiro houve uma reunião neste sentido
e elaborou-se um plano de acção que está agora a ser examinado por um comité restrito
criado para o efeito. Depois competirá ao Comité Permanente do SCEAM aprová-lo e torná-lo
público. Não resta, portanto, que aguardar esse indispensável contributo da Igreja
à evolução positiva da mulher em África nesta Década (2010-2020) que lhe é dedicado
e que deverá contribuir, de forma geral, para o progresso integral do Continente.