Kuala Lumpur, 14 mar (RV) A maior organização Cristã da Malásia – país predominantemente
muçulmano – diz que está "farta" das recusas do governo em aprovar a distribuição
de ao menos 30 mil bíblias. A organização argumenta que essa atitude é uma afronta
à liberdade religiosa, num raro protesto da Federação Cristã da Malásia. Esses eventos
também seriam um sinal da crescente intolerância para com as minorias religiosas proveniente
de uma medida antiga do governo de proibir que o termo "Alá" seja escrito como tradução
de "Deus" em textos religiosos na língua malaia.
O presidente da Federação,
Bispo Moon Hing, disse que as autoridades bloquearam a saída de 30 mil exemplares
da bíblia em malaio que estão no porto da ilha de Bornéu. Esta é a última tentativa
dos cristãos em importar bíblias, particularmente da Indonésia, depois de algumas
tentativas falhas. Segundo o Bispo Moon Hing, para as bíblias escritas em língua inglesa
não existem restrições.
A Federação emitiu um comunicado no qual diz que os
cristãos estão muito desiludidos, cansados e irritados com tantos embargos às bíblias.
O texto segue dizendo que as autoridades estão conduzindo um programa, repetitivo
e sistemático, contra os cristãos na Malásia ao não permitir a eles o acesso à bíblia
na língua malaia.
O Ministro do Interior da Malásia não respondeu ao comunicado.
Em situações similares, no passado, o governo admitiu haver a proibição, mas argumentou
que fora uma falha do importador que não cumprira certas formalidades. Na realidade,
o problema está na posição do governo que diz que o uso do termo "Alá" em textos que
não são muçulmanos pode gerar confusão e até levar a uma conversão ao Cristianismo.
Na Malásia, quase dois terços - num universo de 28 milhões de pessoas - são muçulmanos,
enquanto 25% são chineses e 8% indianos. As minorias religiosas são compostas por
cristãos, budistas e hindus.
Em dezembro de 2009, o tribunal determinou que
os cristãos têm o direito constitucional de usar o termo "Alá". O governo apelou do
veredito, mas até hoje nenhuma audiência foi marcada. Outra decisão a favor dos cristãos,
em janeiro de 2010, causou tensões e raiva de muçulmanos extremistas. À época onze
igrejas foram atacadas. A Igreja republicou o dicionário Latim-Malaio, cuja primeira
edição fora publicada há 400 anos, para provar o uso ancestral da palavra "Alá" no
contexto cristão na Malásia. (RB)